Abertura do Simpósio Forró discute a reconfiguração do ritmo em meio ao mercado cultural

Campina Grande, 28 de maio de 2019  ·  Escrito por Bruna Martins, Ingrid Donato e Talita Pontes  ·  Editado por Mateus Almeida  ·  Fotos de Iara Lima

Na manhã de ontem, ocorreram a abertura do Simpósio Forró e o lançamento do Repórter Junino 2019, ambos coordenados pelo professor Fernando Firmino. O evento contou com a presença do reitor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Antônio Rangel Júnior, que é cantor e compositor, de Jurani Clementino, professor e escritor, e Rosália Lucas, Secretária de Desenvolvimento Social e Econômico de Campina Grande.

A sanfona é um dos instrumentos que dão vida ao tradicional ritmo do São João 

A primeira mesa redonda do Simpósio Forró foi moderada pelo professor Rostand Melo, com o tema “Eu só quero um forró (o ritmo do forró no sítio, no urbano e no mundo) “ e os convidados puderam discutir o assunto de forma ampla e abrir espaço para perguntas do público.

Em conversa com a nossa reportagem, Rangel Junior, que também é compositor, lamentou que apenas estudantes do curso de jornalismo estivessem no evento cultural que se estendia a toda UEPB. “A universidade é um local que deve levar a reflexão sobre a cultura do povo e que essas conclusões conduzam a formação de opinião dos estudantes”, contou.

O reitor falou também sobre o esquecimento do forró raiz e no quanto as músicas das atuais bandas de forró deturpam o ritmo e, de acordo com ele,  trazem letras que em nada tem a ver com aquelas que embalavam os festejos juninos antigamente.

O reitor Rangel Junior participou das discussões sobre cultura e forró

O Simpósio Forró contou com a participação por meio de videoconferência de Carlos Frevo, o organizador do festival “Psiu! Forró”, que celebra o forró-cultura e acontece durante um final de semana inteiro, em Berlim. Ele ressaltou a importância do forró na sociedade e o interesse do público europeu no ritmo. “Na Europa, as pessoas curtem a música tradicional,  como a do artista Flávio José”, afirmou.

Fred Alves, cineasta e diretor do filme “Estradar – Mestre Gennaro & Fabiano Santana”, falou diretamente de Amsterdã, também por videoconferência. Assim como Carlos Frevo, Fred ressaltou que os europeus preferem em seus eventos o forró raiz, pelo valor cultural que ele possui. O cineasta também lembrou que o fato dos europeus não terem conhecimento sobre artistas campinenses é a falta de incentivos e investimentos do poder público de Campina Grande.

Em resposta, a secretária de desenvolvimento da Prefeitura de Campina Grande, Rosália Lucas, explicou que o município está enviando para a Europa alguns artistas, como a cantora e compositora Gitana Pimentel. Ela lembra que desde muito nova viajava com seus pais pelo Brasil todo e sempre falava do quanto era bom o São João em Campina Grande. “Tempos depois, convidei uma amiga de outro Estado para conhecer o São João de Campina Grande e chegando aqui ela ficou encantada, porque tudo era decorado e tudo queria tirar fotos por nunca ter visto aquilo tudo”, relembrou ela.

Rosália informou que a prefeitura de Campina Grande também investiu em novidades esse ano para agradar diferentes públicos e conquistar ainda mais turistas. Segundo ela, o investimento começa desde a decoração de toda a cidade, até o Parque do Povo, que será aberto a partir do meio dia aos sábados e domingos, com uma programação diferenciada para os turistas. Essas mudanças também beneficiarão os barraqueiros, que irão trabalhar e conseguir ainda mais lucro durante o São João.

Esse ano, também foi acrescentado na programação do Maior São João do Mundo o “Forró do Calçadão”, evento que acontece no calçadão Cardoso Vieira, com apresentações de trios de forró durante os sábados, a partir das 10h30. Além do forró, o projeto visa também incentivar a movimentação no comércio da região, que espera superar os bons números em vendas do ano passado.

Hino Nacional sendo cantado e tocado no ritmo do São João

Sobre a discussão do tema São João, o professor Jurani Clementino acha fundamental articular as antigas e novas experiências que atribuem o nome do forró, reconhecendo sua história e toda sua trajetória. Já sobre a divisão de espaço entre ritmos diferentes do forró raiz em festas juninas, Jurani acredita que há espaços para todos eles, e lembra o fato de que justamente no palco principal estejam voltados outros ritmos, como sertanejo e axé: “lamentamos que no palco principal tenham atrações que não se relacionam ao forró raiz, mas se o turista procurar ele vai encontrar as ilhas de forró, trios de forró e alguns espaços dentro da cidade que também vão oferecer essas atrações”, comentou.

Outro ponto observado por ele é sobre a divulgação da festa: “O ruim é que a divulgação do São João se dá muito ao que não é o São João de fato”, o que o turista pensa é que não precisa sair de sua cidade e visitar Campina Grande para assistir um show de Wesley Safadão e Ivete Sangalo, por exemplo, se esses mesmos artistas também fazem shows em sua cidade.

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