Dois anos sem o poeta: Vida e obra de Manoel Monteiro

Campina Grande, 7 de junho de 2016  ·  Escrito por Adriana Araújo   ·  Editado por Beatriz Vieira  ·  Fotos de Adriana Araújo

Considerado o maior cordelista da atualidade com mais de 150 folhetos publicados, Manoel Monteiro da Silva, natural da cidade de Bezerros, em Pernambuco, tornou-se um símbolo da literatura popular nordestina e mesmo dois anos após sua morte, ocorrida em 7 de junho de 2014, sua métrica perfeita, rima, musicalidade inconfundível e abordagem temática continuam a encantar os admiradores da arte e a influenciar novos cordelistas.

Nascido em 1937, Manoel Monteiro trocou sua cidade natal por Campina Grande, na Paraíba, ainda jovem, quando começou a escrever e aos 15 anos publicou o primeiro folheto. Membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), e autor de títulos como “O crime da sombra misteriosa”, “Lampião: herói de meia tigela” e “O maior São João do Mundo completa 30 anos”, o poeta tirou seu sustento, durante as décadas de 1950 e 1960, da venda de sua obra nas feiras de Campina e região.

Com a instauração do regime militar no Brasil e toda repressão artística e cultural que se seguiu, Monteiro viu-se obrigado a buscar outros meios de trabalho, chegando até a ser preso por conta de seu posicionamento ideológico e engajamento com o movimento sindicalista. Apenas em 1995 o poeta volta a viver exclusivamente da sua arte e idealiza um movimento de inovação no cordel até então produzido, denominado “Novo cordel”.

Kátia Monteiro fala sobre a trajetória do pai - Foto Adriana Araújo

Kátia Monteiro fala sobre a trajetória do pai – Foto Adriana Araújo

Kátia Monteiro, filha de Manoel e administradora da Cordelaria Poeta Manoel Monteiro, situada na casa do próprio poeta, no bairro do Santo Antônio em Campina Grande, destaca a importância da obra de seu pai e as características do novo cordel. “O novo cordel mantém a estrutura do cordel anterior com a sua rima, a métrica, a qualidade dos assuntos e agora a diversidade. O que ele trouxe foi justamente diversificar os temas, que poderiam ser tanto temas juninos, como vários outros, como ecologia, drogas, doenças, assuntos de interesses da juventude” ressaltou.

O cordel que antes preocupava-se com aventuras amorosas, disputas familiares e questões de ordem religiosa por exemplo, agora veste uma nova roupagem, inova em aspectos gráficos e traz para o debate preocupações sociais e momentos históricos. Essa inovação de Monteiro possibilitou a inserção da literatura de cordel no ambiente escolar como um recurso didático, que auxilia professores e alunos nas diversas áreas do conhecimento.

De acordo com Kátia, a procura pela obra de Manoel Monteiro se intensifica com o período junino e o aumento do turismo na cidade do maior São João do Mundo, mas a demanda maior vem de estudantes e professores de todos os níveis de ensino, que procuram no novo cordel enriquecimento cultural e histórico. Ela relata ainda uma outra preocupação do pai, em relação à continuidade de seu trabalho: ele desenvolvia um trabalho de acompanhamento de poetas e poetizas iniciantes, que produziam, mas não tinham condições de publicar suas obras. Manoel não só auxiliava no aperfeiçoamento da técnica como dava apoio logístico para edição do cordel.

Cordéis de Manoel monteiro - Foto Adriana Araújo

Cordéis de Manoel monteiro – Foto Adriana Araújo

Um dos cordéis mais recentes de Monteiro tem como título “Quer escrever um cordel? Aprenda a fazer fazendo…”, ensina as regras básicas, o passo a passo do processo de concepção do cordel e evidência sua preocupação em repassar seus conhecimentos para as futuras gerações. Ele faleceu aos 78 anos, exercendo com plenitude suas atividades intelectuais. Desaparecido desde o dia 30 de maio de 2014, o poeta foi encontrado sem vida em um quarto de hotel na cidade de Belém – PA, oito dias depois. Na ocasião, o poeta cearense Rouxinol do Rinaré escreveu a seguinte homenagem:

 

“A saudade de Monteiro

Por este Brasil se expande

Além de Campina Grande

Afeta o Nordeste inteiro

Vate de verso alternativo

Pessoa muito querida

Deus o tenha na outra vida

Mestre, cordelista nobre,

O cordel ficou mais pobre

Depois da sua partida!”

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