Pedagogia do Povo Preto: A ginga da capoeira e do maculelê como atos de resistência 

Campina Grande, 23 de maio de 2024

Oficina de Mestre Morcego leva percussão e dança para Universidade Estadual da Paraíba.


Repórter: Nathália Aguiar

Fotógrafa: Nathália Aguiar

Editora: Gabryele Martins


Berimbau, pandeiros e bastões para prática da capoeira e do maculelê. Foto: Nathália Aguiar/Repórter Junino

O ritmo do atabaque ressoa como o coração de quem o escuta. Poderoso e vibrante, cada batida hipnotiza. Enquanto alguns se incomodam com seu som, outros se encantam pela música que, dentro de seu compasso, carrega histórias, culturas, tradições e resistência. A capoeira, antes criminalizada no Brasil, hoje permeia todos os Estados do País com seu gingado e combate, assim como o maculelê. Em Campina Grande, as expressões se mantêm vivas e cativantes.

Sabendo da importância de apresentar as práticas festivas, o Sagrado e o legado cultural africano para aqueles que ainda não o conhecem, a oficina “Percussão e Dança: Capoeira e maculelê”, inserida no Ciclo de Debates Maio Antirracista, promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI), foi ministrada na última quarta-feira (22), na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), campus Campina Grande, com o objetivo de transmitir para as pessoas compreensão e respeito a essas distintas práticas, visando combater a intolerância religiosa.

Cristiane Nepomuceno, organizadora do evento, compartilha que a importância da oficina se dá, principalmente, para que as pessoas desconstruam seus equívocos, medos e preconceitos: “A ideia é que a gente possa oferecer essa oficina nessas atividades que estão dentro de discussões mais relevantes, no sentido de ser e estar no mundo, e os problemas que estão ligados à vivência da população negra no Brasil, para que se reduzam atos de intolerância”.


Apresentação de capoeira. Foto: Nathália Aguiar/Repórter Junino

As rodas de capoeira e do Maculelê são campos magnéticos concentrados, onde o corpo, e não as palavras, é responsável por transmitir sentimento: seja ele de luta ou de alegria. São artes que, segundo o Mestre Morcego, ministrante da oficina, se tratam da “pedagogia do povo preto”, um espaço onde falam da própria dor para o outro, que responde também com seus pesares, em uma dança que só acaba na última batida do atabaque.

Morcego é referência na capoeira no estado da Paraíba e, principalmente, em Campina Grande. Há cerca de 17 anos, o capoeirista assumiu a responsabilidade de levar a história e cultura afro-brasileira para os bairros e escolas municipais da Rainha da Borborema e faz isso com a maestria que só o amor consegue expressar.


Mestre Morcego tocando atabaque. Foto: Nathália Aguiar/Repórter Junino

Para o Mestre, o ensinamento dessas práticas é importante para que a população negra (re)conheça sua História e assuma seu pertencimento e protagonismo nela, pois “alguém que não sabe de onde veio, não sabe para onde ir”.

Fernanda Almeida é estudante de Pedagogia da UEPB e a oficina foi seu primeiro contato com as práticas. Para ela, foi uma aula de resistência e ancestralidade. “A capoeira é a base de muita coisa no Brasil que ninguém sabe, que vem de uma luta e resistência muito grande. Tanto ela – a capoeira – quanto o maculelê ensinam a trabalhar com foco, seguir em frente independente do que aconteça e desenvolver as coisas com paciência e cautela”, compartilha.

A oficina de percussão e dança atraiu a atenção de quem passava por perto e não podia ser diferente; o povo reconhece a ginga e o corpo pede por ela. Mais do que uma simples aula, a oficina foi uma reclamação de direitos para que a capoeira e o Maculelê, assim como todas as distintas práticas festivas e de combate do povo preto, sejam faladas, estudadas e praticadas: a história não pode ser esquecida – e deve ser contada por quem a vive.

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