XI edição do Troféu Gonzagão, em noite de gala, empolga com Oscar da música nordestina

Campina Grande, 22 de agosto de 2019  ·  Escrito por Sarah Cristinne  ·  Editado por Steffanie Alencar  ·  Fotos de Rayane Brito

Teatro Facisa, local onde aconteceu o evento.

Para uma Região que tem ‘Rei do Ritmo’, ‘Rei do Baião’, e uma ‘Roliúde’ só sua, um prêmio de Oscar era mais que merecido, até porque, quando se trata de talento, nessas terras tem de sobra. O Troféu Gonzagão está em sua XI edição, sendo uma homenagem aos artistas populares nordestinos, que mantêm e divulgam essa cultura por todo o país, e até fora dele.

Essa edição ocorreu no Teatro Facisa, e contou com vários artistas, parte da imprensa campinense e muitos amantes da música, gerando, nas áreas de convivência da Unifacisa, uma aproximação natural entre artista/público/imprensa, antes e após a premiação, formando uma grande roda de conversa e música, sendo um grande encontro que a arte proporciona.

Os homenageados da vez foram, especialmente, o paraibano Jackson do Pandeiro (in memorian), o qual durante todo o ano viemos comemorando o centenário, e o cearense Raimundo Fagner. Além deles, também serão homenageados outros cantores, que são parabenizados por, cada um de seu lugar, representarem tão bem o povo nordestino, como: Biliu de Campina, Os 3 do Nordeste, Bráulio Bessa, Agnes Nunes, Bia Villa Chan, Silvério Pessoa, Heloísa do Pandeiro, Alexandra Nicolas, Baixinho do Pandeiro, Leréu do Pandeiro, Oséas Lopes, Joana do Bailão e Alcymar Monteiro, que não pôde estar presente, mas foi lembrado com muito carinho.

Casal da Junina Moleka.

A quadrilha junina ‘Moleka 100 vergonha’ também foi homenageada: “Receber essa homenagem no Troféu está sendo muito importante, porque estamos represent ando não só a Moleka, como a nossa cultura, o nosso povo, e tantas outras quadrilhas do Brasil inteiro”, disse Bruno César, dançarino da quadrilha e campeão de melhor casal junino 2019. A música “Eu sou o São João”, de Del Feliz, Ton Oliveira e Fábio Salvador, também foi homenageada.

Outra obra que levou o Troféu foi o filme “Estradar”, dirigido por Fred Alves, pela produtora Eximius Filmes. O longa tem 78 min, é de classificação livre, e nos mostra a dimensão da força que o nosso forró pé de serra, por vezes tão desvalorizado, tem no exterior. O filme foi lançado no Brasil durante o evento ‘Simpósio Forró’, promovido este ano pelo Repórter Junino por meio do edital PROEXT 2015/MEC/SESu. “Estamos aqui todos felizes porque não imaginávamos a dimensão que esse filme ia tomar, mas nós imaginávamos que seria o primeiro longa metragem de forró fora do Brasil, essa era a intenção, mas, despretensiosamente”, falou o diretor Fred Alves, diretamente da Europa, para a reportagem do Repórter Junino. “Agradeço principalmente aos realizadores do evento, ao mestre padrinho do filme Flávio José, assim como os protagonistas do filme Mestre Gennaro e Fabiano Santana, e essa homenagem nos encheu de forças para continuar a buscar novas fronteiras dentro do cinema voltado à tradição raíz forrozeira, original do Brasil que já conquistou o mundo inteiro,” completou.

A primeira apresentação foi da jovem cantora Agnes Nunes, que emocionou a todos quando entrou cantando ‘Ave Maria Sertaneja’, simbolicamente de Luiz Gonzaga. Sua voz, que ficou conhecida na internet, com a divulgação dos seus vídeos pelo Instagram, ecoou pelo teatro a real impressão que sim: havia batido o sino das seis horas, e uma bonita noite estava apenas começando.

O jornalista Carlos Siqueira comandou a cerimônia, em que ao passo que o clima de solenidade era estabelecido, abria-se espaço para os risos, principalmente quando o cantor campinense Genival Lacerda subiu ao palco perguntando: “O que eu vim fazer aqui mesmo?” E foi ao som de uma de suas músicas que ele convidou Raimundo Fagner – seu amigo, e atração mais esperada da noite -, para tomar seu lugar ao palco. O cantor foi homenageado com um vídeo de seu amigo, o humorista também cearense, Tom Cavalcante, que explicou sua relação de amizade com Fagner e o imitou cantando e levando o público à risada.

Enquanto todos estavam atentos ao show do cantor Fagner, uma sobrecarga de energia fez com que a mesa de som parasse e as luzes do palco apagassem, mas, nem isso entristeceu a plateia, que continuou (em coro) a canção, e só parou quando a situação voltou ao normal, sendo reverenciados pelo cantor.

De Alexandra Nicolas, que recebeu o prêmio cantando uma música homenageando o seu Estado do Maranhão, à Biliu de Campina – nos fazendo ficar saudosos com antigas canções campinenses, – o tempo passava no teatro como uma dança de xaxado no terreiro: miúdo, mas bem vivido.

 

Homenagem a Jackson do Pandeiro

Heloísa do Pandeiro, e seus pais ao fundo.

A emoção foi tomando conta quando chegou a hora de Jackson ser homenageado. O saudoso músico teve seus sucessos interpretados por Baixinho do Pandeiro e Heloísa do Pandeiro, que falou um pouco sobre sua felicidade em estar no evento. “A emoção é muito grande, estou muito ansiosa. Nunca tinha passado pela minha mente que eu seria homenageada num evento tão grandioso como o Troféu Gonzagão.” Heloísa ganhou uma bolsa de estudos do Colégio Motiva, e foi muito aplaudida. Mesmo tendo apenas 12 anos, já trilha um belo caminho. “Meu pai: Meu mestre, que me ensinou tudo. Biliu de Campina e Jackson do Pandeiro: Minhas inspirações”, falou, após receber o prêmio.

Santanna, O cantador.

“É muito importante a nova geração tomar conhecimento da verdadeira cultura popular nordestina, e essa iniciativa de trazer uma criança para dar continuidade é importante, porque precisamos formar descendentes”, falou ‘Santanna, o Cantador’, que veio prestigiar o evento, assim como os cantores Flávio José, Jorge de Altinho, Chambinho do Acordeon, entre outros.

Para receber o Troféu dedicado à Jackson, foram chamados o Reitor da Universidade Estadual da Paraíba, Rangel Júnior e a dupla Antônio Barros e Cecéu, representando a família do artista.

 

A poesia, é claro, também teve seu espaço garantido. Bráulio Bessa contou sobre sua trajetória como poeta desde menino e apresentou um vídeo de transformação de uma vida através das palavras. Após citar Patativa do Assaré, teve a surpresa do ‘Coletivo Cordel Paraíba’, que é formado por Anne, Thiago, Lima e Aziel: cinco cordelistas arretados, que fizeram um cordel especialmente para o Bráulio, dizendo que ‘jeito de homenagear poeta, é fazendo poesia também”, que chorou, emocionado. “Estar aqui é muito gratificante, porque estão juntos os maiores nomes da música nordestina, que tem repercussão, não só no Nordeste, mas no Brasil e no mundo. Saber que vamos homenagear uma referência nossa, de poesia nacional, me deixa muito emocionada”, falou a poetisa Anne Karolynne.

Poetisa Anne Karolynne, participante do grupo ‘Coletivo Cordel Paraíba’.

E foi assim, que, agradecendo aos muitos patrocinadores, à imprensa, e ao Instituto INBRA, que Dr. Aljamir e Dra. Rilávia fizeram (entre uma dança e outra), mais uma edição acontecer. “É importante celebrar os nomes que edificaram toda essa cultura através da música. Resgatar valores e reconhecer os artistas. Muito obrigado”, finalizou Dr. Aljamir. E é assim que a tradição que existe, resiste, e segue firme e forte, até as próximas edições.

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