Nas “quadrilles” francesas do século XVIII já se podia ouvir “An Avant” e “Na Anrriére”, já se podia ver as damas e os cavalheiros com seus belos trajes finos típicos daquele século formar pares e se cumprimentar, depois esquivar. Não é mera coincidência isso parecer familiar a uma quadrilha que já bem conhecemos: a junina. A “quadrille” foi trazida para o Brasil no século XIX, a dança era realizada nos salões reais, geralmente, para prestigiar cerimônias importantes. A quadrilha realizada no São João nada mais é que a versão “popular” e “caipira” dessa dança, atrelada à religiosidade.
A “Escurrega mai num cai” é uma dessas quadrilhas com jeitinho popular de ser, uma das mais antigas quadrilhas juninas de Campina Grande, com quase 29 anos de história, tem raízes no bairro da Palmeira, e é tradição de família, esbanjando uma estante de troféus que ganharam com seus espetáculos. “Nós somos profissionais por amor próprio” diz Seu Zé Virginio, o criador da quadrilha, podendo perceber todo o amor pela cultura popular. O brilho nos olhos ao falar da quadrilha não escondia o orgulho por resistir apesar de todas as dificuldades próprias da cultura no nosso país, como a falta de apoio financeiro. Mas não pensem que dinheiro engrandece os olhos de Seu Virginio, não! Mesmo com uma grande estrutura no Parque do Povo ou Vila dos Tropeiros, o lugar mais aconchegante para apresentações continua sendo o bairro da Palmeira, para ele é “a maior apresentação”, pois é o povo do seu bairro quem o acolhe, mostrando assim que o Maior São João do Mundo continua sendo feito nos bairros, entre vizinhos e amigos.
A família faz festas ou até bingo para conseguir verba para os custos da quadrilha, mas infelizmente esse meio não é suficiente, fazendo com que o dinheiro saia do próprio bolso. O espaço também é pequeno: são várias quadrilhas de vários bairros que dividem mesmos lugares de ensaios, tornando mais difícil ainda a preparação para o mês de junho. Na falta de espaço para ensaiar, há sempre as acolhedoras ruas no bairro da Palmeira, que se tornam palco para as preparações dos quadrilheiros, que abrem e fecham ala para os carros passarem, mas não deixam de dançar com muita alegria.
Quem vê a quadrilha que se apresenta para o público, com suas cores e brilhos, não imagina todo o “sufoco” que tem por trás. É tema, figurino, coreografia e ensaios. Mas também tem muita “história das boas” que ninguém consegue ver, como a de Flávia Danielle, que conheceu seu marido na quadrilha e até quando estava grávida não deixou de pôr o vestido e ir dançar no São João, e o amor é tanto que ela ainda diz que só dança se for junto com o marido. Já pensou até em desistir, por causa das dificuldades, mas a cultura fala sempre mais alto. Ao mostrar seu vestido de rainha, com vários tons de verde e cheio de pedrinhas brilhantes que saltam aos olhos, seu semblante muda, mostrando todo seu orgulho pelo seu traje e sua dança.
A inclusão também é característica da quadrilha, é o caso de Mikaele, que tem problemas especiais, tendo dificuldades para acompanhar os ritmos no início e evoluindo com o tempo e a prática, fazendo da quadrilha sua terapia e mostrando todo o poder da dança de superação.
Quão imponente é nossa cultura popular no São João? As cores escondem histórias, os brilhos escondem dificuldades, a alegria esconde as tristezas. Entendemos a cultura popular, não assistindo somente a apresentações que nos mostram o que esperamos ver, mas ouvindo aquilo que nos é confuso aos ouvidos: como pode uma festa dizer que é popular sem ser? Se vemos a dificuldade pela qual passa o povo que quer simplesmente brincar São João e fazer o que mais faz de melhor e com amor: cultura.