Aos sábados à noite, no bairro da Santa Cruz, em Campina Grande, encontra-se um bom lugar para se divertir, com espaço para dança, música regional e alegria.
Para quem diz que Campina Grande só tem forró no mês de junho, o Forró Nordeste joga o desmentido na cara do maldizente. Aqui tem “função” todo sábado, das 18 às 22h. O lugar fica localizado na Rua Prof. Luiz Gilardi, 28, na saudável e animada periferia campinense. Aos primeiros acordes da sanfona de Zezinho do Cruzeiro, que tocou com Genival Lacerda durante 26 anos, os companheiros da banda não deixam o ritmo cair, até que se ouça a voz potente de José Marinho dos Santos, o “Pitiguari” invadindo o salão, onde alguns casais já arriscam os primeiros passos na pequena pista de dança, entre as mesas e o palco. O local onde o trio se apresenta é um recanto do salão, cuidadosamente cuidado, cenograficamente.
Antes do começo da noite musical, Pitiguari conta que ele faz parte de um grupo de cantores que começaram a carreira há 40 ou 50 anos, em Campina Grande, dos quais a maioria já faleceu, restando ainda ele, João Gonçalves, Antonio Barros e outros poucos. O Trio Nordeste surgiu de alguns ensaios, despretenciosamente, até que, partindo da ideia de Severino José da Silva, teve início o espaço de eventos, em maio de 2018. “Se pensássemos no financeiro, talvez não fosse possível tocar este barco, uma vez que todo início é difícil para qualquer negócio, principalmente festas. É um investimento de longo prazo e a gente, com muita paciência, com muita dedicação e muito carinho pela cultura, nós enfrentamos as dificuldades e estamos satisfeitos com os resultados obtidos”, explica Severino, uma espécie de porta-voz da casa, que arremata: “a paga do artista é o aplauso, é o reconhecimento”.
O Projeto Forró Nordeste é mais do que uma simples casa de forró: há uma preocupação com o resgate de valores, dando oportunidade a artistas que, ao longo do ano, não têm onde tocar; existe também a ideia de abrir uma escola de música e de dança, para a comunidade. “É um projeto social”, resume Severino José.
Tradição não significa atraso. Este Nordeste aqui está antenado nas redes sociais, e se serve dos recursos tecnológicos para transmitir, ao vivo, todos os sábados, pela rádio comunitária Lagar FM, do vizinho bairro das Malvinas, através de link direto do salão Nordeste, o programa “Luiz Gonzaga, o Rei do Baião”, comandado pelo radialista Israel Raposo, que exalta a audiência que o programa alcança – a mais recente audição, por exemplo, teve mais de seis mil acessos, em duas horas de programa. O conteúdo da atração não se resume ao forró do trio, mas se complementa com convidados ligados à cultura, como seresteiros, emboladores de coco, repentistas, entre outros. O programa se mantém com colaboradores da própria comunidade, e está presente também no Facebook, através da “live”.
Apesar de parte da população desconhecer a existência desta grande riqueza sonora e cultural, a cidade não se resume ao Centro ou ao Parque do Povo. Nos bairros, a cultura fervilha de janeiro a dezembro, ainda que a duras penas. E o Forró Nordeste não é o único espaço: tem ainda o Pé de Serra do Quintal, sob a organização do compositor Roberto Morais, que fica na Dinamérica III, e funciona às quartas e domingos à noite; existe também o Beto Forrozeiro, na Rua Palestina, 124, no bairro Santa Rosa… Quer dizer, com um pouco de procura se encontra forró autêntico todo o ano, em Campina Grande.