ESPECIAL: A coreografia da paixão e do compromisso com o São João

Campina Grande, 6 de julho de 2023

Dividindo trabalho, estudos e jornada de ensaios, Wambasten Alves, Rafaela Vieira e Douglas Cabral fazem parte do grupo que completa 23 anos. 

Repórteres: Felipe Bezerra e Micaela Nogueira
Fotógrafa: Micaela Nogueira


Moleka 100 Vergonha em apresentação 2023. Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

O Grupo de Cultura Popular Quadrilha Junina Moleka 100 Vergonha, ou apenas Junina Moleka 100 Vergonha, celebra neste ano vinte e três temporadas de dedicação, profissionalismo e paixão a uma das festas mais aguardadas pelo povo nordestino – o São João. O grupo que foi fundado em 8 de fevereiro de 2000 por alguns amigos no bairro das Malvinas, em Campina Grande, na Paraíba, leva consigo por dez vezes o título de campeão do Maior São João do Mundo, sediado na Rainha da Borborema.

Nesta temporada de 2023, a Moleka apresentou o tema “É de tirar o chapéu”, que abordou a construção narrativa de dança, vestimentas e música a partir de diversas personalidades importantes do Brasil e do mundo. A proposta da temática foi de contar histórias relevantes por meio de um personagem, evidenciando o poder e a reverência que a peça do vestuário, o chapéu, teve para determinadas personalidades. A rotina de ensaios do grupo teve início no último dia 8 de janeiro de 2023, sendo uma das etapas primordiais para alcançar os propósitos elencados pela equipe durante as apresentações competições. Ao todo, os dançarinos chegaram a ensaiar cinco horas diárias entre a quarta-feira e o domingo. 


Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

Trajetórias e vidas dedicadas ao São João 

Neste ano, a junina apresentou um novo nome para um dos personagens de destaque dentro da narrativa quadrilheira. Wambasten Alves, de 30 anos, assumiu o compromisso de ser o dono da festa: o noivo. “Nesses 23 anos, a Moleka veio extremamente grandiosa, não só em números de pares, mas na forma de mostrar o São João. A Moleka vem de um jeito diferente em 2023, mais regional, uma Moleka bonita e emocionante. E ser noivo de tudo isso é algo grandioso pra quem é quadrilheiro de verdade, principalmente, ser noivo da Moleka”, comenta Wambasten, que concilia a jornada junina com a de trabalho, família e amigos. 

Douglas Cabral, de 22 anos, iniciou cedo a sua trajetória no mundo junino, apenas com 14 anos o jovem da cidade de Montadas, Agreste da paraíba, já integrava um grupo quadrilheiro e, nessa ocasião, já tinha a Moleka como uma referência. No ano de 2020, ao vir morar definitivamente em Campina Grande, Douglas começou a integrar agora o grupo que antes era apenas a sua referência. “Na Moleka eu construí amizades, laços e isso que me faz permanecer, junto ao amor pelo São João que eu carrego desde de 2014 quando comecei, desde de Douglas criança. E eu sinto que tenho muita coisa ainda pra construir junto com essa quadrilha que me escolheu e acolheu”. O jovem divide a rotina de ensaios e apresentações com os estudos no Curso de Letras da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). 


Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

Rafaela Vieira, de 21 anos, compõe o grupo há dois anos e o São João, segundo a estudante de Educação Física, tem o poder de lhe levar novamente para casa. “O São João para mim sempre foi muito importante porque ele destaca muito a nossa cultura, nossas raízes. Eu como sou sertaneja, lembro muito da minha cidade, de onde nasci, cresci e de quem eu sou. Então, longe de casa ele me faz lembrar de quem eu sou e de onde eu vim.” Rafaela compartilha sua vida com a junina, estágio e universidade. 

Em dezembro de 2022 foi sancionada pelo governador João Azevêdo a Lei que tornou a Moleka 100 Vergonha uma entidade de utilidade pública. A iniciativa é um avanço na valorização do setor cultural campinense e a partir disso a junina dará início a uma construção de uma casa de apoio ao lado da sua atual sede social. O espaço será uma casa de costura, de acolhimento para dançarinos de fora e um fomento para a economia local. “A Moleka deixa de ser aquela quadrilha junina apenas de festivais e se torna um grupo cultural para o nosso estado”, ressalta o molekeiro, Wambasten Alves. 


Mini doc produzido por Felipe Bezerra e Micaela Nogueira

Determinação torna-se conquistas do grupo

O título mais recente conquistado pelo grupo foi o terceiro lugar no Campinense, realizado entre os dias 8 e 9 na Pirâmide do Parque do Povo.  Com o enredo “DescanSanto” os molekeiros conquistaram o título também, em primeiro lugar, em 2022. No paraibano, a Moleka conquistou a segunda posição no ano anterior, já nesta temporada não foi a vez da junina. Porém, a quadrilha tem um grande histórico de conquistas nesses 23 anos de compromisso com o São João na Paraíba. 

Com planejamento, muita animação, harmonia e cenografia, a junina conquistou um dos mais importantes prêmios do cenário: o título de campeã no Concurso Regional de Quadrilhas da Rede Globo Nordeste. Com o tema “As Aves Que Aqui Gorjeiam Não Gorjeiam Como Lá”, a Moleka consagrou-se vitoriosa do festival em 2013, sete anos após a sua primeira participação no evento. Em 2015, com a temática “Os 7 pecados capitais”, o grupo celebrou novamente o título. Ainda no mesmo ano, foi a vez de comemorar a vitória no Concurso Nacional de Juninas, promovido pela Confederação Brasileira de Quadrilhas (Confebraq). 

Após dois anos, em 2017, o grupo formado lá nos anos dois mil, no Bairro das Malvinas, festejou mais um prêmio em sua jornada, conquistando o primeiro lugar no Festival Nordestão de Quadrilhas Juninas. Com temas como: “O Rio São Francisco”, “O Fogo”, “Sol e Chuva: Casamento de Viúva”, “O Voto”, “Não te assombres” e entre outros, a junina contabiliza oito títulos no Festival Paraibano de Quadrilhas Juninas, sendo seis desses consecutivos. Os feitos são frutos de muitos esforços e compromisso com a arte de arrastar o pé no chão. 

Diante de tamanha notoriedade, a Moleka 100 Vergonha já representou Campina Grande em alguns programas da Rede Globo, tais como: Criança Esperança (2011), Fantástico (2012) e Esquenta (2013). 


Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino

Foto: Micaela Nogueira/Repórter Junino
Comentários