“Com amor, quadrilha junina”

Campina Grande, 17 de junho de 2016  ·  Escrito por Edwarda Lapenda  ·  Editado por Beatriz Vieira  ·  Fotos de Edwarda Lapenda
Flávia Danielle exibi seu vestido de quadrilha com orgulho

Flávia Danielle exibe seu vestido de quadrilha com orgulho

Nas “quadrilles” francesas do século XVIII já se podia ouvir “An Avant” e “Na Anrriére”, já se podia ver as damas e os cavalheiros com seus belos trajes finos típicos daquele século formar pares e se cumprimentar, depois esquivar. Não é mera coincidência isso parecer familiar a uma quadrilha que já bem conhecemos: a junina. A “quadrille” foi trazida para o Brasil no século XIX, a dança era realizada nos salões reais, geralmente, para prestigiar cerimônias importantes. A quadrilha realizada no São João nada mais é que a versão “popular” e “caipira” dessa dança, atrelada à religiosidade.

A “Escurrega mai num cai” é uma dessas quadrilhas com jeitinho popular de ser, uma das mais antigas quadrilhas juninas de Campina Grande, com quase 29 anos de história, tem raízes no bairro da Palmeira, e é tradição de família, esbanjando uma estante de troféus que ganharam com seus espetáculos. “Nós somos profissionais por amor próprio” diz Seu Zé Virginio, o criador da quadrilha, podendo perceber todo o amor pela cultura popular. O brilho nos olhos ao falar da quadrilha não escondia o orgulho por resistir apesar de todas as dificuldades próprias da cultura no nosso país, como a falta de apoio financeiro. Mas não pensem que dinheiro engrandece os olhos de Seu Virginio, não! Mesmo com uma grande estrutura no Parque do Povo ou Vila dos Tropeiros, o lugar mais aconchegante para apresentações continua sendo o bairro da Palmeira, para ele é “a maior apresentação”, pois é o povo do seu bairro quem o acolhe, mostrando assim que o Maior São João do Mundo continua sendo feito nos bairros, entre vizinhos e amigos.

Seu Virginio e família, amor pela quadrilha

Seu Virginio e família, amor pela quadrilha

A família faz festas ou até bingo para conseguir verba para os custos da quadrilha, mas infelizmente esse meio não é suficiente, fazendo com que o dinheiro saia do próprio bolso. O espaço também é pequeno: são várias quadrilhas de vários bairros que dividem mesmos lugares de ensaios, tornando mais difícil ainda a preparação para o mês de junho. Na falta de espaço para ensaiar, há sempre as acolhedoras ruas no bairro da Palmeira, que se tornam palco para as preparações dos quadrilheiros, que abrem e fecham ala para os carros passarem, mas não deixam de dançar com muita alegria.

Quem vê a quadrilha que se apresenta para o público, com suas cores e brilhos, não imagina todo o “sufoco” que tem por trás. É tema, figurino, coreografia e ensaios. Mas também tem muita “história das boas” que ninguém consegue ver, como a de Flávia Danielle, que conheceu seu marido na quadrilha e até quando estava grávida não deixou de pôr o vestido e ir dançar no São João, e o amor é tanto que ela ainda diz que só dança se for junto com o marido. Já pensou até em desistir, por causa das dificuldades, mas a cultura fala sempre mais alto. Ao mostrar seu vestido de rainha, com vários tons de verde e cheio de pedrinhas brilhantes que saltam aos olhos, seu semblante muda, mostrando todo seu orgulho pelo seu traje e sua dança.

A inclusão também é característica da quadrilha, é o caso de Mikaele, que tem problemas especiais, tendo dificuldades para acompanhar os ritmos no início e evoluindo com o tempo e a prática, fazendo da quadrilha sua terapia e mostrando todo o poder da dança de superação.

Quão imponente é nossa cultura popular no São João? As cores escondem histórias, os brilhos escondem dificuldades, a alegria esconde as tristezas. Entendemos a cultura popular, não assistindo somente a apresentações que nos mostram o que esperamos ver, mas ouvindo aquilo que nos é confuso aos ouvidos: como pode uma festa dizer que é popular sem ser? Se vemos a dificuldade pela qual passa o povo que quer simplesmente brincar São João e fazer o que mais faz de melhor e com amor: cultura.

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