Sanfona e Sanfoneiro: Raízes de uma tradição

Campina Grande, 1 de julho de 2012

A cultura nordestina com toda sua riqueza de cores e ritmos movimenta cada vez mais o clima festivo, que invade todos os ambientes por onde passa. Na simplicidade ou sofisticação, o São João com todos seus elementos é sinônimo não só de euforia e de festa, mas também de uma tradição que atravessa gerações e é resgatada anualmente.

Podemos dizer que o forró é um dos principais elementos desse período e que se popularizou Nordeste, difundiu-se entre os limites dos estados nordestinos e chegou também em diversos lugares do Brasil e do mundo. Mas seria possível pensar no forró deixando de lado a sanfona?
Sem dúvidas, a sanfona consagra esse clima de festa, quando a efervescência do forró toma conta dos mais diversos lugares. Desde a família que se reúne em voltada fogueira até as palhoças onde forrozeiros dançam o autêntico forró pé-de-serra, o toque desse instrumento anuncia que chegou o tempo do São João.

É interessante perceber que apesar de seu destaque no período junino, ela é tocada durante todo o ano. Em todo lugar há sempre um sanfoneiro, e o forró vem mantendo viva e compartilhando essa cultura.

Trazida para o Brasil através dos imigrantes italianos e alemães, a sanfona foi ganhando espaço entre as mais diversas regiões do país, sempre como sinônimo de alegria. Inicialmente sendo inserida no baião, que até então era tocado apenas com o violão, o instrumento passa a reconfigurar e criar ritmos, tornando-se popular e representando, através da sua musicalidade, diversos momentos tradicionais da história.

Como todo instrumento, a sanfona possui sua parte técnica que é formada pelo teclado – que pode representar até acordes mais sofisticados, o fole – responsável pela passagem de ar que resulta na liberação do som, e pelos baixos, que são os botões tocados pela mão esquerda e responsáveis por notas mais graves, determinando o ritmo.

A maioria das sanfonas encontradas hoje possui cerca de 120 baixos e pesam entre 9 e 13 quilos. No Nordeste, as marcas mais conhecidas são Scandalli, Giuliette (marca da sanfona de Luiz Gonzaga) e Lettice, que é genuinamente paraibana.

Sanfoneiros: uma paixão que vai além dos acordes

Os sanfoneiros, antes de tudo, são amantes e percursores de uma arte e de um instrumento considerado complexo. São, em grande parte, homens que encontraram na sanfona uma forma de expressão do sentimento, através de suas mãos habilidosas.

No cenário nacional, muito foram eternizados, como é o caso do consagrado Luiz Gonzaga, “O Rei do Baião”. Neste ano, comemoramos o centenário deste que honrou, até o fim dos seus dias, o compromisso com a arte e com seu instrumento através de seus acordes e suas canções que atravessaram gerações e inspiraram novos artistas. Na Paraíba, temos uma rica diversidade desses músicos, seja nas bandas de forró, em carreira solo, nas orquestras ou nas palhoças.

Sem dúvida, a sanfona tornou-se a razão de viver de muito deles. “A sanfona é parte de mim. Eu posso até me ver longe dos palcos, mas não da sanfona.”, afirma o cantor Edglei Miguel, que herdou a musicalidade do seu pai Edmar Miguel, maestro e sanfoneiro. Além disso, ela também representa carinho. “Quando eu não estou com ela, eu penso nela. Ela é o meu amor.”, declara o músico Raniery Gomes.

Sanfoneira mostra o amor de tocar o instrumento

Sanfoneira mostra o amor de tocar o instrumento

Ela também reflete uma memória que é revivida e transmitida às gerações mais recentes. Como grande exemplo de determinação, a senhora Jubelita Alves (72) retrata com orgulho seus 60 anos de histórias vividas a bordo de seu instrumento. Suas mãos cansadas não deixam de demonstrar seu amor pela sanfona e pela música nordestina. “Aprendi a tocar sozinha, tudo foi dom de Deus. As pessoas se impressionavam ao ver uma mulher tocar, afinal não é toda mulher que saber tocar sanfona.”, destaca Jubelita.

Uma parte do corpo, uma vida, um dom de Deus. Desde os acordes mais simples aos mais complexos, esse instrumento e seu “tocador” tornaram-se um elemento essencial do período junino e da cultura regional.

Edição: Nayara Clênia
Fotos: Jeani Silva 

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