Tradição, forró e poesia abrilhantam 1ª noite do São João em Sumé

Campina Grande, 19 de junho de 2016  ·  Escrito por Emanuelle Carvalho e Maryanne Paulino  ·  Editado por Ivan A. Costa  ·  Fotos de Emanuelle Carvalho e Maryanne Paulino

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Sumé, cidade localizada no cariri paraibano, abre suas festividades com muito forró e animação na noite do último sábado (18). Pelo segundo ano consecutivo, a Prefeitura Municipal juntamente com a Diretoria de Cultura prioriza o forró de raiz e as tradicionais quadrilhas da cidade.

Maryanne 2No Arraiá Zé Marcolino, espaço que homenageia um grande poeta da cidade, a Quadrilha dos Carregados, pelo quarto ano consecutivo, lotou o espaço com mais de 100 casais que se  concentraram na casa de Silas Gabriel, um dos organizadores, saíram em passeata pela Avenida 1º de Abril e chegaram àquele que é o terreiro do forró da cidade no mês de junho, entoando o grito de guerra “Tamo rico. Traga o bar”.

Quadrilha dos Carregados

Quadrilha dos Carregados

Antes de darem início à dança, os organizadores da quadrilha prestaram uma homenagem a João Albino in memorian. Além de amigo, João também organizava e dançava a quadrilha. A emocionante homenagem contou com um aboio feito por José Araújo, mais conhecido como Zito, e um banner com a foto de João, que foi entregue a Diego Xinica, seu irmão.

Com um pouco de bagunça e animação de sobra, os dançantes promoveram muita diversão aos espectadores. Regada à bebidas e sem muita preocupação com roupas ornamentadas, a Quadrilha dos Carregados faz jus ao nome. Todo esse diferencial, no entanto, não descaracteriza totalmente a tradição das quadrilhas juninas, pois o marcador, o trio de forró pé de serra e os passos tradicionais permanecem.

Organizada por jovens, que além de animarem o São João e manterem a tradição das quadrilhas, preocupam-se com as pessoas carentes. A Quadrilha dos Carregados é reconhecida também pelo trabalho social que seus organizadores desenvolvem. No ato da inscrição foi cobrada uma taxa de 5 reais por casal, para as despesas com o evento e 2kg de alimentos não perecíveis, que serão doados a famílias carentes da cidade na próxima semana.

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Palco Zé Curisco

Às 21h, o palco Zé Curisco foi abrilhantando de poesia com um sarau poético. As poetisas Catarine Aragão (Sumé/PB), Jéssica Gomes (São José do Egito/PE) e o declamador Fontinele (Sumé/PB), apresentaram versos próprios e de poetas famosos como: Antônio Cazuza, Pinto do Monteiro, João Paraibano e outros. Logo após, no mesmo palco, a banda sumeense Forrozão Bom Sucesso iniciou tocando um pout-pourri das músicas “Cabeça Que Não Pensa”, “Bom Só”, “Forró Sem Fuzil”, “Esquenta Moreninha” e embalou tocando outros sucessos de Os 3 do Nordeste, Trio Nordestino, entre outros.

Uma noite no Palco principal

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Após sete anos, o cantor Alcymar Monteiro retornou ao palco principal do São João de Sumé, na praça José Américo. Por volta das 23h, o cantor abriu o show cantando “Pagode Russo” e “Olha pro Céu”, de Luiz Gonzaga. Seus sucessos como “Festrilha”, “Cometa Mambembe”, “Rosa dos Ventos” e “Anarriê” fizeram o grande público presente tirar o pé do chão e dançar forró da melhor qualidade.

Com uma proposta de não deixar esquecida as típicas danças folclóricas nordestinas, o seu show também foi marcado com a energia e o colorido das danças de quadrilha, maracatu, bumba meu boi, reisado e outros, apresentados por seus bailarinos. “Eu não sou tradicionalista, mas eu acho que cabe ao artista manter as tradições do seu povo, cultuar, educar a sua gente”, disse o cantor.

Para Alcymar, o atual cenário do São João no Nordeste vem sofrendo uma tentativa de apropriação tanto na música 20160618_232052quanto na culinária, situação que ele considera destrutiva e ruim para as futuras gerações. “Estão querendo estereotipar uma festa que não é deles. Essa festa é do povo nordestino brasileiro. Eu acho que esses que estão fazendo isso com o São João são criminosos, culturalmente falando, são pessoas que não amam seu povo e que querem ganhar dinheiro como se dinheiro fosse tudo”, opinou.

Muito animado e dançando o tempo todo, Alcymar interagiu com o público presente, mais ainda com as pessoas que estavam próximas ao palco, e não deixou o povo parado, fazendo-o arrastar a sola do sapato em plena praça central.

Sua apresentação foi também de muitas homenagens. Do seu compadre e amigo, Luiz Gonzaga, Alcymar cantou ainda “Xote das Meninas”, “Cintura Fina”, “No meu pé de serra” e outras. Do mestre Dominguinhos cantou “Lindo Lago do Amor” e “Eu só quero um Xodó”, momentos em que o povo todo cantou junto.  Alcymar Monteiro homenageou ainda aquele que foi e é um dos grandes nomes da música romântica brasileira, Reginaldo Rossi, cantando “Garçom”. “A homenagem é merecida, porque ele era a representação da alma romântica brasileira. Eu não vejo a música romântica como brega… Ele era um desses artistas que bem representava o povo, o romantismo da nossa gente”, disse.

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As Severinas cantando e encantando o público

Para fechar a noite, a banda As Severinas, do Pajeú pernambucano, cantaram e encantaram as pessoas que não “arredaram o pé” após o show de Alcymar Monteiro. Pela segunda vez consecutiva em Sumé, o grupo formado por Isabelly Moreira (triângulo, vocal e declamações), Monique D’Angelo (sanfona, vocal e declamações) e Marília Correia (zabumba), trouxe um show repleto de musicalidade e poesia ao incluir em seu repertório muito forró pé de serra, coco, declamações de poesias, como algumas do poeta Manoel Filó, e também versões de grandes nomes da MPB, como Milton Nascimento e Adriana Calcanhotto.

Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Os 3 do Nordeste, Santanna, Flávio José e Fagner foram alguns outros nomes que As Severinas cantaram, tocaram e fizeram releituras. “A proposta de vida da gente, de todos os shows, é passar uma mensagem de amor, de bem e de paz através do forró de qualidade, do forró de raiz, que é o nosso forró, e a poesia popular, que é o peso do pajeú pernambucano”, disse Isabelly Moreira.

Muito carismáticas, as três moças disseminaram em Sumé poesia e música de boa qualidade pelo segundo ano. Quando perguntada se o fato de a banda ser composta por três mulheres é um diferencial, Isabelly afirmou: “Sem dúvidas. Quando divulgam o nome, todo mundo imagina que são três senhoras ou várias senhoras que vão chegar. Aí chegam meninas, jovens. As três com 23 anos de idade. Por ser mulher, por ser jovem e pelo estilo que se toca tem um diferencial, sim.”

Os festejos juninos da cidade continuam até a próxima sexta-feira (24), além das tradicionais quadrilhas e grupos de danças, a noite de São João (23) será animada pelo forró das antigas da cantora Rita de Cássia, Antenor Cazuza e Forró Kent. Felipe Lemos, Bidinga do Acordeon e outros também se apresentarão. Confira a programação do São João aqui.  E do Arraiá Zé Marcolino em: http://goo.gl/No6zSJ.

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