No mês de Junho, tradicionalmente, é celebrado na cultura popular e folclórica nordestina os Santos Juninos. As festas, quadrilhas, fogueiras e sabores caem no gosto popular e festejar o dia destes santos enriquece ainda mais nossa cultura, principalmente no Nordeste, ganhando o restante do país e do mundo. As superstições a respeito de suas imagens são diversas, um misto de crença e fé.
Em conversa com o Repórter Junino, o Padre José Anselmo da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, de Pirpirituba-PB, fala sobre a importância de se manter a tradição, a relação das crenças e fé e a história que se perde dos santos em virtude das superstições criadas em torno de suas imagens.
Conhecendo um pouco sobre os Santos Juninos, são eles: Santo Antônio (13 de junho), São João (24 de junho), São Pedro e São Paulo (29 de junho). Porém, São Paulo, não é tão celebrado quanto os demais.
O primeiro a ser comemorado é Santo Antônio, no dia 13 de junho, o padroeiro dos pobres e considerado o santo casamenteiro. Nascido em Lisboa, em 1195, batizado como Fernando de Bulhões. Trocou o nome para Antônio em 1220 quando ingressou na Ordem Franciscana. Nas crenças em torno dos santos, o que mais tem simpatias cá e acolá é Santo Antônio, tido como o santo casamenteiro. “São questões que a igreja respeita, vejo que as crenças populares, permanecem no inconsciente da população. A questão da fé nas crenças deve ser limitada, por exemplo, uma moça que está querendo casar e faz esse manejo com a imagem do santo, eu não sei até que ponto ela conhece a real história de Santo Antônio, ou, se ela vai apenas pela superstição em querer conseguir o matrimônio urgentemente”, diz o reverendo, e acrescenta, “não é uma fé que a igreja evangeliza, ou que vá transformar a sua vida, é uma fé movida por interesses. A Igreja Católica busca trabalhar com a imagem desses santos, pregando o respeito pela fé, que deve ser colocado em destaque, como modelos de fé, que segmente a Jesus. Não influenciamos e incentivamos esses comportamentos, porém a igreja respeita por ser uma expressão de fé. Quem levar para o lado da crença, a gente (igreja) tenta purificar para que não atrapalhe o que deveria ser a verdadeira crença no santo, de certa forma é até um desrespeito a imagem”, afirma.
A igreja vem a mostrar a vida verdadeira dos santos e o que a implicou, eles foram seres humanos como qualquer um de nós, mas por seus testemunhos viraram santidade. Segundo o Padre, Santo Antônio tem muitas histórias interessantes, por exemplo, ele tinha bilocação, ou seja, poderia estar em dois locais ao mesmo tempo; Viveu o milagre da mula que se curvou e foi adorar a eucaristia; Outra vez em determinado lugar foi pregar para os peixes, pois as pessoas daquela região não queriam escutá-lo.
São João Batista (que se tornou São João) é o protetor dos casados e enfermos. Diz a Bíblia que foi ele quem batizou Jesus. É o mais famoso dos três santos de junho, tanto que as festas juninas são conhecidas como festas joaninas ou festas de São João, onde no nordeste é muito forte e cultural comemorar a passagem para o dia de São João, 24 de junho. Conhecido como Santo festeiro é também o santo mais celebrado. Em relação a São João e a São Pedro não se tem em vista simpatias, tem tradicionalmente a cultura de acender fogueiras. Dizem que quando nasceu São João Batista, o seu pai, Zacarias, fez uma fogueira no alto da montanha, como símbolo de seu nascimento. Existe uma lenda que diz que os fogos de artifício soltados no dia 24 são “para acordar São João”. A tradição acrescenta que ele adormece no seu dia, pois, se ficasse acordado vendo as fogueiras que são acesas em sua homenagem, não resistiria e desceria a terra.
A história de santidade deve estar sempre em destaque, São João Batista é um santo que em sua vida preparou os caminhos de Jesus, às vezes a imagem vem com ele apontando para um cordeiro na mão, indicando Jesus como o caminho de Deus. Numa pequena aldeia de nome “Adão” João pregou a respeito “daquele que viria”. Nessa aldeia também, João acusou Herodes e repreendeu-o no seu discurso. Esta acusação pública chegou aos ouvidos de Herodes e valeu-lhe a prisão e a pena de morte por decapitação. Toda sua história se perde um pouco na questão popular quando se visa apenas cultuar as festas.
Como símbolos dessa cultura popular, o forró regional, pé de serra (de raiz), cantado por Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Santana, dentre outros, que retratam a vida do sertanejo, sua batalha pelo alimento, sua luta contra a seca e suas ligações com os santos juninos, muito retratados nas músicas, como expressão de fé e cultura. Hoje os forrós com suas novas características e influencias perdem suas raízes. “Quando uma questão cultural compactua com o capitalismo, se tem uma distorção da fé, da crença, da cultura. Não ficou mais como o regional, também há uma influencia de outras culturas”, afirma Pe. Anselmo.
O último santo comemorado nas festividades juninas é São Pedro, visto como o dono da chuva, o guardião das portas do céu, é também considerado o protetor das viúvas e dos pescadores. São Pedro foi um dos doze apóstolos e o dia 29 de junho foi dedicado a ele. Nascido com o nome de Simão, foi chamado de Cefas (pedra, em aramaico) por Jesus, por sua liderança. Foi o primeiro papa da Igreja Católica Apostólica Romana, e, segundo a tradição da igreja, foi nomeado o chaveiro do céu. É atribuída a ele a responsabilidade de fazer chover e mudar o clima. “São Pedro, por ser mais velho dos santos é conhecido como protetor das viúvas, pelo o que se nota no evangelho por se falar apenas em sua sogra e não em sua esposa, supõe-se que ele era viúvo” acrescenta o reverendo. Como São Pedro também é cultuado pelos pescadores, que fazem a sua homenagem realizando procissões marítimas. “São Pedro morreu crucificado em Roma de cabeça pra baixo, diz a tradição da igreja. E cabe a Igreja reviver em suas celebrações sua memória e o que de fato significa o santo e sua história para a igreja, não só na questão popular”, acrescenta o padre.
Concluindo a entrevista com Pe. Anselmo, o Repórter Junino questiona o que há de aspecto positivo e negativo em seu ponto de vista na atual celebração junina. Ele diz que, “ a unidade, o estar junto, o momento familiar de reunir os parentes e amigos em torno da fogueira, embora essa tradição venha diminuindo até por questões ambientais, são pontos positivos, mas, ao mesmo tempo vem se perdendo essa linha familiar, onde a cultura deixa de promover a fé por outras influencias”, conclui.
Padre Anselmo apresenta um programa religioso na Rádio Talismã (99,3 fm) em Belém-PB de segunda a sexta, as 05h:50min (Orar com Jesus), nos sábados as 06h:00min e nos domingo a Santa Missa, as 07h:00min. O programa é líder em toda a região do Brejo e do Curimataú. Também pode ser acompanhado pelo site: http://www.talisma993fm.com.br/