Cordelista, sim senhor! A face renovada da literatura popular como poder transformador

Campina Grande, 11 de julho de 2018  ·  Escrito por Sarah Cristinne Firmino  ·  Editado por Fernando Firmino  ·  Fotos de Dalisson Markel
(Foto: Dalisson Markel.)

Cordelista Anne Karolynne. (Foto: Dalisson Markel.)

A literatura de cordel é uma das mais fortes representações populares do Nordeste.  Os cordéis, pendurados em barbantes ou expostos em bancas de revista, chamam a atenção pelos títulos originais e a arte da xilogravura (técnica antiga de talhar imagens na madeira para ilustrar as capas desses impressos.) E não é porque o tempo passou que ele perdeu seu espaço,  ao contrário, ganhou uma nova roupagem.

A evolução do cordel: dos barbantes à rede da internet

Cordelista Anne Karoline. (Foto: Dalisson Markel)

O recitar. (Foto: Dalisson Markel)

Algo que está em alta ultimamente, é o uso do cordel personalizado, onde as pessoas contam sua história de vida, ou um fato importante que queira retratar, e o cordelista transforma o relato em versos de cordel. As histórias podem ser ilustradas com caricaturas das pessoas homenageadas, em festas como casamento, aniversários e formaturas, e tudo mais que vier para ser transformado em poesia,  fazendo o maior sucesso.

Uma das poucas cordelistas no Nordeste que trabalha com esse novo ‘modelo’ do cordel, transformando-os não só de causos e lendas, mas de histórias, é a campinense Anne Karolynne, de 28 anos, enfermeira especialista em saúde mental. E o que ela mais sente orgulha em se intitular: cordelista! “Costumo dizer que minha vida é poesia, pois ela está em mim assim como as células de meu corpo. Então viver é minha inspiração e escrever é tão espontâneo quanto respirar; ainda que não existisse ninguém para ler o que escrevo, eu continuaria escrevendo, rimando e fazendo poesia por onde vou, pois esta é minha essência”, entusiasma-se.

Não é só nos trios de forró que o legado é passado de pai para filho, tal como herança herdada. A cordelista Anne tem como referência sua mãe, que escrevia poesias, e quando a via escrever, começou a se inspirar no talento dela, engatando suas produções. Os primeiros versos surgiram ainda aos sete anos de idade, e aos dez já veio o primeiro livrinho, chamado “Rimar é bom”. Outros grandes nomes como Chico de Assis, poeta campinense, e Leandro Gomes de Barros, paraibano conhecido como rei dos poetas populares, a levou a intensificar suas produções na adolescência.

O Cordel para além da poesia

Não é difícil encontrar os livros com temas de conscientização como a falta de água, por exemplo. E a cordelista Anne 

O amor pelos cordéis. (Foto: Dalisson Markel)

O amor pelos cordéis. (Foto: Dalisson Markel)

não faz diferente, mas, unindo a literatura com a sua profissão, ela usa seu talento para escrever, como um poder de cura.  “Adoro unir a arte que faz parte de mim à profissão que escolhi para cuidar de pessoas. Uso o cordel para promoção de saúde, e além de escrever e declamar cordéis em palestras, também uso o meio digital como ferramenta de educomunicação, através da divulgação de vídeos informativos em cordel sobre temas relacionados à saúde. Por isso costumo utilizar as oficinas de cordel como recurso terapêutico no CAPS – Centro de Atenção Psicossocial – em que trabalho, e os resultados são sempre positivos”, explica ela, ciente do seu papel na poesia e na ajuda às pessoas na área da saúde.

“No escuro da madrugada minha mente ilumina a escuridão através da poesia”

O processo de criação não é fácil, independente da obra artística, tudo tem de estar equilibrado para fluir. Anne fala que: “Para escrever, costumo estar em um ambiente tranquilo, longe de ruídos, gosto de escrever com silêncio total, por isso prefiro os horários noturnos, enquanto todos dormem. No escuro da madrugada, minha mente ilumina a escuridão através da poesia. É um sentimento maravilhoso sentir os versos saindo de minha mente e traduzindo as minhas emoções através das palavras.” Quando perguntada como é trabalhar com a literatura de cordel fugindo tanto do convencional, ela expressa que é preciso enxergar poesia nas pequenas coisas da vida, levar as pessoas à reflexão através das palavras, fazendo sentimentos virar verso. E é assim, com a literatura de cordel sofrendo alterações para agradar (e ajudar) o leitor, que a tradição vai se mantendo viva com o passar do tempo.

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