REPORTAGEM ESPECIAL: São João nas escolas

Campina Grande, 21 de junho de 2014
Alunos e professores reunidos para mais uma edição do "Quadrilhão da Prata"

Alunos e professores reunidos para mais uma edição do “Quadrilhão da Prata”

 

Considerada uma das maiores manifestações da cultura popular nordestina, os festejos juninos transformam o Nordeste inteiro, neste período do ano, num grande arraial. Mais que uma festa, as comemoração juninas representam uma das mais valiosas tradições da região, reunindo cultura, religiosidade e arte. Por esta razão, a festa de São João, como é mais conhecida a celebração em todo o país, é também explorada no universo educacional, destacando-se como um importante objeto de conhecimento da cultura regional.

Envolvidas no clima contagiante da grande festa, as instituições de ensino espalhadas pela região da Rainha da Borborema passam a explorar os diversos símbolos que representam a tradição junina, envolvendo professores, estudantes e a comunidade por meio de várias atividades festivas. Reunidos em torno dos principais elementos que simbolizam a tradição como a música, a dança e as comidas típicas, as escolas de ensinos fundamental e médio exaltam a cultura, celebrando o conhecimento dos festejos em união.

Os preparativos das atividades escolares começam, em gera,l um mês antes do início dos festejos juninos. É quando as escolas já estão a todo vapor, mobilizando os professores, dirigentes educacionais, estudantes, pais de alunos para as diversas atividades a serem realizadas durante o mês de junho. Em alguns casos, para além dos professores e estudantes, as instituições de ensino mobilizam também a comunidade em que estas se encontram localizadas num trabalho de resgate às origens dos festejos juninos.

É o que acontece, por exemplo na Escola Dr. Elpídio de Almeida, mais conhecida como Estadual da Prata, uma das maiores instituições de ensino público de Campina Grande. Segundo o professor de geografia Carlos Daniel, toda a comunidade participa ativamente dos preparativos para a festa junina realizada todos os anos pela escola. “Os pais incentivam muito os alunos que estão na quadrilha, inclusive na confecção das roupas. Com a ajuda deles, tivemos aumento na quantidade de barracas na festa. Eles próprios fizeram as comidas típicas”, relatou. “Essa parceria entre a escola e a comunidade é um ponto que a escola sempre levanta”, destacou Carlos Daniel, que há sete anos é o coordenador do evento junino no colégio.

O ponto mais alto das festividades juninas escolares é a realização da quadrilha, um dos maiores símbolos da festa de São João. Neste período do ano, as aulas se revezam com os ensaios para a preparação da apresentação do ‘Quadrilhão da Prata’, como é chamada a quadrilha que conta com a participação massiva dos estudantes de várias séries escolares. A aluna Ana Sayonara, 17, é uma das entusiastas do evento. Ela e os colegas se reúnem em vários dias para ensaiar os passos que constituem a dança em que todos se apresentam vestidos a caráter com vestes juninas. “Deu pra conciliar com as aulas, porque os ensaios eram em intervalos ou em horário de almoço”, contou a estudante.

Apresentação dos alunos da Lourdinas na Pirâmide do Parque do Povo

Apresentação dos alunos da Lourdinas na Pirâmide do Parque do Povo

As festividades juninas acontecem não apenas nas escolas públicas mas também nas instituições de ensino particulares da cidade, integrando os alunos, dirigentes escolares e pais dos alunos com grande sucesso. Na escola particular Virgem de Lourdes, mais conhecida como Lourdinas, uma das maiores do setor privado de Campina Grande, os alunos do ensino fundamental I, que incluem as séries 2°, 3°, 4° e 5° ano, participaram dos festejos juninos. Além desses, pais e amigos também contribuíram, direta e indiretamente, para que o evento acontecesse, em geral, pagando-se taxas cujo destino é para a ornamentação da festa.

As festividades juninas na Escola Lourdinas já se consolidaram como uma tradição neste período do ano. Há doze anos a instituição promove um evento intitulado de “Forroteando”. O evento homenageia em todos os anos um artista regional diferente. Este ano o grupo “Os Três do Nordeste” foi o homenageado, com suas músicas inclusas na apresentação dos alunos. A Festa, que acontecia no Sítio São João, este ano foi transferida para a Pirâmide do Parque do Povo.

 

Dificuldades superadas 

Mas nem sempre as escolas conseguem mobilizar todos os pais dos estudantes e a comunidade em torno das atividades festivas. Na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Drº Hortensio Sousa Ribeiro, mais conhecida como o Premen, a direção e os professores relataram que são poucos os pais que ajudaram na preparação para as festividades dentro da escola. O convite é feito, mas a maioria deles não comparece.

Apesar disso, alguns dos pais fazem questão de participar ajudando os filhos e a escola naquilo que podem. Os pais do estudante José Jonathan, 17, são alguns destes. Ele relatou que não apenas os seus, mas os pais de alguns outros colegas participaram de forma ativa, ajudando-os a fazer as comidas e a decoração junina, como na confecção da bandeira do Brasil, que fez parte da decoração junina no pátio da escola este ano em alusão à Copa.

Mesmo com todo o trabalho feito antecipadamente e de maneira programada, nem tudo sai como o esperado. Segundo a diretora adjunta do Premen, Wilma de Melo Neves, não foi possível reunir todos os componentes da quadrilha do colégio este ano, mas uma quadrilha junina improvisada foi formada e se apresentou no local. A festa durou até o final da tarde. Em seguida foi a vez dos professores comemorarem. Com muita dança, um trio de forró e um cantador, os festejos perduraram até a madrugada.

Já a festa junina da Estadual da Prata contou com barracas de comidas típicas e o show de um trio de forró. O ‘Quadrilhão da Prata’ teve como tema o São João e a Capa do Mundo de Futebol. “Como o foco nacional é a Copa do Mundo, tentamos desenvolver um projeto que abordasse esse tema e o processo cultural de miscigenação que ocorre em Campina Grande”, explicou o coordenador do evento junino na Escola, Carlos Daniel.

Os artistas consagrados do Nordeste foram homenageados pelo trio de forró, que garantiu ao público “arrastapé”, com clássicos do forró pé de serra, até o início da tarde.

 

Ornamentação e equipamentos

Perguntados sobre o custeio da ornamentação e sobre o material usado nas festividades das escolas da rede pública de ensino, os gestores escolares responderam que tudo é comprado com recursos do PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola e pelo plano de ação. A ornamentação e a preparação são feitas por todo o coletivo escolar. Segundo os dirigentes, todos os funcionários e alunos são incentivados a participar.

Conforme informou a assessora da 3ª Gerência Regional de Ensino, Andréia Xavier, a gerência entrega materiais escolares didáticos, que vêm da Secretaria de Educação. Mas, caso as escolas precisem de apoio para realizar algum evento e o solicitem por ofício, a gerência vê a possibilidade de fornecer. Entretanto ela salientou que são fornecidos apenas os materiais básicos.

 

Estudo cultural sobre os festejos juninos

Para além das atividades festivas propriamente ditas, o São João também é objeto de estudo dentro de sala de aula. Em algumas escolas, o trabalho pedagógico em torno da tradição junina é realizado pelos professores da disciplina de Artes e por professores que lecionam macrocampos do Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI). Alguns até fizeram projetos, como a Rádio Escolar, desenvolvida há três anos pela Escola Estadual da Prata, onde os alunos podem ter acesso a diferentes conteúdos.

Diretora adjunta do Premem em entrevista ao Repórter Junino

Diretora adjunta do Premem em entrevista ao Repórter Junino

Outros professores fizeram parte do trabalho da cultura com os alunos, porém com menos ênfase. “Ensinaram sobre o São João, mas também abordaram os 150 anos de Campina Grande, da história do Parque do Povo, da cidade, das ruas”, relatou Wilma de Melo Neves, diretora adjunta do Premen.

Sobre a importância dos festejos na formação do educando, Wilma de Melo disse que é preciso manter a tradição e passar o conhecimento cultural. “O São João não é só ir pro Parque do Povo dançar, pois há trabalho e historiedade por trás”, salientou. Todos os demais entrevistados consideraram importante essa formação. A diretora da Estadual da Prata, Edineis Neves Cavalcante, apresentou o lado social e lúdico da diversão como essenciais nessa ponte.

O professor de Matemática e Física do Premen, Luiz Gonzaga, cita o lazer como importante interesse do alunado. Esse ponto sobre o estudo cultural fora do campo escolar também foi defendido pelo professor de Geografia do Estadual da Prata, Carlos Daniel. “É preciso mostrar aos alunos um modelo de teatro, de música, de rádio e um modelo estrutural fora da escola”, declarou.

 

Fiscalização

Para que uma festividade desse tamanho aconteça nas escolas sem problemas e sem que prejudique o programa de conteúdos escolares normais a ser ministrado, se faz necessário a fiscalização por alguma entidade. A 3ª Gerência Regional de Ensino (GRE) da Paraíba, situada em Campina Grande, e a Secretaria Municipal da Educação são órgãos responsáveis por esta fiscalização nas escolas públicas da cidade.

Há uma preocupação sobre esses eventos, principalmente porque a sua realização não pode interromper as aulas. Caso contrário elas terão que ser repostas, o que pode de alguma forma interferir no cumprimento do calendário escolar. A direção do Premen e da Estadual da Prata confirmaram que suas aulas não foram atrapalhadas pela preparação das festividades juninas.

O gestor deve avisar à gerência desses eventos, enviando um convite. Do contrário, fica sujeito a receber notificação do órgão. Na GRE, existem o Núcleo de Apoio Pedagógico e o Núcleo de Apoio ao Aluno (NAGE), que verifica esses eventos. Segundo assessora da 3ª Gerência Regional de Ensino, Andréia Xavier, o chefe de núcleo forma uma equipe para fiscalização após receber o convite das escolas.

Segundo a direção do Premen, houve sim fiscalização pela GRE, apesar de ter sido rápida, afinal precisavam ir a outras escolas no mesmo momento. Já a diretora geral da Estadual da Prata, Edineis Neves Cavalcante, contou que não houve fiscalização, mesmo com a Gerência tendo sido comunicada dos festejos.

Como se vê, muito mais que diversão e celebração, os festejos juninos revelam-se um importante recurso socioeducacional trabalhado pelas escolas da região e que tem como uma das finalidades principais reforçar o resgate deste que é um dos principais traços tradicionais característicos do povo nordestino.

 

EQUIPE REPORTAGEM

Coordenação da Reportagem: Prof. Rosildo Brito

Texto: Anthony Souza, Bruna Duarte, José Maurício e Klauber Canuto

Edição: Felipe Valentim

Fotos: José Maurício e Klauber Kanuto

 

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