Andando pela rua Silva Jardim no bairro do José Pinheiro em Campina Grande, com calçadas estreitas e ruas movimentadas, uma casinha vermelha e toda decorada com chitas floridas e bandeirinhas de São João chama logo a atenção, com uma grande placa dizendo: “Aluga-se roupas juninas”. De fora, por uma pequena porta branca decorada com um ralador de milho, dá para ver uma senhora sentada na sua cadeira de frente à máquina de costura. Erotides Barbosa tem 77 anos, é campinense e sempre morou na cidade. Hoje ela faz roupas juninas, mas sua história com o São João é mais antiga.
Desde pequena Erotides gostava de São João, e não esconde isso no sorriso que dá ao falar dessa festa popular. Vive na expectativa para essa época do ano, quando, além de fazer o que ama, pode lucrar um pouco mais e ajudar na renda mensal. Foi “a primeira pessoa a vender pamonha no Zé Pinheiro”, segundo ela, e nunca precisou sair de casa para vender suas comidas. Hoje, quem cuida desse negócio é a sua filha, e cabe a Erotides fazer os vestidos juninos, muito coloridos e que enchem os olhos de quem entra na sua sala de costura, onde o acervo fica exposto. A variedade de cores e tecidos é infinita, vai desde o tradicional xadrez até estampas mais diferentes para esta época do ano, como é o caso das listras.
Dona Erotides, assim como muitos brasileiros, aposentada pensionista, também sente a crise econômica pela qual o país passa, e da sua maneira, tenta driblar, procurando promoções para a compra dos materiais, deixando sempre para adquirir logo após o período junino, quando os artigos estão mais baratos, algo que aprendeu no decorrer de todos esses anos que trabalha com os aluguéis das roupas juninas. Mas apesar de toda a dificuldade presente em um pequeno negócio, dona Erotides não deixa de ajudar o próximo, não faz questão de receber a quantia do aluguel de alguém que não tem condições.
Mesmo na crise, dona Erotides faz questão de se divertir no São João e colocar o pé no Parque do Povo, levando a família para ver as barracas e comer as comidas típicas da época junina.
Sua rotina de trabalho no período junino é quase igual à do ano todo, passando as tardes costurando. Ela sai às 5 da manhã para fazer sua caminhada diária pela vizinhança e, na volta, coloca a mão na sua máquina cor-de-bege e trabalha com os pedidos dos seus clientes. Há cliente tão fiel ao seu trabalho que passou essa fidelidade para outra geração, antes costurando para a mãe, e depois costurando para a filha. À noite, sua novela e seu sono são sagrados, descansando a vista e a paciência para no outro dia voltar à rotina.
Vendo toda a grandiosidade do Maior São João do Mundo de Campina Grande, quase se esquece que são pessoas como Dona Erotides, que fazem essa festa tão bonita acontecer, representando a raiz da cultura popular, fazendo a diferença não só ali no seu bairro, mas para toda a cidade. Levando seus vestidos para quadrilhas locais, levando sua pamonha para toda a vizinhança, e passando sua receita para outras gerações. Mantendo a tradição viva. Porque o São João é uma festa do povo, nasce do povo, e é em ruas pequenas, entre amigos e família que ele acontece, da maneira mais tradicional possível. por isto não podemos esquecer de pessoas como a dona Erotides, que deixam sempre acesa essa fogueira que não é de São João, mas da eterna Cultura Popular.