Em Esperança a sanfona é a última que morre! Sanfoneiro reforma e conserta sanfonas no quintal de casa

Campina Grande, 27 de maio de 2018

 

Deusinho e o jovem Adriano em reparos Foto: Diego Martins

Deusinho e o jovem Adriano em reparos
Foto: Diego Martins

O período junino exalta o forró autêntico e suas imortais parcerias: xote, xaxado e baião. É só falar em forró, que nos lembramos do som dos instrumentos e principalmente da sanfona que é a maestrina deste ritmo, além de liderar os trios e os conjuntos com seus acordes e encantar a todo admirador. As teclas intercaladas, os baixos emparelhados e o puxado do fole mexem com todo mundo. O acordeom é um dos instrumentos com mais simpatizantes e segundo alguns músicos, um dos mais delicados e complicados para se estudar e aprender.

Quem não vê muita complicação no instrumento é Amadeu Barbosa da Costa, o “Deusinho”, sanfoneiro que reside na cidade de Esperança, no Brejo paraibano. Além de tocar sanfona desde a juventude, ele conserta, afina e reforma sanfonas em uma pequena oficina no quintal de sua casa. O ambiente de trabalho é um pouco improvisado, mas é o cômodo mais visitado da residência e consegue comportar dezenas de acordeons e algumas máquinas necessárias para as atividades.

 

A oficina e as sanfonas em conserto Foto: Diego Martins

A oficina e as sanfonas em conserto
Foto: Diego Martins

MEMÓRIA AFETIVA

Seu Deusinho tocando e experimentando a sanfona Foto: Diego Martins

Seu Deusinho tocando e experimentando a sanfona
Foto: Diego Martins

 

Maior que a oficina é a memória de Deusinho, que relembra com emoção a época em que a música entrou em sua vida: “Meu tio era sanfoneiro, mas foi para o Sudeste ganhar a vida de outra forma, aí eu aproveitei para pegar o instrumento, meio curioso comecei mexer e desse dia pra cá não largo dela, ou melhor, delas!”, comentou. Na memória ele também guarda uma imensidade de canções de grandes nomes e faz questão de mencionar o nome do Lindú, um dos sanfoneiros da antiga formação do Trio Nordestino, uma figura que considera como seu grande exemplo.

Das valiosas décadas de carreira, ele recorda suas participações em trios e bandas e conta que hoje seu foco é nos trabalhos da oficina: “São 30 anos tocando e 20 mexendo nas sanfonas dos outros, todo dia tem gente aqui, um pede pra afinar, outro pra reformar as teclas, outro pra ajeitar o fole e eu vou fazendo de tudo um pouco, tem hora que eu nem dou conta”, disse. Em virtude do aumento da demanda, Amadeu já tem dois jovens companheiros de trabalho que aprendem o ofício e a música ao mesmo tempo. Um deles é Adriano Pedro que há um ano está trabalhando com o músico. “Deusinho é um mestre, com ele aprendo todos os dias tanto da música como da parte física da sanfona, além de tudo é um grande ser humano, ele é um exemplo para mim” ressaltou Adriano.

Para quem nasceu num berço de músicos, o São João é uma excelente ocasião para se divertir, e Amadeu aproveita essa época para colocar a sanfona nas costas e seguir viagem tocando em trios de quadrilhas juninas, sem esquecer, é claro, das que ficam em casa aguardando a repaginada: “Hoje em dia eu só toco mesmo com as quadrilhas, somente nesse tempo do ano, o restante é trabalhando pra que tenha muita sanfona boa nesse meio de mundo” comentou o músico.

Nos dias de hoje é fácil encontrar sanfoneiros, difícil é encontrar quem desmonta e refaça um acordeom por completo. Na humilde casa que recebe músicos de várias regiões da Paraíba e de outros estados, cada qual chega com uma demanda diferente, mas todos com o mesmo pensamento: inspiração e sabedoria com Deus no céu e socorro para as sanfonas com “Deusinho” na terra.

Reportagem e fotos: Diego Martins
Edição: Inaldete Almeida

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