Repórter: Mateus Araújo
Fotos: Equipe CRAS Boa Vista
O agravamento da pandemia de Covid-19, pelo segundo ano consecutivo, para tristeza dos nordestinos e amantes da cultura popular, não permitiu a realização dos grandes e tradicionais festejos juninos. Mas, como tradição não se pode perder, sempre é possível dar um jeito para manter esse legado vivo.
O que parecia ser passageiro, infelizmente, perdura até os dias atuais. O vírus vindo de longe segue ceifando vidas e impondo um isolamento social que dura há mais de um ano. Uma dura realidade sem aglomerações e até sem a fogueira que não pôde ser acesa. Mas tem coisas que nunca se apagam e mesmo com tantos contratempos o espírito junino segue firme e forte na vida do nordestino – mesmo que de uma forma adaptada.
É a época mais esperada do ano. Meses antes os agricultores se dedicam à plantação de suas lavouras rogando aos céus pelo lucro do roçado, o povo se organiza para realizar simpatias e promessas aos santos homenageados (Santo Antônio, São João e São Pedro) e o frio de junho anuncia que o mês mais aguardado do ano finalmente chegou.
O clima tão característico dessa época do ano é percebido nas ornamentações espalhadas por diversos lugares, nas comidas de milho e demais quitutes que são preparados em cada casa, nas bombinhas soltas pela criançada e no forró pé de serra que ecoa pelos quatro cantos da cidade.
No município de Boa Vista, no Cariri paraibano, a equipe do CRAS – Centro de Referência da Assistência Social não deixou a festa passar em branco para os idosos integrantes dos grupos de experiência e vida. A festa aconteceu de um jeito atípico, mas que garantiu o sorriso no rosto e a chama acesa de dias melhores no coração de muita gente.
“O São João é uma época em que comemorar é algo muito tradicional para nós nordestinos. Aqui no CRAS, com os nossos grupos de Proteção e Atendimento Integral à Família e de Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos Familiares e Comunitários não era diferente. Era um mês de muita festa e alegria. Com a chegada da pandemia, essas comemorações foram interrompidas abruptamente. Esse ano nós quisemos resgatar um pouco da alegria que essa época traz para os nossos usuários e criamos um Delivery Junino – uma espécie de ‘arraiá particular’ para cada um deles”, explicou Marcela Elaine, coordenadora do CRAS Boa Vista.
Os idosos, caracterizados a rigor, esperavam ansiosos a equipe do CRAS nas portas de suas residências. Na hora da ação ênfase no distanciamento, na máscara de proteção e no álcool em gel. O arraiá contou com música, passos de quadrilha e também com uma sacolinha de comidas típicas da época.
“Me sinto abraçada no meu coração. Isso foi um presente que trouxeram para mim. Tudo é no tempo de Deus e tenho certeza que logo logo vamos comemorar do jeito que a gente gosta, com tudo o que temos direito”, falou empolgada Dona Inacinha Cardoso no auge dos seus 67 anos.
O delivery junino tomou conta das ruas e estradas do município levando nostalgia, cores, os tradicionais forrós presentes nas quadrilhas de outrora e muita esperança para os dias que estão por vir. Seguindo todos os protocolos sanitários recomendados pelos órgãos de saúde, a equipe do CRAS, mesmo em um período marcado por tanta dor e perdas, garantiu o sorriso no rosto de pessoas que há tempos estavam privadas das pequenas alegrias da vida e cercadas de medos e incertezas.
“Foi muito lindo e divertido. Conseguimos ver nos olhos de cada um a alegria em poder comemorar, mesmo de forma menos glamurosa, essa época festiva. E assim vamos seguindo, levando alegria e esperança de dias melhores por onde a gente vai chegando”, concluiu a coordenadora.
Com o avanço da vacinação e a manutenção dos protocolos sanitários com o intuito de prevenir a contaminação pela Covid-19, o caririzeiro, representando todo o povo nordestino, alimenta fé e alegria no coração ansiando por um São João sem máscaras, sem receios e com muita animação. Espera-se que o sentido da festa e o festejar sejam ainda mais fortes nos próximos anos. O que esse povo quer e merece é ser feliz. Depois de tanto sofrimento, o que merecemos é o ano inteiro de São João, afinal, se felicidade fosse rotina a gente buscaria outra coisa pra correr atrás.