Repórter: Samya Amado
Fotógrafa: Gabryele Martins
Editor: Fernando Firmino
Você pode não conhecer Severino Xavier de Souza, mas ‘Biliu de Campina’ certamente você conhece. Formado em direito pela Universidade Estadual da Paraíba, Biliu trocou a advocacia pela música e se tornou um dos maiores referenciais do forró, além de ser considerado um verdadeiro patrimônio cultural da Rainha da Borborema.
Em sua vasta obra, Biliu celebra Marinês, Gonzaga, Jackson do Pandeiro e tantos outros nomes que fazem do Nordeste um ninho de poesia, amor e musicalidade. Seja com um ‘Tributo à Jackson e Rosil’ ao ‘Diga sim a Biliu de Campina’, o cantor expressa a sua arte com a responsabilidade de quem carrega a Paraíba no peito e espalha a Cultura Nordestina por todo o mundo.
A sua obra faz com que o forró raiz, o xote, o xaxado e o baião sejam imortalizados. O seu compromisso com a Cultura Popular tem inspirado gerações, como é o caso de Pedrinho Sanfoneiro (16): “Eu sempre fui um extremo fã de Biliu! Desde pequeno, sempre fui criado ouvindo música popular, principalmente forró, que é o estilo preferido dos meus pais e, consequentemente, o meu”, comentou.
Apadrinhado pelo cantor, Pedrinho contou ao Repórter Junino como ganhou esse presente: “Eu recebi Biliu na minha casa e ele viu o meu jeito de tocar. […] A gente tava sempre brincando e tocando, e quando foi no final, ele falou com o Filipe Sousa e me deu essa notícia de que eu ia ser apadrinhado por ele”, explicou.
Pedrinho externou a alegria que sentiu com o apadrinhamento: “Até então eu era só um fã, eu estava tendo a primeira vez o contato de poder conversar pessoalmente com ele e recebi essa notícia logo de cara. […] É uma grande responsabilidade levar o legado de um artista tão grandioso e que carrega tantas histórias, mas nesses dois anos, três anos em que eu tenho convivido com Biliu, eu aprendi muitas coisas e vou levar isso pra minha vida”, finalizou o sanfoneiro.
“O meu forró é pé e cabeça de Serra.” – Biliu de Campina
O maior carrego do Brasil n’O Maior São João do Mundo
O dia 22 de junho de 2024 foi escolhido para anunciar a sua aposentadoria e ele foi homenageado com um tributo no Parque do Povo. O show, permeado por muita emoção, foi conduzido por Filipe Sousa e recebeu vários artistas que têm Biliu como inspiração e padrinho na música: “O maior desafio desse show é segurar a emoção, porque passa um filme na nossa cabeça… Tudo o que Biliu nos ensinou, tudo o que Biliu nos proporcionou e hoje, sem ele estar no palco como a nossa âncora, como o nosso sustentar para a gente defender esse show sozinho, homenageando ele e defendendo o legado dele, realmente, para mim é a maior emoção de todos os tempos”, pontuou.
Filipe comentou ainda sobre os principais ensinamentos do mestre: “Nunca ter vergonha das suas origens, da sua música, da sua cultura e do seu povo. É isso que o artista popular tem que defender”, disse.
Madeira que o cupim não rói
Além da alegria e de todos os ótimos causos contados pelo artista, a sua força sempre foi elogiada: “Biliu é pura resistência. Toda vida foi resistência, tanto no que ele cantava quanto no que ele defendia. […] Biliu de Campina, para mim, é a maior referência desse São João. Ele retrata a força do povo campinense, ele retrata a alegria do povo campinense e o amor que o povo campinense tem em receber qualquer cultura de qualquer região do país”, enfatizou Filipe, que conduziu com maestria a homenagem.
Biliu, que tem uma história icônica com O Maior São João do Mundo, é dono de uma obra viva e que não deixa ninguém parado quando toca. Em celebração ao legado do mestre do ritmo e da alegria, A Vila Sítio São João foi palco não só de um tributo, mas do pré-lançamento da videobiografia do artista intitulada de “Se é pra felaputariar, eu vou!”, que conta a história de Biliu de Campina, pontuando a sua importância e legado no São João de Campina Grande. O Projeto, que tem apoio da Lei Paulo Gustavo, será dividido em 5 episódios, relembrando as memórias e causos desse Nordestino que, como ele mesmo fala, “se já vi melhor, não me lembro”.
A videobiografia é dirigida e roteirizada pela professora Goretti Sampaio, com assistente de direção de Filipe Sousa e Inaldete Almeida.
O evento, que ocorreu no último dia 24, dia de São João, contou com a participação dos afilhados musicais de Biliu e dos fãs da sua música. Thiago Valério, guitarrista e sobrinho do cantor, falou do processo de escolha do repertório para o tributo que ocorreu na Vila Sítio São João: “A gente fez um apanhado de tudo e tentou escolher o melhor possível. É uma emoção muito grande. É muito difícil, dada a circunstância, mas também é uma responsabilidade que a gente precisa arcar: estar aqui para representar ele, representar a música nordestina e vamos seguir fazendo isso”, finalizou.
João Dantas, amigo do artista há mais de 50 anos, abriu o pré-lançamento da videobiografia do cantor falando sobre a pluralidade da sua obra: “Hoje é um dia de comemoração, de júbilo, de aplausos. […] Esse momento aqui, é um momento de encerramento da carreira de Biliu de Campina no palco, mas Biliu continua sendo um grande compositor, um grande crítico, um grande poeta, escultor…”, comentou.
No último dia 27 de junho, a dupla ‘Zezé di Camargo e Luciano’, que se apresentou no palco d’O Maior São João do Mundo, também homenageou o mestre. Com a foto do artista projetada no telão do palco, Zezé tocou na sanfona a música ‘Vida de Viajante’, canção de Luiz Gonzaga, que é uma das referências de Biliu: “Essa canção é em homenagem a ele, a tudo o que ele representa pra música e pra cultura aqui da Paraíba. Essa é pra você, Biliu!”, disse Zezé.
O gênio dos ritmos, que com muito humor se autointitula de ‘carrego’, precisou se afastar dos palcos por orientação médica, mas tem sido muito bem representado com todas as homenagens à sua longa trajetória artística. Biliu se despede dos palcos, mas deixa o caminho aberto para que a nova geração dê continuidade à preservação da Cultura Popular Nordestina.
Não existe O Maior São João do Mundo sem a influência da arte de Biliu de Campina. Ele carrega a cidade no peito, na obra e no nome!
Viva o forró, o coco, xote, xaxado e baião!
Viva a arte do maior carrego do Brasil!
Viva o mestre Biliu de Campina!