O nordeste é poesia,
Deus quando fez o mundo
Fez tudo com primazia,
Formando o céu e a terra
Cobertos com fantasia.
Para o sul deu a riqueza,
Para o planalto a beleza
E ao nordeste a poesia.
(Trecho de Patativa do Assaré)
Chegou ao fim, na noite deste sábado (27), o “São João Cultural”, evento que evidenciou o que diz as rimas de Patativa do Assaré, reinventando as identidades culturais, sem deixar de lado o respeito ao Folclore nordestino e a Cultura Popular de raiz. O “São João Cultural”, que chega a sua 3ª edição, é pela segunda vez incluída na grade de programação oficial do Maior São João do Mundo, realizado no Teatro Municipal Severino Cabral, promovido pela Prefeitura Municipal de Campina Grande, por intermédio da Secretária de Cultura (SECULT). O Festival foi dividido entre os dia 21 e 27 de junho e reuniu dezenas de artistas e centenas de espectadores e amantes da arte popular.
No último sábado (27), o “São João Cultural” contou com a presença da banda Os Florianos do Pífano, o poeta Felisardo Moura, Grupo Acauã da Serra, Grupo Brasil Caboclo (sob o comando de Arly Arnoud), Daniel Duarte, Agda Moura, Geralda Velez, Roninho do acordeon, Luizinho Calixto, Biliu de Campina e mais uma dupla de violeiros.
Logo no hall de entrada do teatro, a banda Os Florianos do Pífano fez sua apresentação recepcionando o público. O poeta Felisardo Moura foi o mestre de cerimônia do evento e declamou versos entre as apresentações. A exibição de dança do Grupo Acauã da Serra trouxe ao palco do Severino Cabral diversos estilos, tais como baião, xote pisado, dança do araruna, uma sequência que mostra a quadrilha junina em sua forma mais autêntica.
Com uma apresentação folclórica, permeada pelo cômico, o Grupo Brasil Caboclo, sob o comando de Arly Arnoud, arrancou risos e sorrisos da platéia, com versos e prosas. Em alguns momentos a mostra muito se aproximou do aboio e em outros, do coco de embolada. “É esse o Brasil Caboclo: um Brasil sem mistura do estrangeiro, um Brasil bem brasileiro”, declamou e cantou Arly. Em seguida foi a vez da cantora Geralda Velez e banda e uma dupla de violeiros enriquecerem o espetáculo cultural da noite.
O cantor e sanfoneiro Roninho do Acordeon, além de trazer o irreverente Baixinho do Pandeiro ao palco, homenageou ainda Zé Calixto, presente no teatro, e os mestres Luiz Gonzaga, Sivuca e Dominguinhos. Roninho, fruto da terra campinense, fez o público viajar e sobretudo emocionar-se. Ao final do seu show, foi veemente aplaudido pela plateia lotada.
O historiador e professor Daniel Duarte também se apresentou na noite deste sábado, contando estórias e empolgando a plateia. Daniel finalizou homenageando o Rei do Baião com a música “A morte do vaqueiro”. A jovem poetisa Agda Moura deu sequência ao evento, declamando versos de poetas e cantando outros de sua autoria. Com simplicidade e exatlação de nordestinidade, finalizou com um coco autoral. Agda destaca a importância da participação do jovem para manter a nossa cultura viva. “O nordeste é um berço imortal de poesia, dança, cultura, e essa maravilha merece ser reverenciada e admirada pelos jovens”.
Luizinho Calixto trouxe a sua sanfona de oito baixos e cantou músicas que marcaram época. A noite ainda contou com a irreverência de Biliu de Campina, que cantou as belezas da Rainha da Borborema e da Paraíba.
Felisardo Moura, que há mais de 25 anos roda o Brasil apresentando festivais de cantadores, fez sua crítica a falta de oportunidade que os artistas que exaltam a sua terra têm e, emocionado, se declarou “extremamente feliz” por participar do evento dessa noite. “Eu acho fundamental um projeto como esse, o “São João Cultural” de Campina Grande, porque ele dá oportunidade aos artistas que, de certa forma, são postos à margem do processo midiático, ficam ausentes dos grandes eventos, dos grandes palcos culturais, que a mídia e os gestores públicos fazem questão de escanteá-los. E esse evento vem exatamente resgatar os valores que estão esquecidos e trazê-los ao público, porque existe um público que gosta da autêntica cultura nordestina, da raiz. Isso é, na verdade, valorizar a essência e a beleza do Nordeste”.
Lula Cabral, Secretário de Cultura de Campina Grande, também ressaltou a importância do evento para a cidade, já que “ele retrata nossas raízes, nossa cultura, através da música, poesia, do declamador, violeiro, embolador de coco, sanfoneiro, zabumbeiro… tudo isso traduzido na expressão que o povo nordestino gosta, a música autêntica”, assegurou Lula. O secretário frisou ainda que é necessário manter a presença de eventos como este para que a identidade nordestina não se perca.