Maria Beatriz Oliveira
Reportagem e fotos
Rafael Melo
Edição
Alguns anos atrás, era impossível andar pelas ruas de Campina Grande no período junino e não se deparar com inúmeros vendedores de milho nas esquinas. Hoje, mesmo com o retorno da programação oficial da festa junina após dois anos de suspensão por causa da pandemia, os montes de milho na rua se tornaram mais escassos e o alimento mais característico do São João vem ficando difícil de encontrar e caro de comprar. Apesar disso, as chuvas impulsionaram a colheita e a oferta cresceu um pouco.
O feirante Jânio Santos trabalha com a venda de milho há 7 anos na Feira da Prata e afirma que já viu tempos melhores para o negócio. “Tá caro, ninguém mais vem aqui comprar a mão de milho e vender por unidade [porque] não rende tanto. Alguns anos atrás a mão era R$ 30, hoje eu não consigo vender por menos de R$ 45”, disse o feirante, que compra o milho de agricultores do município de Matinhas.
Dona Francisca Oliveira, que tem 73 anos, comercializou milho na Feira Central durante 58 anos. Após dois anos de pandemia, com movimento fraco e baixa procura, ela decidiu deixar os filhos, nora e netas tocarem a banca. “A procura está muito pouca, não tá muito boa não. Depois de dois anos de paradeiro, agora é que tá começando a voltar devagarinho”, disse ela.
Já para a feirante Francineide Oliva, vendedora de milho há 4 anos, o cenário é um pouco diferente. Ela conta que as expectativas eram muito baixas para este ano, mas com as chuvas e a boa safra do alimento, o lucro aos poucos está vindo. “Tá ótimo, principalmente essa semana muita gente vem atrás de comprar milho. Tem dia que eu chego a vender 20 mãos”, disse.
A alta nos preços da mão de milho, que contém 50 espigas, está associada ao aumento no preço do combustível, já que a maior parte da produção vem de outras cidades da Paraíba e até de outros estados. Somente em 2022, o valor médio do litro do diesel subiu 57%, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Em levantamento realizado pelo Centro de Abastecimento e Logística da Paraíba (Ceasa), a elevação no valor da mão de milho é de 20% com relação ao ano anterior.
Apesar desse custo com o transporte, os feirantes precisam recorrer a outras cidades para garantir o principal produto a ser comercializado nas festas, visto que a produção em Campina Grande e nos arredores é baixa. Jânio compra milho da cidade de Matinhas, no agreste, a família de Francisca traz do sertão de Pernambuco, e Francineide adquire o produto de Alagoa Grande, no Brejo.
Para Francineide, o motivo das boas vendas é a qualidade do produto e é por isso que ela busca colheitas de fora de Campina Grande. “Esse milho vem de Alagoa Grande, pego direto com quem plantou, regou e colheu, sei da procedência e é um milho bom pra tudo, cozinhar, assar, fazer pamonha, canjica”, disse.