O clima de São João aos poucos vai tomando conta de toda a cidade e em especial das periferias de Campina Grande, onde as comunidades fazem a festa ao seu modo, sem precisar pisar no Parque do Povo. Foi assim neste último final de semana no bairro da Ramadinha. Toda a animação da festividade ficou por conta da quadrilha, que encantou a todos os presentes com a tradicional coreografia e simplicidade dos vestidos usados pelas participantes da associação do Clube de Mães “Ana Maria Florindo”.
O comecinho da noite de domingo (16) dos moradores do bairro foi marcado com muita festa, diversão e forró. A rua Elvira Almeida de Castro se transformou em um verdadeiro arraial, para receber as 20 integrantes desta quadrilha para lá de feminina. O evento que acontece há quinze anos tem a sua peculiaridade, como revelou a Presidente do Clube de Mães, Edna Fernandes. “Desde o início foi instituído que apenas mulheres podem participar, elas mesmas escolhem quem quer se vestir de homem ou de mulher”.Maria Marques, fundadora do Clube de Mães e atual puxadora da quadrilha, relatou a importância e contribuição da entidade para a história do bairro. “Eu vim através do Projeto RONDON para abrir essa comunidade, que até 1982 não passava de algumas habitações agrícolas. O Sítio Ramada, hoje chamado de Ramadinha I, nasceu aqui no Clube de Mães”.
Toda a comunidade faz questão de prestigiar o evento, que permite além do resgate cultural, feito através das músicas e dos passos tradicionais, a oportunidade de um momento de singularidade no cotidiano, fazendo com que os moradores da Ramadinha e de bairros circunvizinhos desfrutem de um momento descontraído e agradável.
Os ensaios para a festividade que sempre ocorre no terceiro sábado ou domingo do mês de junho todos os anos, começaram
por volta do mês de abril e aconteciam nas quartas e sextas-feiras a noite a partir das 7h30. Os trajes ficaram por conta das participantes, que no mesmo período dos ensaios já iam definindo quem seria cavalheiro e quem seria dama. “Algumas mulheres preferem o papel masculino pela facilidade da vestimenta, que se resume a camisa, calça e bigode” declarou a então Presidente, Edna Fernandes.Entre tantas cores, um traje chamou atenção pela criatividade. O vestido da noiva Maria de Lourdes, grávida de 4 meses, foi confeccionado com TNT, um tecido barato que é produzido por fibras naturais, muito utilizado para decoração de festas. O Noivo, ou melhor, Dona Maria das Graças foi a responsável por bordar a peça, que ela mesma utilizou, pois já fez as vezes da dama de branco por cinco edições da festa.
Outras mulheres do bairro, não associadas, também podem participar da quadrilha. O apoio para a realização do evento e pagamento do trio de forró vem dos esposos das participantes. Já a ornamentação do arraial fica por conta das dançarinas e de alguns vizinhos, que se solidarizam com a festividade.
A música ficou por conta do trio de forró, Introdução Musical que todos os anos marca presença nesse período. O grupo conduziu toda a apresentação da quadrilha, fazendo com que dançarinas e público se interligassem através do ritmo contagiante do forró autêntico. Os componentes João Bosco, Ademar Silva e João Matias não perderão a alegria e o compasso um só minuto. Para João Matias, o responsável pelo triângulo, esse evento enaltece a cultura e dá uma visibilidade positiva ao bairro.Com muita animação e espontaneidade, Luzia Medeiros de 52 anos de idade, fez jus ao seu título de Rainha do Milho. “Me sinto uma jovem de 15 anos e tenho o maior prazer de colocar a roupa para dançar minha quadrilha”, enfatizou Luzia pouco antes da apresentação. Além de incentivar as outras participantes, ela também citou os benefícios da dança como atividade física. A senhora ainda destacou que nunca saiu de homem na quadrilha, “acho que não me sentiria a vontade, prefiro sair de mulher, porque eu rebolo e gosto de balançar a saia”, finalizou.
De todas as atividades desenvolvidas no Clube de Mães (Dia das Mães, Dia das Crianças e a Confraternização de Fim de Ano), a Festa de São João tem a preferência das associadas.
Carmem Lúcia, moradora do bairro há dezenove anos, gosta muito da tradição da quadrilha e destacou que já chegou a
filmar e enviar para seus parentes que moram no sudeste. Já Joelma Diniz, ex-dançarina do festejo aproveitou a ocasião para ajudar no seu sustento e levou seu carrinho de doces e guloseimas para o local. “Dancei na quadrilha por três anos, mas tive que me afastar devido a um problema que tive no joelho”, lamentou a vendedora ambulante.Mesmo após o final da apresentação da quadrilha, a zabumba, o triângulo e a sanfona do trio de forró Introdução Musical, não tiveram descanso. As pessoas presentes ainda tiveram uma hora de muito forró para arrastar o pé e ficar com aquele gostinho de quero mais, para o ano que vem.
Fotos e Edição: Felipe Valentim