A tradição do São João no interior que permanece viva
Repórter: Eduarda Queiroz
Fotógrafa: Eduarda Queiroz
Editora: Milena Ferreira
O São João se constitui como uma das festas de maior celebração no Brasil. Do Norte ao Nordeste, as festividades se espalham como um fogo de palha e, desde o mês de maio, já há comemorações, como os festejos “pré-São João”. De fato, cada lugar tem sua peculiaridade de comemorar-la, o que a torna uma festa de muitas faces que consegue atrair pessoas com gostos totalmente distintos.
Bandeiras coloridas no São João de Campina Grande-PB. Foto: Eduarda Queiroz
A verdade é que, além da mudança de estados, a festa muda a poucos quilômetros de distância. Luiz Gonzaga, fala que Dominguinhos tem uma grande responsabilidade quando ele urbanizou o forró e, por isso, tem que ser cada vez melhor. Mas, será que é só nos grandes centros urbanos que o forró tem que ser melhor?
As palhoças de forró mantêm um grande significado afetivo na memória das pessoas, sendo um exemplo de levar a festa a centros urbanos. Não é à toa que as maiores festas de São João do país, são derivadas de forró em terreiros ou nas palhoças. A exemplo disso, temos o “Maior São João do Mundo”, em Campina Grande, na Paraíba. Hoje, o cenário é bem diferente; com mais de quarenta anos de festa e de olhares atentos, é natural que as mudanças se tornem condizentes com o mercado.
Na parte de cima do Parque do Povo a tradição das palhoças é algo que se tornou canônico. São elas: Zé Lagoa , Seu Bezerra, Seu Vavá, e Zé Bezerra. Por lá, todas as noites são expressos trios de forró pé de serra, como no interior. Já na parte de cima, temos o palco principal que conta com inúmeras atrações. Estas nem sempre são tradicionais de um típico São João, mas estão lá.
Tradicional Palhoça de Zé Bezerra, no Parque do Povo. Foto: Eduarda Queiroz
“Sala de reboco” é uma das músicas mais emblemáticas do Rei do Baião e, apesar de não faltar no repertório de alguns artistas no São João de Campina Grande, não há, de fato, a “sala de reboco”. Isso fica por conta das festas interioranas ou das palhoças de forró que concentram um público diversificado e que se preocupa em manter a cultura viva.
O São João do interior ainda é como antigamente: fogueira, comida, e forró. A comida sempre se estabelece como uma relação muito íntima da maioria das comemoração do país, é assim no Natal para a maioria dos estados do Brasil. No interior, o milho cozido, a pamonha e a canjica são sinônimos de comemorar a fartura. Afinal, a festa do interior começa desde a plantação até o fim do mês junino. Nos sítios e pequenas cidades, a comemoração de junho é marcada por um viés puramente de reunião familiar, já nos centros urbanos, há uma grande mistura de ritmos e comidas.
Produção de milho da zona rural de Parari-PB. Foto: Eduarda Queiroz
Na cidade de Parari-PB, localizado a 100 km do “Maior São João do Mundo”, as comemorações juninas também são vívidas. Geograficamente, elas são próximas, mas há quem prefira ir comemorar no interior do estado, como antigamente.
Micaele Silva, 21, mora na cidade do “Maior São João Do Mundo”, mas todos os anos se dirige à sua cidade natal, Parari-PB, para comemorar o São João da forma mais tradicional. Ela menciona que são diversas situações e memórias que a fazem gostar mais do interior do que da festa em grandes centros urbanos. “Quando eu menciono que acho melhor no interior, é o São João nos sítios especificamente, como o verdadeiro forró, a fogueira, além da reunião familiar.”
Queima da fogueira em homenagem a São João, no interior da Paraíba. Foto: Eduarda Queiroz
Para Dayane Queiroz, 25, a festa no interior é representativa. Ela menciona: “A cidade grande reúne um público maior por estar associada à presença de grandes artistas e uma maior estrutura para atração de turistas. No interior, tudo é simples, é a fogueira que se acende, o milho que se assa nela. A preparação durante o dia das comidas típicas, as brincadeiras e a ação de soltar os ‘chuveirinhos’ junto às crianças, é questão de tradição mesmo, do laço afetivo que se constrói na infância, que nos traz de volta para o interior.”
Do litoral ao Sertão, o São João da Paraíba é uma união de tradição e cultura. No interior do estado ou no forró urbanizado por Dominguinhos, a festa segue com muita palha para queimar e aquecer o coração dos amantes do mês de junho.