Figurino Junino: Brilho, tradição e histórias contadas através dos detalhes 

Campina Grande, 2 de julho de 2023

As vestes encantadoras exaltam a tradição e a emoção do São João, além de ser requisito nas apresentações.

Repórteres: Felipe Bezerra e Maria Eduarda Batista

Fotógrafa: Micaela Nogueira

Editora: Gabryele Martins 


Os trajes dos quadrilheiros encantam e fazem parte das tradições juninas. Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

Com suas cores vibrantes e detalhes cuidadosamente elaborados, os figurinos das quadrilhas juninas se transformam em verdadeiras obras de arte e não apenas encantam aos olhos, mas também tocam os corações, contando histórias e exaltando o significado profundo do São João.

Com um misto de nostalgia e tradição, esses trajes revelam a alma das festividades juninas, onde o passado e o presente se entrelaçam em uma dança emocionante de celebração e alegria. A cada nova temporada, referências e diversas significações contidas nas indumentárias dos quadrilheiros ganham espaço nas apresentações do mês de junho. 


Tradição e modernidade se unem para encher as juninas de cores. Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

O chapéu de palha, o xadrez e os remendos nas vestimentas para enfeitar, se transformaram em roupas luxuosas, com muito brilho e pedrarias. Entretanto, a roupa junina não perdeu a evocação do seu significado, dos valores sertanejos, interioranos, da resistência do povo nordestino e da força campesina. Tomando forma em consonância com o tema proposto pelo grupo, o figurino é requisito para os jurados e encanto para o público. 

Os trajes que contam histórias 

Com um traje inspirado no fazer São João popular, a junina de Brasília, no Distrito Federal, Si Bobiá a Gente Pimba, traz na vestimenta a essência da temática do grupo. “Entre a labuta e a devoção, as mãos que constroem o meu São João”, retrata de forma simbólica as mãos trabalhadoras, transitando entre o romantismo, o gracejo, a valentia, a resistência e a fé. 


A quadrilha brasiliense apostou nos tons terrosos e na madeira. Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

A força do carpinteiro e dos trabalhadores rurais é representada através de elementos contidos na formação dos trajes dos homens. Nas mulheres, o simbolismo percorre as artesãs e as microempreendedoras individuais, buscando por meio do bordado o regionalismo e o trabalho manual. A esteira de panela ganha um novo significado como ombreira nos dançantes. 


Fuxicos, botões e terços exaltam o artesanato e a fé no campo. Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

Segundo o diretor de arte do grupo, Lehandro Lira, de 36 anos, todos os brincantes ajudaram na confecção do figurino, que durou três meses. Ao todo, foram produzidos mais seis mil e quinhentos fuxicos para aplicação nos chapéus e vestidos dos quadrilheiros.

Brilho das estrelas

Os figurinos, cheio de brilho como as estrelas lá no céu, são acompanhados de bordados intrincados e detalhes minuciosos, cuidadosamente pensados para ressaltar a riqueza do Nordeste. Além de resgatar a identidade cultural, os trajes também evidenciam a dedicação e o talento dos grupos que se preparam durante meses para brilhar nas apresentações e contagiar a todos com a alegria dessa tradição tão amada.


As pedrarias estão cada vez mais presentes nas vestimentas juninas. Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

Branco como a lua

Como em uma noite enluarada, os noivos exalam uma aura de amor e felicidade. É importante destacar que o casamento é um dos critérios fundamentais no julgamento dos grupos durante as festas juninas, pois simboliza a união e a tradição que permeiam o evento. Cada detalhe, desde o véu delicado da noiva até o impecável terno do noivo, reflete a união dos quadrilheiros ao cuidarem meticulosamente de cada minuciosidade da vestimenta.


Grande atração das quadrilhas, o casal de noivos deve esbanjar beleza e elegância. Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

Na junina Lumiar, de Recife, em Pernambuco, a construção das indumentárias foi realizada de forma conjunta, com a participação do diretor artístico, do figurinista e do quadrilheiro, ambos trabalhando para garantir o melhor resultado. A referência desta temporada para a roupa junina vem  das dunas de Mangue Seco e do calor do Agreste, idealizado pela estilista Irê Rocha, de Fortaleza, no Ceará. 


A junina vencedora se inspirou na literatura nordestina. Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

Com o tema “À Luz de Tieta”, Clóvis Bézer, diretor artístico do grupo, explicou como funcionou a confecção das vestimentas dos noivos. “Eu não limito ninguém, peço que o personagem seja estudado e que me tragam as referências. Algumas são descartadas e outras são aceitas no processo. Taynara e Rodrigo [casal de noivos], eles têm muito cuidado porque estão no cargo desde de 2017 e sempre querem algo novo. A exemplo da noiva, ela quase nunca sai da mesma cor, mas o figurino dela sempre traz algo inovador”, disse Clóvis. 

O vermelho e o rosa fúcsia da Pitaya 


Até a pitaya cedeu suas cores para colorir o São João. Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

Com 20 anos de história, a junina Mandacaru, de São Luís do Quitunde, Alagoas, tem como tema em 2023 “Mandacaru, é força que nunca seca.” As vestimentas do casal de reis, Diego Marinho e Jucielle Souza, se inspiram no fruto da planta, a pitaya. Com tons de vermelho, rosa fúcsia, além de detalhes que remetem a algo mágico, o figurino foi idealizado para simbolizar a beleza contida na força que advém do cacto, típico do sertão e sua resistência à seca. 


As vestimentas femininas contemplam o brilho da melhor época do ano. Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

À medida que os quadrilheiros dançam com sorrisos radiantes, suas vestimentas se somam ao espetáculo, guiando o caminho para a resistência dessa festividade tão querida e reverenciada. Os olhares apaixonados e cada batida do coração no ritmo contagiante das quadrilhas juninas, se enche de amor e admiração, testemunhando a magia que os figurinos trazem consigo. Eles são personagens à parte, porém únicos, que perpetuam a tradição, encantando a plateia e deixando uma marca contínua em cada alma presente.

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