Cléa Cordeiro: Um legado de amor pelo São João

Campina Grande, 1 de junho de 2023

A professora possui um acervo histórico invejável da nossa maior festa regional

Repórter: Matheus Farias

Fotógrafa: Briza Cunha

Editora: Gabryele Martins


Cléa administra o Memorial do São João em um shopping de Campina Grande. Foto: Briza Cunha/Repórter Junino

A valorização da Memória enquanto recurso que conta a História de um povo é nítida na vida de Cléa Cordeiro. Muitos pensam que ela é historiadora, mas sua formação é na  área de administração, que ama o legado do Maior São João do Mundo e administra um espaço que respira cultura e memória coletiva: O Memorial do Maior São João do Mundo. Foi nesse rico lugar que Cléa abriu seu baú de lembranças a respeito da nossa festa junina em entrevista ao Repórter Junino. Confira os principais trechos da nossa conversa: 

Como foi que começou o seu envolvimento com o São João aqui em Campina Grande?

Todo nordestino, e principalmente campinense, sempre está envolvido de alguma maneira com o São João, que no início era só uma brincadeira. Não era assistir show e sim brincar. Nós decorávamos a casa e a rua sempre de forma coletiva envolvendo várias pessoas. Eu tenho  uma foto minha com tranças no Clube dos Caçadores e muitas memórias da rua cheia de fogueira e a gente vendo pessoas preparando a canjica e a pamonha. Isso está muito dentro da lembrança de todo nordestino e principalmente de quem vem de cidades menores. 

A senhora morou por um bom tempo bem próximo ao Parque do Povo ainda nos primeiros anos da festa. Que lembranças a senhora tem desses momentos?

Como eu morava na rua Tiradentes eu acompanhei tudo e depois, já na Universidade, a gente tinha ponto de encontro no Parque do Povo. Nessa época ainda não existia a fogueira como hoje. Então o ponto de encontro era o Garrafão da Caranguejo, uma réplica enorme de uma garrafa que havia ali. Nessa época não existia celular e assim nos encontrávamos ali para ir até as barracas de comida que eram deliciosas. Eu já saía da faculdade direto ao Parque do Povo. Fui criada vendo fogueira nas ruas do centro e as pessoas soltando balões. Isso é muito rico.


Em entrevistas, Cléa dá uma verdadeira aula de Cultura. Foto: Briza Cunha/Repórter Junino

Para a senhora, o que mais mudou ao longo dos 40 anos de Maior São João do Mundo?

Tudo começou com a audácia de Ronaldo Cunha Lima de criar um espaço no coração da cidade para fazer uma festa típica do ambiente rural. O Parque do Povo é o coração da festa que gerou filhotes como o Sítio São João e o Memorial, que eram dentro do Parque e a festa cresceu muito e isso trouxe também desafios em relação a segurança e a estrutura. Ninguém quer mais voltar ao tempo em que o chão do Parque do Povo era um lamaçal. Essa infraestrutura custa caro e tem entrado o setor privado para arcar com isso porque também existe o lado econômico da festa. Por isso, existem estilos variados no Maior São João como sertanejo que muita gente não vê com bons olhos, mas é uma realidade que não se pode fugir dela. Temos as ilhas de forró e o palco cultural. O fato é que nós, enquanto campinenses, precisamos divulgar os artistas da terra. Se as pessoas colocam #partiupp para ver artistas de fora, nós podemos colocar essa hashtag para mostrar o trabalho artístico das pessoas da nossa terra.  

A senhora enquanto professora levava de que forma o legado do São João para suas aulas?

Eu acho que a cultura de São João não deve ser ensinada apenas no período de Junho. Nossa cultura precisa ser valorizada todos os meses do ano. Hoje em dia vemos, por exemplo, comidas como o Cuscuz sendo enaltecidas inclusive pelas crianças. O milho tem tudo a ver com a nossa festa que é feita em comemoração à colheita, já que antigamente não tinha irrigação como se tem hoje. O milho era plantado em Março, mês de São José, para colher no São João, ou seja, apenas no período junino comíamos uma comida diferente. Hoje podemos comprar pamonha, canjica e milho cozido em qualquer época do ano. Nesse sentido, nós criamos no curso de Administração de uma faculdade particular o “Administrando a Cultura Popular.” Os alunos tinham que criar um projeto para divulgar o trabalho de uma barraca com comida típica. Eles levavam artistas e colocavam em prática o Marketing e a gente já percebia a criatividade de um aluno ou de uma equipe. Criamos também um Casamento Junino diferenciado, no qual o casal não se reconhecia mais porque a mulher reclamava do homem que só ouvia música internacional. Na casa, não havia mais fogueira ou homenagens aos Santos do mês de Junho. Como mudar isso? Então vejo que é um tema muito atual. 


A religiosidade é um elemento inerente ao São João. Foto: Briza Cunha/Repórter Junino

Para uma professora, qual o significado de uma festa como o Maior São João do Mundo ter chegado aos 40 anos?

Eu vejo esse momento com muita alegria e emoção porque esse período junino já está mexendo com a cidade. Cada jornalista pergunta algo diferente para mim porque o São João é muito amplo. Ele envolve economia, educação, tradição, saudade, enfim, muitas coisas que o jovem precisa conhecer. São nossas origens e raízes, porque uma árvore que não tem raiz bem fincada é levada pelo vento. Mesmo em tempos de internet, as pessoas vêm para esse Memorial para ver os jornais impressos, cartazes, fotografia porque isso tudo são documentos que contam nossa história.

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