A festa do povo: 40 anos do Maior São João do Mundo 

Campina Grande, 1 de junho de 2023

Uma retrospectiva da história do São João de Campina Grande , que permeia do Palhoção ao Parque do Povo

Repórter: Eduarda Queiroz e Isabella Sousa

Fotógrafa: Marília Duarte

Editor: Fernando Firmino

Foto: Marília Duarte / Repórter Junino

O forró compreende a essência do povo nordestino. Em um período em que as formas de festejos ainda eram modestas, a população de Campina Grande agrupou-se, e desenvolveram formas de festejar. As primeiras manifestações que se tem registros eram nos próprios bairros e clubes, contando com a presença de quadrilhas, forró pé de serra e bandeirolas nas ruas. No início da década de 1983, a cidade de Campina Grande contava com 113 quadrilhas juninas. 

O divertimento da sociedade na época junina foi ganhando proporções significativas. Nesse sentido, o então prefeito Ronaldo Cunha Lima propôs que o secretário de cultura, Eraldo César,  criasse um projeto com esse objetivo: tornar os festejos juninos em um espaço.  Em 4 de julho de 1983, o primeiro lugar da festa foi em um espaço que já existia, mas ganhou o nome de “Palhoção”. Hoje, o então Parque do Povo.  Com um novo espaço e um piso para os foliões dançarem, a festa ficou ainda mais bonita. Não se tem registro da duração da primeira edição neste espaço. Todavia, a partir da segunda edição, teve uma duração de  30 dias, permanecendo até os dias atuais. 

Com a construção de um espaço de uma forma modéstia, as apresentações aconteciam em cima de caminhões. Dentre os artistas a se apresentarem, estava o Capilé, marcando presença desde quando o São João de Campina Grande estava em construção. A apresentação contava com a música: “Capital Mundial do Forró”, som este, que seria uma prévia do tamanho da festa que estaria por vir nos anos subsequentes.  

A festa era do povo, para o povo e feita pelo povo. A primeira edição contava notoriamente com a população, a exemplo da ornamentação. As iniciativas públicas da época foram fundamentais para o desenvolvimento da festa. Mas, a sua grandeza já existia, mesmo que internamente nos bairros da cidade e no coração dos Campinenses.

Foto: Marília Duarte / Repórter Junino

BARRACAS E PALHOÇAS: UMA CONSTRUÇÃO POPULAR

A consolidação da festa e a proporção que ganhou foram bem recebidas pelos comerciantes da época. A partir do ano de 1989, a criação de barracas com comidas típicas, bebidas, e outras comidas, eram expostas no meio da festa.  Ademais, a presença de palhoças com forró tocando era uma atração extra no meio do povão. As variadas construções e modos de empreender precisaram ser organizados, com o decorrer dos anos e com a expansão da festa.  Em 2018, o cadastramento de barracas para os ambulantes foi uma das formas de organização. 

O Sr. Antônio Florentino, patriarca da família,  69 anos, é um desses comerciantes que contribui para o São João da Rainha da Borborema acontecer. Há 25 anos trabalhando na festa, seu Antônio relembra como conciliava seu ponto físico no Parque Evaldo Cruz, conhecido como Açude Novo, e o trabalho nas noites de festança na cidade. “Só que lá dentro do Parque Evaldo Cruz, era como proprietário físico né, eu trabalhava lá e descia para o Parque do Povo para trabalhar como ambulante”, disse Antônio.

Pós-pandemia da Covid-19, em que o São João ficou dois anos sem programação oficial, os ambulantes, no ano de 2022, passaram por uma reformulação: sorteio para a definição de quais comerciantes iriam vender pelo Parque do Povo.  

João Henrique, filho de Antônio Florentino, também era ambulante com o seu pai, mas em pontos diferentes. Com o sorteio, ficou apenas o sr. Antônio. Mesmo assim, os dois se agruparam e foram vender juntos nos dias da festa. Antônio, reitera: “Com certeza ele está ao meu lado ajuda a lidar com o serviço. Uma ajuda pela companhia e também pelo carregamento das bebidas”.

Foto: Marília Duarte / Repórter Junino

CONSTRUÇÃO DA PIRÂMIDE: AO TÍTULO DE MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO

A pirâmide do Parque do Povo foi construída em 1986. A ideia central  seria um espaço que remetesse a  uma fogueira chamada de “Forródromo”. O prefeito da época, Ronaldo Cunha Lima, apropriou-se do espaço já existente, e ampliou para uma dimensão que fosse possível uma maior disparidade das quadrilhas e dos forrozeiros.  Em 1996, a pirâmide adotou em suas grades o nome: “O Maior São João do Mundo”, dando início a consolidação da nomenclatura. 

Após quase quatro décadas de pirâmide, ela tornou-se o ícone dos festejos da Rainha da Borborema, com um nome que seria a profecia da consolidação do São João. Não há como pensar no Parque do Povo e não lembrar da pirâmide. Além disso, o objetivo de trazer as quadrilhas e as manifestações folclóricas para a pirâmide foi uma maneira de valorização cultural. Todavia, com a expansão da festa, a pirâmide acabou ficando pequena para as apresentações nos últimos anos, e a necessidade de expandi-la é necessária.

DA PIRÂMIDE AO QUADRILHÓDROMO:

Roupas coloridas, brilhosas, sapatos com salto ou sem salto, chapéus e uma bom forró permeiam as quadrilhas que se apresentam no São João.  No ano de 2023, foi anunciado pela Prefeitura Municipal de Campina Grande, juntamente com a empresa organizadora do evento, a construção de um novo espaço para as quadrilhas e grupos folclóricos se apresentarem. Essa construção tenta descentralizar e aumentar a possibilidade de apresentações na cidade. Desde a construção da pirâmide, as apresentações aconteciam apenas naquele local. Mas, assim como outros espaços, a área dedicada às apresentações precisou ser ampliada, para dar um maior conforto.  O novo espaço fica localizado na Estação Velha, as apresentações ocorrerão todas as noites a partir das 20h.

Foto: Marília Duarte / Repórter Junino

PARQUE DO POVO E À PRIVATIZAÇÃO CULTURAL

O avanço da festa mobilizou os serviços públicos. E, posteriormente, a necessidade empresarial ficou mais evidente. No ano de 2013, a prefeitura abriu processos licitatórios para organizar a festa, com o objetivo de tomar decisões que solucionasse problemas que com o passar dos anos o serviço público já não supria mais, como as superlotações na festa em dias de atrações de cunho nacional.  No entanto, em dias de grande público, a necessidade de fechar os portões ainda é recorrente.

Arte Produções de Eventos Artísticos e Locações Ltda, de Fortaleza, no Ceará, é a vencedora da licitação, para comandar a festa nos anos de 2023 e 2024.  Já é possível notar algumas mudanças em relação aos outros anos: ampliação do palco, mudança da localidade dos camarotes, ampliação da cidade cenográfica e a disposição da decoração em todo o Parque do Povo. Com o passar dos anos e com a proporção da festa, o antigo palhoção tornou-se um espaço onde traz uma variedade de artistas e não só o pé de serra, ou o tradicional forró. No decorrer das edições, nomes de artistas sertanejos, DJ ‘s, e artistas que envolvem o mundo pop, começaram a ser presenças indispensáveis para a tradicional festa. No entanto, na véspera de São João, a presença da cantora Elba Ramalho é presença confirmada todos os anos. Tornando-se um dos dias mais lotados.

O São João de Campina Grande evoluiu. Toda sua estrutura passou por reformulações. A padronizar as barracas com uma estrutura moderna, e com design. Acresce, a estrutura elétrica e hidráulica com maiores ajustes para uma maior segurança das pessoas. A edição 40, conta com 163 barracas, 42 quiosques e 89 trios de forró. Além de quase 100 apresentações no palco principal no decorrer desses trinta dias.

A MEMÓRIA VIVA DOS CAMPINENSES:

Cléa Cordeiro Rodrigues, coordenadora e idealizadora do Memorial do São João de Campina, relembra os acontecimentos, e faz uma reconstrução de todos os relatos que já escutou e presenciou no decorrer de anos à frente do memorial. As exposições das obras acontecem no shopping Partage. Através da historicidade, Cléa relata a importância empreendedora que os campinenses já tinham, na década dos anos 80. Apesar de ser de uma forma intimista, a população já estava preocupada em aumentar e estender as fronteiras geográficas do São João de Campina Grande. E, a partir dessa vontade popular sendo manifestada, a relevância do prefeito ter percebido e acreditado na dimensão do festival. “O São João era pequeno. Mas com mania de pensar grande”, reitera. 

Para Cléa, a festa teve três estágios principais: implantação, divulgação e, por fim, a consolidação. Esses acontecimentos foram fundamentais para a proporção que a festa tomou. O nome de “Maior São João do Mundo” no primeiro espaço foi uma maneira de divulgar a festa e, posteriormente, consolidar. Uma vez que, tal slogan ficara marcado nas mentes do povo nordestino. 

A troca de conhecimentos é sentida pela coordenadora. Ela comenta: “A gente escuta mais do que conta”, apesar de ser responsável pelo memorial, as histórias vão se renovando a cada ano. Um novo visitante traz uma nova informação, e a troca de fatos da festa vão se “renovando”. Uma festa com 40 anos de histórias com milhares de pessoas circulando, têm outras milhares de histórias. Além disso, no início da década de 80, as informações pouco eram registradas, em virtude da limitação tecnológica da época. Logo, o memorial encontra-se, como um espaço de relevância para a memória afetiva das pessoas. 

Com 40 anos de forró, uma festa que era puramente campinense, mas que se tornou plenamente mundial.

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