Repórter Junino, Beto Brito e O Maior Cordel do Mundo

Campina Grande, 29 de junho de 2011

O cantor e poeta popular Beto Brito esteve neste último fim de semana em Campina Grande para mostrar o seu novo trabalho no Salão do Artesanato. O cordelista que também é compositor e rabequeiro lançou este ano o Livro e o CD “Bazófias de um Cantador Pai D’Égua – O Maior Cordel do Mundo – Capítulo I” que esteve à venda durante todo o funcionamento da 14ª Edição do Salão e o Repórter Junino estava lá realizando uma entrevista com ele para sabermos mais a respeito deste grandioso projeto.

 

Repórter Junino (RJ): Primeiramente, o que significa “Bazófias”?

Beto Brito (BB): Bazófias, no repertório do repentista significa exageiro. O cantor de repente não é nada modesto nas coisas que diz, como por exemplo: “Eu dei um tiro pro céu e derrubei trinta cometas, asteróides foi de ruma, entortei nove planetas, mil estrelas explodiram, mais de cem luas caíram no girar das escopetas”. Bazófias são essas filosofias que o repentista utiliza como uma espécie de exageiro mas ao mesmo tempo é uma ferramenta básica dele para contar as suas historias de humor, de caçadas e, porque não, de amor. Como uma relação direta, podemos dizer que no dicionário do nordestino, bazofias é uma pabulagem; é você dizer que fez o que ninguém faz. São metáforas utilizadas por todas as formas de literatura.

RJ: De onde surgiu a ideia para a criação do livro?

BB: Há algum tempo eu estava assistindo um monólogo escrito e interpretado pelo Lirinha, vocalista da extinta banda Cordel do Fogo Encantado, e nessa peça, chamada “Mercadorias e Futuro”, ele faz um vendedor de livros que utiliza de vários métodos para vender suas obras nas feiras livres. Após uns 30 minutos de peça, ele disse ao público: “Eu vou narrar um cordel que tenho memorizado com mil estrofes”. E as pessoas se assustaram e comentaram que não é possível que depois de meia hora de peça ele ainda vá narrar um cordel deste tamanho. Na verdade ele estava brincando e acabou narrando um cordel de Chico Pedrosa chamado Briga na Procissão que não tem 1000 estrofes, mas também não é muito curto. Quando terminou a peça eu pensei: “Ele falou que ia narrar um cordel gigante e as pessoas fizeram aquele gesto de espanto e porque não levar isso a sério? Porque não criar um cordel com mil estrofes?”. A partir deste momento eu comecei a escrever e não me conformei com mil estrofes e fui até 1400.

RJ: O livro tem escrito na capa que é o “Capítulo 1”. Do que se trata esta primeira parte e existirá continuação?

BB: Quando eu estava escrevendo o Capitulo 1 que na verdade ia ser um Capítulo Único, eu tive uma conversa com o escritor Bráulio Tavares em minha casa e ele falou: “Não, Beto, coloca Capítulo 1 na capa porque o cordelista é muito teimoso, se você diz que tirou leite de pedra, ele quer tirar a coalhada já, ele quer lhe superar. Então se você diz que é o maior do mundo, dois meses depois aparece outro maior que ele. Para espantar, diga logo que é Capítulo 1”. A ideia foi de ser apenas uma brincadeira, sem propósito nenhum, para deixar no ar que teria vários capítulos. Quando levei para a editora, ela perguntou logo pelo capitulo 2. Então eles me disseram que eu teria que fazer o dois, para não enganar o leitor. Aceitei a proposta e mandei brasa. Do ano passado para cá eu terminei de escrever a segunda parte que será um pouco diferente do primeiro volume.

Dentro da cantoria existem cerca de 80 ou mais modelos de se cantar o repente; o cordel é um pouco mais limitado ou é em formato de sextilhas (o mais comum), septilhas ou décimas. O capitulo 01 tem 1400 estrofes, todas escritas no formato de septilhas: sete linhas horizontais cada linha com 7 sílabas. No volume dois eu fui mais além e escrevi quadrão perguntado, quadrão respondido, martelo, entre outros que são comuns na cantoria de repente mas que não é comum no cordel. Resolvi fazer esta mistura.

Sobre o conteúdo deste livro é interessante observar uma coisa. Ao escrever um cordel deste tamanho eu pensei: “Poxa, é muito grande, ninguém vai ler tudo”. Geralmente o cordel é uma narrativa que conta histórias de princesas, de desafios, entre outros. Eu costumo falar que “o cordel é o professor da maioria, é o jornal do meu sertão, a palavra encantada que causou revolução; genial este folheto, é o nosso amuleto pendurado num cordão”.

O Bazófias não tem uma história narrativa, ele tem basicamente bazófias. Eu falo que sou o melhor, que sou o tampa, que já fui na lua, da lua voltei pro fundo do mar e eu conheço da pangéia ao apocalipse. O mais importante sobre o Bazófias é que se você abrir o livro em qualquer página, será capaz de compreender; a septilha seguinte não depende da anterior, são versos soltos que compõem a obra como um todo.

RJ: Em relação a proposta de ser “O Maior Cordel do Mundo”, já existe algum cadastro no Guinness Book de alguma obra deste tipo?

BB: Não existe especificamente um registro de um maior cordel do mundo. Existe no Guinness O Maior Poema do Mundo que é Os Lusíadas, de Camões. Acontece que esta é a única forma de escrita parecida com o estilo do cordel e que tem cerca de 1200 caracteres, sendo um pouquinho maior que o Bazófias. Só que obviamente não podemos dizer que Os Lusíadas é um cordel. Eu não quis chegar junto ao Guinness para cadastrar o Bazófias como o maior cordel do mundo ainda por conta da obra de Camões que é maior que a minha. Aqui no país, existe uma empresa chamada Rank Brasil, que cataloga os recordes nacionais e disponibiliza-os no site www.rankbrasil.com.br, se pesquisar neste site pelo maior cordel do Brasil, vai aparecer o meu livro. O Rank é o primeiro passo para se requerer algum recorde junto ao Livro dos Recordes. Após eu lançar o volume dois, o que deve acontecer até o final do ano, aí sim vou atrás do Guinness para cadastrá-lo como o maior cordel do mundo.

RJ: O Bazófias já é o seu segundo projeto composto de um disco lançado junto com literatura de cordel, sendo o primeiro o Imbolê: Cordel e Som Na Caixa. Existe alguma relação de continuidade entre as duas obras?

BB: Continuação exatamente não, porque a sonoridade do disco Bazófias é um pouco diferente do Imbolê. Existe uma certa continuação estética, pois a minha literatura não mudou. A linguagem usada nos dois discos é uma linguagem nordestina, cordelista, a linguagem popular do repente, com ditados populares, etc. Apesar de eu tentar dar uma cara diferente ao disco mais recente, o conceito ainda continua o mesmo. Eu digo que o termo “imbolê” é a fusão de elementos regionais como o acordeon, a rabeca, a literatura de cordel, os tambores (pandeiros e zabumba) e loops eletrônicos. A fusão destes 5 elementos dentro da música nordestina, da minha música nordestina, especialmente, eu chamo de imbolê, assim como Chico Science chamou o seu estilo de manguebit. O disco Bazófias vem neste mesmo conceito, incluindo ainda guitarras e cítaras. O volume dois do livro também virá acompanhado de um disco que já estou gravando, sendo que neste próximo volume estou colocando menos rabeca e mais viola nordestina. Será basicamente um disco de viola.

RJ: No projeto Imbolê existiam músicas com trechos retirados dos cordéis do box. No Bazófias existe esta característica também?

BB: As cancões do Bazófias, as letras de todas as músicas do disco, são retiradas integralmente do livro. No Imbolê não são todas as músicas que saíram dos cordéis, mas existem algumas como Falas do Povo e Ciranda Mei de Feira que são na íntegra um resumo dos livretos de mesmo nome. No Bazófias, 1 e 2, as canções são todas feitas com base nos livros.


Beto Brito tem quatro discos lançados e mais de 20 cordéis. Já participou de programas como Jô Soares e também fez duas turnês na Europa onde divulgou o seu trabalho Imbolê – Cordel e Som na Caixa.

As pessoas que estiverem interessadas em adquirir seus discos e livros podem comprar diretamente pelo site do cantor (www.betobrito.com) e receberá em sua casa. Quem não quiser comprar mas deseja adquirir as músicas, no próprio site existe disponível para download gratuito os quatro álbuns. Em Campina Grande, o livro e o disco Bazófias são vendidos também na Banda do Orlando, localizada na Praça da Bandeira.

Editado por Skarllety Fernandes

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