Sítio São João recebe personagens que recriam o universo nordestino

Campina Grande, 14 de junho de 2010

 

Ao visitar o Sítio São João conhecemos muito além de um cenário nordestino típico do século passado. Pudemos, também, ser apresentados a personagens que recriam este universo.

Dentre eles, encontra-se o escritor Paulo Cavalcante, que no Sítio tem como “residência” a tipografia, um dos espaços temáticos do cenário. Ele encarna um personagem híbrido, misto de vaqueiro, cangaceiro e escritor, e aproveita para vender seu livro “O martírio dos viventes”, lançado pela Editora Universitária da UFPB (edição 2010).

Cavalcante, licenciado em História pela Universidade Estadual da Paraíba e professor em escola municipal em Campina Grande, durante o período junino transforma-se no “Perna de Pau”, no “Homem dos Tocos” ou no “Homem do Poste”. Estes apelidos são dados pelos visitantes do Sítio devido aos tocos de madeira sobre os quais ele se apóia, com vestes que lembram as dos cangaceiros e sertanejos, para atrair pessoas a verem a tipografia. O hibridismo do personagem, que foi sendo aperfeiçoado no decorrer do tempo, tenta sintetizar a cultura nordestina e toda a diversidade presente nela. Essa tentativa, segundo Paulo, está em consonância com a proposta do Sítio de “divulgar a história e o trabalho que é popular no Nordeste para o Nordeste”.

O martírio dos viventes” está na quinta edição e, segundo o autor, é muito comparado ao romance “Vidas Secas” do alagoano Graciliano Ramos. Entretanto, Paulo garante que não se inspirou diretamente no romance famoso. “Vivi 21 meses de seca entre os anos de 1992 e 1993 na minha terra natal, Caraúbas (PB), e quis registrar aquela realidade. Fui criando personagens a partir de pessoas reais”.

Ao mostrar a espessura do livro que possui 94 páginas e é vendido por R$ 10,00, Paulo explica que passou “oito anos rascunhando e enxugando essa coisa magra”. A “magreza” do livro também foi uma escolha relacionada às facilidades de edição e publicação.

Para ele, o livro trata fundamentalmente da religiosidade na seca e de como as pessoas se apegam à fé para não terem de fazer o êxodo. “É interessante notar como o que é negado no material é alcançado pelo imaginário, pela religiosidade do nordestino”.

Na tipografia, além de vender seu livro, Paulo tem a possibilidade de conversar com os visitantes sobre sua vida, obra e viagens literárias. “O Sítio para mim é um ‘museu a céu aberto’ e nada melhor que expor meu trabalho aqui”, conclui, seguro da importância do seu trabalho e de um dos espaços mais tradicionais do “maior São João do mundo”.

 

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