Mesa discute movimentos sociais e tvs públicas no contexto local e regional

Campina Grande, 3 de junho de 2016  ·  Escrito por Edwarda Lapenda
Na mesa, o debate sobre movimentos e tvs públicas

Na mesa, o debate sobre movimentos e tvs públicas

No segundo dia do Seminário Festejos Juninos no Contexto da Folkcomunicação e da Cultura Popular, realizado no Teatro Rosil Cavalcanti, teve mesa redonda com o tema “Movimentos Sociais, Cultura popular e TV’s públicas no contexto local-regional” e teve como mediador o professor da Universidade Estadual da Paraíba Gilson Souto Maior. O evento começou prestigiando o magnata das comunicações Assis Chateaubriand, exibindo um curta-documentário sobre a vida do jornalista, e seus feitos na área da comunicação e da cultura.

Quem iniciou a mesa de debate foi Lúcio C. Fernandes da TV Câmara João Pessoa, fundada em 2003, que tem como finalidade exibir um conteúdo que promova informação parlamentar para o cidadão, passando a voz para Mafalda Moura também da TV câmara João Pessoa que detalhou os programas e as propostas da emissora.

Os estudantes também foram muito bem representados pela estudante de Educomunicação da UFCG Sara Watanabe, coordenadora do ENECOS Paraíba, que falou um pouco das principais bandeiras que o movimento estudantil levanta, citando a democratização da mídia, que permitiria um conteúdo mais diversificado e democrático, além da defesa das minorias, como mulheres, LGBT e negros. Sara se disse gratificada por ter sido convidada para a mesa redonda, e acredita que é importante dar voz aos estudantes.  

Outros temas abordados foi a questão da programação das televisões brasileiras, defendendo-se uma programação mais regional e uma maior valorização cultural, que é uma alternativa das TV’s públicas, que enfrenta muitas dificuldades frente a TV comercial, já que depende de recursos públicos. Segundo Juciano de Sousa, outro participante da mesa, da UFRN, existe um déficit de TV’s públicas no Brasil e isso pode ser explicado pelo fato de a midiatização ter se dado de forma diferente no país como se deu na Europa, por exemplo. Até a década de 70, as TV’s públicas dominaram o cenário televisivo europeu, já no Brasil a TV surge com o modelo privado e só a EBC é quem começa com o novo modelo de TV pública.

O que diferencia uma TV pública de uma privada é a finalidade, o financiamento e administração das duas, segundo Júnior Pinheiro, participante da mesa, da TV UFPB. Ele aponta as dificuldades que a comunicação pública enfrenta, como por exemplo a carência de estrutura e também de teorização sobre esse tipo de comunicação. E relaciona, como propõe o evento, comunicação e cultura, fazendo críticas ao modo como a mídia tradicional se posiciona com relação à cultura, “entocando” a cultura popular na sua programação e construindo estereótipos de identidades, levando uma visão distorcida da identidade nordestina para o público. Júnior ainda elogiou o espaço democrático que foi aberto pelo evento FOLKCOM para a discussão desse tema, que é tão relevante não só para estudantes de comunicação, mas para todos que de alguma forma se relacionam com a cultura.

Um exemplo que reflete os dois pontos citados anteriormente, é a TV Cidade João Pessoa, representada no debate por Angelina Oliveira, que falou um pouco da origem da televisão, chegando a afirmar que a BBC de Londres serviu de modelo para sua criação. A BBC, uma tv pública europeia, foi hegemônica durante as primeiras décadas televisivas na Inglaterra, reforçando a predominância dessa comunicação na Europa do século XX. Sua programação é educativa e cultural, e privilegia pautas atemporais, que nunca vão perder a importância educativa, na visão de Angelina, além de ter o compromisso com a bandeira das minorias, dizendo que “A participação popular é o que move a gente (se referindo a TV Cidade João Pessoa)”.

Já a TV comercial, de acordo com Juciano Lacerda da UFRN, possui interesses privados claros, e seu modelo não consegue refletir os interesses do cidadão. Sendo ela predominantes, vê-se necessário então uma maior autonomia financeira, repensando o jornalismo, e construindo uma nova cultura informativa, uma “indústria cultural local”, para Juciano.

Diante de tudo que os participantes falaram, pôde-se perceber a importância da TV Pública na valorização da cultura popular, do conteúdo jornalístico local, incentivando assim a Folkcomunicação. Para finalizar, Kleyton Canuto, cineasta e professor da UNIFAVIP contou um pouco da sua trajetória no audiovisual, enfatizando a importância da produção independente e sua circulação nas TV’s públicas, defendendo alianças entre produtoras e emissoras de tv, já que os meios de comunicação são canais de diálogo e do fazer cultural popular, na sua opinião, podendo assim incentivar a Folkcomunicação nas produções cinematográficas. O convidado para o evento, Saulo Queiroz da TV Itararé, não pôde comparecer por motivos pessoais.

O debate foi muito importante e proveitoso para todos que assistiram, levando uma discussão relevante sobre duas áreas que se relacionam e caminham lado a lado: comunicação e cultura.

Hoje é o último dia do Folkcom. Pela manhã duas mesas redondas estão programadas. A primeira, às 9h, discutirá “Folkcomunicação, Tecnologias Móveis e Múltiplas Telas na Produção e Circulação de Conteúdo Audiovisual”. A segunda mesa redonda, às 10h30, abordará “Empreendedorismo, Profissionalização e Midiatização das Quadrilhas Juninas”. A conferência de encerramento do evento ocorrerá às 14h o professor Laurindo Leal Filho (USP) sobre “Políticas e Diretrizes para Produção Cultural nas TVs Públicas”.

Confira a programação completa.

 

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