Comunidade tem quadrilha junina só de mulheres

Campina Grande, 20 de junho de 2013

O clima de São João aos poucos vai tomando conta de toda a cidade e em especial das periferias de Campina Grande, onde as comunidades fazem a festa ao seu modo, sem precisar pisar no Parque do Povo. Foi assim neste último final de semana no bairro da Ramadinha. Toda a animação da festividade ficou por conta da quadrilha, que encantou a todos os presentes com a tradicional coreografia e simplicidade dos vestidos usados pelas participantes da associação do Clube de Mães “Ana Maria Florindo”.

A Presidente do Clube de Mães também fez parte da quadrilha.

A Presidente do Clube de Mães também fez parte da quadrilha.

O comecinho da noite de domingo (16) dos moradores do bairro foi marcado com muita festa, diversão e forró. A rua Elvira Almeida de Castro se transformou em um verdadeiro arraial, para receber as 20 integrantes desta quadrilha para lá de feminina. O evento que acontece há quinze anos tem a sua peculiaridade, como revelou a Presidente do Clube de Mães, Edna Fernandes. “Desde o início foi instituído que apenas mulheres podem participar, elas mesmas escolhem quem quer se vestir de homem ou de mulher”.

Maria Marques, fundadora do Clube de Mães e atual puxadora da quadrilha, relatou a importância e contribuição da entidade para a história do bairro. “Eu vim através do Projeto RONDON para abrir essa comunidade, que até 1982 não passava de algumas habitações agrícolas. O Sítio Ramada, hoje chamado de Ramadinha I, nasceu aqui no Clube de Mães”.

Toda a comunidade faz questão de prestigiar o evento, que permite além do resgate cultural, feito através das músicas e dos passos tradicionais, a oportunidade de um momento de singularidade no cotidiano, fazendo com que os moradores da Ramadinha e de bairros circunvizinhos desfrutem de um momento descontraído e agradável.

Os ensaios para a festividade que sempre ocorre no terceiro sábado ou domingo do mês de junho todos os anos, começaram

Na quadrilha junina da Ramadinha são resgatados vários passos antigos, que estão praticamente esquecidos.

Na quadrilha junina da Ramadinha são resgatados vários passos antigos, que estão praticamente esquecidos.

por volta do mês de abril e aconteciam nas quartas e sextas-feiras a noite a partir das 7h30. Os trajes ficaram por conta das participantes, que no mesmo período dos ensaios já iam definindo quem seria cavalheiro e quem seria dama. “Algumas mulheres preferem o papel masculino pela facilidade da vestimenta, que se resume a camisa, calça e bigode” declarou a então Presidente, Edna Fernandes.

Entre tantas cores, um traje chamou atenção pela criatividade. O vestido da noiva Maria de Lourdes, grávida de 4 meses, foi confeccionado com TNT, um tecido barato que é produzido por fibras naturais, muito utilizado para decoração de festas. O Noivo, ou melhor, Dona Maria das Graças foi a responsável por bordar a peça, que ela mesma utilizou, pois já fez as vezes da dama de branco por cinco edições da festa.

Outras mulheres do bairro, não associadas, também podem participar da quadrilha. O apoio para a realização do evento e pagamento do trio de forró vem dos esposos das participantes. Já a ornamentação do arraial fica por conta das dançarinas e de alguns vizinhos, que se solidarizam com a festividade.

O trio Introdução Musical conduziu o ritmo da festividade.

O trio Introdução Musical conduziu o ritmo da festividade.

A música ficou por conta do trio de forró, Introdução Musical que todos os anos marca presença nesse período. O grupo conduziu toda a apresentação da quadrilha, fazendo com que dançarinas e público se interligassem através do ritmo contagiante do forró autêntico. Os componentes João Bosco, Ademar Silva e João Matias não perderão a alegria e o compasso um só minuto.  Para João Matias, o responsável pelo triângulo, esse evento enaltece a cultura e dá uma visibilidade positiva ao bairro.

Com muita animação e espontaneidade, Luzia Medeiros de 52 anos de idade, fez jus ao seu título de Rainha do Milho. “Me sinto uma jovem de 15 anos e tenho o maior prazer de colocar a roupa para dançar minha quadrilha”, enfatizou Luzia pouco antes da apresentação. Além de incentivar as outras participantes, ela também citou os benefícios da dança como atividade física. A senhora ainda destacou que nunca saiu de homem na quadrilha, “acho que não me sentiria a vontade, prefiro sair de mulher, porque eu rebolo e gosto de balançar a saia”, finalizou.

De todas as atividades desenvolvidas no Clube de Mães (Dia das Mães, Dia das Crianças e a Confraternização de Fim de Ano), a Festa de São João tem a preferência das associadas.

Carmem Lúcia, moradora do bairro há dezenove anos, gosta muito da tradição da quadrilha e destacou que já chegou a

O evento foi a atração do começo de noite dos moradores da comunidade.

O evento foi a atração do começo de noite dos moradores da comunidade.

filmar e enviar para seus parentes que moram no sudeste. Já Joelma Diniz, ex-dançarina do festejo aproveitou a ocasião para ajudar no seu sustento e levou seu carrinho de doces e guloseimas para o local. “Dancei na quadrilha por três anos, mas tive que me afastar devido a um problema que tive no joelho”, lamentou a vendedora ambulante.

Mesmo após o final da apresentação da quadrilha, a zabumba, o triângulo e a sanfona do trio de forró Introdução Musical, não tiveram descanso. As pessoas presentes ainda tiveram uma hora de muito forró para arrastar o pé e ficar com aquele gostinho de quero mais, para o ano que vem.

Fotos e Edição: Felipe Valentim 

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