Durante Maior São João do Mundo Felipe Batista apresenta sua arte no Parque do Povo

Com suas rimas e improvisos, o repente, que também é conhecido por ser uma poesia cantada, geralmente é formado por dois cantadores. Juntos eles fazem uma espécie de duelo de rimas, acompanhados de uma viola que tem uma afinação própria, chamada de afinação nordestina.

Desafiado pela plateia, que o observa atentamente sugerindo temas, chamado de motes, o repentista tem o dom de desenvolver rimas no contexto do assunto que lhe foi dado.

Ao andar pelo Parque do Povo, em Campina Grande, que durante o São João se transforma no quartel general do forró, observamos sentado em um banco, agarrado com seu violão e próximo à alguns cordéis estendidos sobre um tapete, um rapaz que chama a atenção por seu timbre de voz e rimas fáceis. Seu nome é Felipe Batista, que ao ver que estamos indo em sua direção, logo nos recebe com um tímido e sincero sorriso, começando assim a sua cantoria para os que ali passavam.

Cordéis do poeta Manoel Monteiro vendidos pelo repentista

O músico de 28 anos começou a tomar gosto pela cultura do repente ainda na infância, por influencia de seu pai, que sempre ouvia as musicas ao chegar do trabalho. Ele nos revela que no inicio não entendia muito bem o que eram aquelas rimas e versos improvisados. “Meu avô trabalhava muito, chegava cansado, seu lazer era escutar um repente e fumar seu cigarrinho. Então ele colocava o som em toda altura. Aquilo ficou no meu subconsciente, sem dúvidas, na adolescência, passei a observar de uma forma mais crítica, ver a riqueza e a habilidade técnica do repente, que é belíssima, com toda sua estética, fórmulas poéticas e melodias consagradas”, recorda Felipe.   

Turistas aproveitam para registrar o talento do jovem repentista

Muitos ainda enxergam o repente como sendo algo comum à gerações passadas, o que para ele, pode ser resultado do excesso de informação a que os jovens estão expostos hoje em dia, diferentemente da velha guarda. “Na época de nossos pais e avós, antes da televisão e do rádio, a diversão que se tinha era inventar brincadeiras, com música, com palavras e com teatro. Então, o repente era muito comum nos interiores e nos sertões”, afirmou.

Para o repentista, morador do bairro das Malvinas em Campina Grande, a falta de politicas públicas e de incentivo acabam por fazer com que o público mais jovem não tome conhecimento do trabalho deles, diferente de outros estados. “Aqui é pouco divulgado, por uma série de contextos. Em Pernambuco, por exemplo, temos muitos repentistas jovens e aqui não temos muito esse incentivo. Esses artistas vivem escondidos justamente pela falta de políticas públicas para a cultura que é cada vez menos grana investido”, destaca Felipe.

Felipe Batista tem 28 anos e é morador do bairro das Malvinas em Campina Grande

O Nordeste é conhecido por ser um celeiro de grandes cantadores de viola e de emboladores, como os  já falecidos Pinto do Monteiro (PB), Manoel XUDU (PB), Octacílio Batista (PE), Jó Patriota (PE) e os ainda em atividade, como Valdir Teles (PE), Zé Viola (PI) e João da Silva “Lua Nova” (PE), alguns dos quais se tornaram fonte de inspiração para Felipe, que se orgulha de levantar a bandeira da cultura popular e que hoje já sobrevive da própria arte. Além de ser repentista e professor de violão, o jovem revela o desejo de futuramente escrever um livro. “Estou escrevendo timidamente, sem muita pretensão, com alguns sonetos, décimas, porque eu trabalho muito com o repente, a poesia cantada, isso já toma tempo de apurar.” Disse.

Embora saiba das dificuldades de se trabalhar com a cultura, que são muitas, o jovem sente orgulho do que faz, mergulhando aos poucos e cantando diariamente na perspectiva de aprofundar-se, afim de hastear ainda mais alta a bandeira do repente em Campina Grande. “Hoje estou na poesia popular, estou muito feliz e satisfeito!”