Especial Sítio São João: Uma verdadeira viagem ao interior nordestino

Campina Grande, 3 de julho de 2015  ·  Escrito por Franklin Alves  ·  Editado por Dayane Andrade  ·  Fotos de Dalisson Markel

As características do povo nordestino são tão marcantes quanto sua história. Somos a terceira maior região do Brasil, do total de cinco. Nossa história começa desde o descobrimento, quando Cabral e sua esquadra aportaram por aqui. Após isso, a terra foi dividida em 14 capitanias para 12 donatários e apenas duas delas prosperaram, entre elas uma no nordeste. Participamos de vários combates contra holandeses, franceses e espanhóis. No nosso currículo consta também várias revoluções como, o Ronco das Abelhas, a Revolta de Quebra-Quilos, a Revolução Praieira, entre outras. Aqui nessa terra surgiu o cangaço, movimento que reunia vários seguidores, denominados cangaceiros, que aterrorizavam essa região e desrespeitavam as leis. Porém, mistificados e admirados pela resistência e pela crença de “roubar dos ricos para dar aos pobres”, sob o argumento de revolta pelas desigualdades. O Nordeste participou ativamente da construção do país e ainda contribui muito nos dias atuais para o desenvolvimento do mesmo.

O Sítio São João

Imagem de São João Batista

Imagem de São João Batista

Lugar onde os visitantes embarcam numa viagem por um vilarejo típico do interior do nordeste de cem anos atrás. No local está erguido a réplica perfeita de uma moradia das fazendas, dos engenhos, dos trabalhadores que exerciam suas funções na primeira indústria nordestina, representada no Sítio pela casa de farinha, local onde é fabricado os derivados da mandioca, onde o visitante pode degustar alguns produtos fabricados por lá mesmo, e entender todo processo, desde o modo de preparo da raiz, passando por uma forma de peneirar até chegar ao forno. Existem também 3 engenhos de períodos distintos do ciclo da cana de açúcar. Uma casa de ferreiro, que é uma industria milenar, mostra como eram moldados os artefatos de ferro em períodos passados. Ainda no ramo industrial, é possível observarmos no interior do Sítio São João, um desfibrador de sisal caruá, que foi a primeira fibra do nordeste usada na confecção de diversos objetos. A igreja matriz e a capela, ornamentam o local e remete ao público o caráter religioso da época. A bodega reúne de tudo um pouco, é justamente aquela que costumamos dizer que não falta nada, sem falar no depósito de mangaios, onde era possível comprar os mais diversos itens, muito semelhante a um armazém. O foto lambe-lambe, a tipografia de cordeis, vários restaurantes de comidas típicas, além de artesanato e uma espaço em homenagem ao poeta Rosil Cavalcante estão presentes no ambiente. A difusora, considerada a mãe do rádio, anuncia o início da festa e registra as mensagens deixadas pelos visitantes. Nas palhoças, grandes áreas destinadas a dança, acontecem as apresentações de artistas e eventos culturais, o povo começa o arrasta-pé, que de tão intenso faz subir a poeira e aumentar o calor. Esse ano o Sítio São João dispõe de duas áreas para dança, a principal, situada no centro do terreno e a secundária, situada do lado direito, vizinho ao parque de diversões, outra novidade de 2015.

A banda de pífano, vestida de cangaceiros, tocam os sucessos do forro pé-de-serra, a aglomeração de pessoas ao redor das aprensentações é frequente, assim também como os pedidos de fotografias. Também é destaque as quadrilhas juninas, os vaqueiros, as farinhadas, os ternos de zabumbas. Tornando o Sítio São João uma das maiores expressões do povo nordestino.

As comidas típicas nordestinas também tem espaço cativo na festa. Prova disso é que o comerciante Severino Barbosa, mais conhecido como “Biu do Alambique”, há 8 anos trabalha no Sítio São João e se diz satisfeito com a aceitação do público. Seu Biu trabalha com caldo de cana, sorda, pão doce e outras iguarias, mas revela que, além do caldo de cana, o que desperta a curiosidade dos turistas é a famosa cachaça brejeira, a qual a dose custa apenas R$ 2,00 e é capaz de deixar qualquer um de orelha quente com poucas doses. Ele garante que a cachaça é das boas e alerta para a moderação ao beber.

O Sítio na visão dos turistas.

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Turista Elaine Paiva. Foto: Dalisson Markel

Com o significativo aumento de turistas em nossas cidade, o Sítio São João se torna parada obrigatória, visto que lá se encontra a réplica perfeita de um vilarejo do interior e, segundo os próprios turistas que visitam o local, é isso que eles tem curiosidade em conhecer. Acompanhando alguns parentes da cidade de Caicó/RN, Alexsandro da Rocha (39), frequenta o Sítio há quatro anos. Mesmo morando em outra cidade ele faz questão de todo os anos no período junino está aqui em Campina Grande. Segundo ele, ao visitar o Sítio São João desperta boas lembranças e junto com elas o sentimento de saudades dos seus avós.Para Alexsandro o valor de R$ 5,00  que é cobrado para aqueles que  visitam é irrisória, visto que os organizadores precisam cumprir seus compromissos: “Considero a cobrança bastante justa, até porque aqui é um ambiente com estrutura e funcionários, inclusive a segurança está de parabéns, eu me sinto bem de conhecer a minha história, as nossas raízes do nordeste”, disse.

Para Elaine Paiva, da cidade de Natal/RN, a proposta do sítio é excelente. Ela, que está em Campina Grande pela segunda vez e pela primeira no sítio, ficou maravilhada e lamentou o fato do estabelecimento permanecer fechado pelo resto do ano. “ Eu sugeri ao proprietário que deixasse esse lugar como um museu permanente. É muito interessante, é atrativo e eu tenho certeza que mesmo cobrando a entrada seria sucesso absoluto, pois aqui é muito aconchegante o turista se sente bem nesse ambiente”, finalizou.

Segundo a organização, ainda não se tem uma contabilidade oficial de quantas pessoas já passaram pelo local durante esses dias, mas ao termino da exposição toda apuração será feita e os dados divulgados.

O que dizem os artistas ?

Várias personalidades da música nordestina já passaram pelo Sítio São João. Dentre elas podemos citar, Biliu de Campina, Ton Oliveira, Os 03 do Nordeste, Sirano & Sirino e, foi justamente esses últimos que conversaram conosco e remeteram sua opinião sobre o espaço. Segundo eles, tocar no sítio é viajar no tempo, é lembrar da época dos festejos

Cantor Sirino falando sobre o Sítio São João.

Cantor Sirino falando sobre o Sítio São João.

em propriedades rurais, é uma verdadeira viagem ao interior do nordeste de antigamente. Para a dupla a cultura é extremamente forte naquele lugar, ali ela criou raízes e além de encantar também ensina aos visitantes. “Numa época em que a nossa cultura está tão fragilizada, visitar isso aqui é resgatar a história, é reviver o passado, compreender a luta diária do homem do campo, sua morada, seu trabalho, sua vida. E precisamos disso mesmo, precisamos que o nordestino conheça as suas origens e se orgulhe delas. O nordestino é um povo feliz e merece espaços assim para lembrar suas raízes”, opinou o cantor Sirino enquanto esperava o início da sua apresentação. O parceiro de música Sirano concordou com o pensamento e indagado sobre a abertura do espaço durante todo ano, acrescentou: “Tem que ter, as pessoas tem que acabar essa mania de achar que as tradições, os festejos são só no mês de junho, porque numa época dessa tem muita gente que não pode vir pra cá, mas pode vir no mês de agosto ou no mês de julho, então a gente faz forró o ano inteiro”, completou.

A palavra do organizador

A mais de 20 anos, o dramaturgo e vereador João Dantas realiza o Sítio São João na cidade de Campina Grande e o considera como a maior expressão de nordestinidade em meio ao grande evento que é o Maior São João do Mundo. Segundo João, o singelo espaço volta no tempo e conta a história dos antepassados nordestinos. Como se fosse uma pintura, o dramaturgo pensa tudo nos mínimos detalhes, com a intenção de fundir a arquitetura rural com as expressões, com a fala, com os folguedos, com as musicalidades e com a poesia, oferecendo para os visitantes muito conhecimento e realmente o que há de melhor na história e nas tradições do povo nordestino.

O organizador nos revela que nunca montou o Sítio São João completo, para ele o Sítio continua sendo uma obra

João Dantas, organizador do Sítio São João.

João Dantas, organizador do Sítio São João.

inacabada. No projeto oficial de João Dantas, além de todas as construções descritas no início da matéria, ainda constam; uma mulandeira de algodão, o museu do cangaço, o museu das fibras, o museu do ciclo do couro, o museu do barro e outros elementos. A partir desse ano ele pretende se organizar para tentar construir essas novas atrações, presenteando assim os visitantes do espaço.Além do alto custo para manter o lugar, segundo ele as despesas giram em torno de 12 a 15 mil mensais, a incerteza sobre o terreno, que é alugado, é o que faz com que o Sítio fique fechado durante onze meses. Ele afirma que as despesas com uma eventual mudança são muito altas e que ainda constam dívidas da ultima montagem da vila já no terreno atual, além das perdas de materiais ( tijolos, telhas, madeira) que  gira em torno de 60%. A previsão é que em breve o sítio migre para o caminho privado, deixando de lado o institucional e se desvincilhando do que é público. “O sítio continua sendo esse sucesso grandioso e vai se tocando até onde der”, disse ao finalizar a entrevista.
Se você tem curiosidade em conhecer a história nordestina e até interagir com os elementos existentes naquela época, isso é possível, e não é necessário nenhuma máquina do tempo. Basta apenas se dirigir ao Sítio São João, situado na Av. Cônsu J. Noujaim Habib (Canal do Prado), S/N – Catolé. O Sítio funciona diariamente a partir das 10h e estará aberto até o próximo domingo (05), quando será fechado e reformulado para a edição 2016. A entrada custa R$ 5,00 e são isentos de ingressos idosos e portadores de necessidades especiais.

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