O São João é colorido: A rainhas da diversidade nas quadrilhas

Campina Grande, 20 de maio de 2023
Ágatha em sobreposição à bandeira LGBTQIAP+. Foto e edição: David Henrique. 

Repórter e fotógrafo: David Henrique


 A quadrilha se originou na Inglaterra, mas no Brasil, foi no século XIX que a nobreza do Rio de Janeiro adotou essa cultura. Ao passar do tempo, a quadrilha adquiriu um novo significado e se popularizou. É nas festas de São João, como uma comemoração, que elas entram nos palcos chamados “arraiais” como acontece no Nordeste, como nos palcos das festas juninas a exemplo da Pirâmide do Parque do Povo, em Campina Grande, e em cidades como Pocinhos, na Paraíba.

 Do surgimento até a atualidade, as quadrilhas passaram por transformações em vários quesitos. Atualmente, elas trazem enredos subjetivos, muito brilho, damas com saias volumosas, teatro, estruturas grandiosas, um espetáculo e tanto. Afinal, participam de concursos municipais, estaduais, regionais e nacionais.

 Com a chegada dessa modificação, levando em consideração os debates levantados e fomentados, surgiram as rainhas da diversidade ou rainhas G.

 As rainhas G são as representantes da comunidade LGBTQIAP+ nas quadrilhas. Mulheres trans e travestis, transformistas e drag queens entram nos arraiais quebrando tabu e evidenciando a importância da sua existência no universo junino que ainda carrega uma cultura patriarcal.


    Daniel em ensaio e Ágatha após transformação em sua residência. Fotos: David Henrique 

 Pocinhos, cidade do agreste da Paraíba, terá pela primeira vez a rainha G. É Daniel Araújo, bailarino e coreógrafo,  o representante da Junina Malícia de Menina. Ele dá vida à Ágatha Sampaio (Miss Universo Pocinhos Gay 2019 e Miss Simpatia Paraíba 2019), que nos contou um pouco da importância da rainha G da diversidade para as quadrilhas juninas. “Levar e levantar a nossa bandeira dentro dos arraiais, dizer que ali nós temos espaço, que também é uma festa nossa. É algo importante e grandioso tanto para transformistas, mulheres trans e travestis! É o lugar de mostrar que temos vez e voz”.

A transformação é delicada e exige tempo, nos contou Daniel. “Me transformo em torno de 3 horas e 30 minutos. Eu preciso preparar minha pele para receber uma maquiagem que me deixe feminina bem dama, pois tenho traços masculinos… usamos perucas, então devemos fazer uma armação por baixo do cabelo para que esteja fixa em nossa cabeça. Por trás precisa ter amigos que me ajudem!”.


Arquivo pessoal: Daniel Araújo

Ao falar com a personagem Ágatha, ela relatou que apesar do São João ser uma festa religiosa, e usando da religião, pessoas emanam intolerância e que é fundamental que sua arte seja apresentada para o público. “Para algumas religiões isso é inaceitável. Mas não podemos deixar isso interferir em nossa arte, pois ela é para o povo. E a arte existe dentro das religiões. Isso não deveria ser um tabu! O São João percorre as minhas veias, estou ansiosa para estrear como dama; como rainha G. Quero deixar os lugares que irei passar, coloridos”.

 Ágatha e Daniel são figuras distintas, mas também são um só. E ambos estão prontos para mostrar seu trabalho e talento durante os festejos juninos nos festivais, arraiais e tablados de apresentação. 

Link de uma entrevista com a rainha G Ágatha Sampaio: 

https://www.instagram.com/tv/CprEgbcgFYJ/?igshid=YmMyMTA2M2Y=

Vídeo de sua apresentação: 

https://www.instagram.com/reel/Cps8yj4J7jO/?igshid=YmMyMTA2M2Y=

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