36º Salão do Artesanato homenageia Feira Central de Campina Grande

Campina Grande, 10 de junho de 2023

Repórter: Samya Amado

Fotógrafa: Samya Amado

Editora: Gabryele Martins


Artesãos trouxeram suas peças para exibição e venda no Salão. Foto: Samya Amado/Repórter Junino

Oficialmente inaugurado na última quinta-feira (08), pelo Governador João Azevedo, a 36ª edição do Salão do Artesanato Paraibano, que tem como tema “Tudo vira arte na feira de Campina”, está de portas abertas para receber o público.  Com a participação de cerca de 500 artesãos de todas as regiões da Paraíba, o Salão conta ainda com praça de alimentação, apresentações artísticas e uma loja de cachaças paraibanas. 

João Azevedo comenta sobre a construção desse projeto que gera renda e que já faz parte do calendário de eventos da Paraíba: “Esse é um trabalho de muitas mãos. É um trabalho de uma equipe totalmente dedicada e que faz acontecer. É um prazer voltar aqui em Campina Grande com mais um Salão, dessa vez homenageando aquilo que eu acho que Campina tem de muito simbólico, que é a feira. A feira de Campina tem tudo a ver com a história da própria Campina (…) eu não tenho dúvida nenhuma que será esse Salão um dos maiores salões que Campina Grande já viu”.

Na solenidade de abertura, o visitante pôde prestigiar o lançamento do livro “Feira de Campina Grande” do escritor Chico Pereira, com ilustrações de Flávio Tavares, além de assistir as apresentações artísticas que deram um pontapé inicial para o evento, que se estende até o dia 2 de julho. 

Na ocasião, várias autoridades da sociedade paraibana estiveram presentes e pontuaram a importância do Salão do Artesanato para a cultura local. “Diversos desses artesãos são daqui de Campina Grande e da região. Então, como isso aqui se trata de algo que já está tão consolidado, há praticamente 20 anos, é um patrimônio de todos nós da Paraíba e nessa hora não existe política”. Ressaltou Bruno Cunha Lima, Prefeito de Campina Grande.

Logo na entrada do evento, o visitante pode conferir uma réplica de comércios da feira central, como a bodega, barbearia e casa de frios. Ao longo de toda a estrutura montada nos mais de mil metros quadrados do evento, os artesãos encantam o público com os mais diversos tipos de arte. “Gostei da diversidade de produtos dos artesãos. A localização está muito boa, a estrutura também conta com ventilação nos corredores. Gostei que tem mais novidades, mas a minha parte favorita foi a praça de alimentação que ficou muito ampla comparado ao último Salão que visitei aqui em Campina.” Conta Ligia Silva, 43 anos, que veio de João Pessoa para curtir os festejos juninos.


Representação de placas da feira. Foto: Samya Amado/Repórter Junino

Diversão, arte e empreendedorismo

O Salão do Artesanato não é só um espaço de diversão e arte, mas serve de mola propulsora para os novos artesãos mostrarem os seus trabalhos e antigos artesãos apresentarem nossa cultura às novas gerações. Dimas Matias, 54, artesão que fabrica brinquedos em madeira, conta que se sente mais valorizado quando está no Salão, pois é um momento em que ele pode divulgar seu trabalho e captar mais clientes. “Quando eu faço um brinquedo, eu faço como se fosse pra mim. É uma satisfação quando eu venho pro Salão do Artesanato e eu vejo que as pessoas prestigiam o que eu faço. A criançada fica abismada!”, comenta.

Ele conta que vem de uma família tradicional e que faz artesanato desde a sua infância: “Eu interagia com outras crianças fazendo os meus brinquedos, mas viver de artesanato, fazem uns 30 anos. O meu trabalho é uma brincadeira de criança, então eu gosto do que eu faço!”

O artesão ressalta a importância dessa exposição, de trazer arte à população, tradição e mostrar para as novas gerações o que os pais, na época, brincavam. “Isso tudo aqui era nossa brincadeira de criança. Tudo que você vê no Salão, na época, fazia parte do nosso dia a dia, do nosso cotidiano. Hoje são peças de arte decorativas e o pessoal de hoje em dia não sabe o que é isso. O brinquedo tem três funções: é educar, divertir e decorar.” Disse Dimas.


Peças em madeira fazem sucesso no Salão. Foto: Samya Amado/Repórter Junino

Giselda Peixoto, 62 anos, trabalha com madeira há mais de 40 anos e conta como foi chegar até aqui: “Eu sempre fui marceneira, só que agora eu resolvi ser artesã. Eu comecei como projetista em uma indústria. Comecei a fazer os móveis, desenhar os móveis, só que eu me interessava mesmo pela produção”.

Ela conta que apresentou os desenhos ao antigo patrão e pediu para que ele os fizesse, só que teve o pedido negado e para aliviar a frustração, resolveu produzir miniaturas. Seus primeiros clientes foram seus amigos que viram as miniaturas e começaram a pedir mais peças.

“Esses mesmos amigos queriam que eu fizesse móveis de verdade. Aí eu comecei a fazer móveis grandes, passei mais de 30 anos fazendo móveis de madeira, móveis retrô, pé palito e planejados”.

O recomeço requer coragem e isso Giselda tem de sobra! Ela precisou voltar ao início e se dedicar novamente às miniaturas, com peças que demoram de uma semana a 15 dias para serem fabricadas: “Eu voltei a fazer miniaturas porque eu já tô querendo relaxar um pouco e eu não quero mais pegar peças grandes e isso aqui é uma terapia pra mim (…) depois que eu elaboro a primeira [peça], que eu vejo todos os detalhes, a dificuldade, aí eu tiro em série! O que demora mais é o acabamento e você gasta uns dois dias para lixar, mais um dia pra dar acabamento e após isso, lixar de novo. Mas é só assim que o produto fica com essa qualidade.”

Tecendo sonhos e criando memórias

Para além de uma fonte de renda, o artesanato é a representação de um povo, é a história sendo contada e repassada através da arte de mãos habilidosas e coração cheio de afeto: “Ele [o trabalho de artesã] é um complemento da minha renda, porque eu já sou funcionária pública aposentada e isso aqui representa um complemento. Mas o que representa mais pra mim nisso aqui é o amor que eu tenho de fazer isso!” conta Giselda Peixoto.

O sentimento de colocar sua arte no mundo e de ter sua história compartilhada com outras pessoas faz com que as peças fabricadas pelos artesãos não sejam resumidas apenas a vendas e lucro. “Eu já cheguei até a dizer que se eu não vender, eu vou doar pra uma instituição de caridade, pra eles fazerem um leilão numa peça dessa pra ajudar. Isso pretendo fazer, se Deus quiser.” Ressalta Giselda.


Artesanato também é sinônimo de resistência. Foto: Samya Amado/Repórter Junino

As mudanças do tempo e gerações são nítidas e o trabalho manual acabou sentindo o impacto com a chegada da tecnologia. O Salão não é apenas um espaço de venda, mas de resistência dessas pessoas que contam a história da Paraíba através das suas diversas manifestações artísticas. Tradição, ancestralidade e empreendedorismo, fazem parte do cotidiano desses artistas que seguem transmitindo o seu conhecimento para outras gerações e dão a oportunidade ao visitante de fazer uma viagem no tempo por diversos lugares da Paraíba.

O Salão do Artesanato Paraibano fica em Campina Grande até o dia 2 de julho, está localizado na entrada da cidade, na avenida Prefeito Severino Cabral e pode ser visitado todos os dias das 15h às 22h. A entrada é gratuita e a organização pede que o visitante leve 1kg de alimento não perecível. A arrecadação será direcionada a entidades que trabalham com pessoas em vulnerabilidade social na cidade de Campina Grande.

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