Moradores ganham vizinhos inusitados no São João. Saiba mais sobre a curiosa profissão dos baleiros
Os moradores da Rua Olegário de Azevedo, próximo à Pirâmide, ganharam uma vizinhança diferente neste São João. Um Caminhão coberto por uma lona e estacionado debaixo de uma árvore, serve de abrigo para um grupo de treze baleiros dos municípios de Areia e Marí. Eles passarão o mês trabalhando no Maior São João do Mundo, e enquanto o “patrão” não aluga uma casa, eles permanecem acampados.
O estudante Gildivan Neves, que mora no terceiro andar do Edifício João Henrique, próximo ao local onde os baleiros estão acampados, conta sua impressão ao ver o grupo de trabalhadores na calçada. “Fiquei assustado, pensei que fossem desocupados de alguma cidade que vieram passar o fim de semana na festa e por não ter dinheiro pra voltar, ficaram por aí”. Mas o susto passou, “eram trabalhadores que têm que passar por isso pra ganhar a vida”, disse.
“Onde tem festa, nós vamos lá”, diz Robério Correia, de 19 anos, que veio da cidade de Marí para trabalhar durante os 30 dias da festa. “Todo final de semana estamos no mundo, passamos dois ou três dias em casa e o resto trabalhando”, conta Marcelo Rodrigues, também de Marí. Ele conta que é casado, e com uma comissão de 15% sobre os produtos vendidos, sustenta sua família.
Os que não são “terceirizados”, como é o caso de Bruno Santiago, têm uma margem de lucro um pouco maior, mas “dá quase na mesma coisa, agente tem que gastar com a passagem e alimentação, coisa que os outros não pagam”, explica.
Enquanto estiverem por ali, os vendedores precisam ser criativos e literalmente “se virar”: tomar banho nos banheiros públicos, estender suas roupas nos muros, suspender redes entre postes ou pedir água a algum vizinho. Mesmo assim, Robério diz que se orgulha do seu trabalho, pois ganha seu dinheiro honestamente.
E assim, gritando “olha o baleiro, olha o baleiro” e balançando um chocalho improvisado, feito por uma lata com pedrinhas dentro, eles tentam chamar a atenção e vender seus produtos àqueles que estão ali pra se divertir. Para esses homens simples que ganham sua vida adoçando a dos outros, São João é sinônimo de trabalho e renda. E carregando um pesado tabuleiro enfeitado de balas enfileiradas, suam muito para conseguir o “pão de cada dia”.