REPORTAGEM ESPECIAL: as cores e a moda do São João

Campina Grande, 20 de junho de 2014

 

Por Carla Cordeiro, Dayane Andrade e Jenifer Pachú

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Tecidos e muitas cores abrilhantam o figurino dos festejos juninos. Foto: Eduardo Philippe

Todos os anos uma mistura de várias culturas e aspectos se unem em torno de uma só comemoração, o São João. Embora seja comemorado nos quatro cantos do Brasil, é no Nordeste que ele ganha maior repercussão, as tradições culturais são bastante enfatizadas durante esse mês, danças, fogueiras e as comidas típicas são primordiais e não podem faltar nas comemorações. Porém o brilho das roupas juninas, em especial das roupas de quadrilha, é um show a parte e não pode faltar na composição do figurino junino. As costureiras, neste período, se preparam para incrementar nos adereços, tecidos, rendas e demais acessórios para garantir todo o encanto que as roupas juninas atraem.

É o caso de Geralda Barbosa de Melo, 59, nascida em Sousa no sertão da Paraíba, e que começou a costurar ainda pequena para suas bonecas. Aos 17 anos passou a costurar para fora e desde então não parou mais. Já faz 42 anos que ela exerce esta função pela qual tem muito gosto. Todos os dias costuma acordar cedo para confeccionar os mais variados tipos de roupas, como camisões masculinos e femininos, calças, saias, shorts, vestidos e toda linha de costura fina, mas neste período, o trabalho é bastante intenso e produtivo. “Eu sempre gostei muito da costura, comecei fazendo roupas para minhas bonecas e hoje costuro para fora, além de ser uma terapia e uma forma de complementar a renda da família principalmente no mês de junho que aumenta a procura” afirmou a costureira.

No mês de junho em especial o trabalho ganha mais cor, brilho e detalhes, uma vez que Geralda também trabalha com roupas juninas utilizando muito cetim, chita estampada, miçangas, paetês, dentre outros. Todos esses detalhes são feitos artesanalmente e fazem parte da produção das roupas de quadrilhas e vestuários da época junina em geral. Há alguns anos trabalhou costurando para quadrilhas de seu bairro, mas há algum tempo optou pela confecção das roupas de quadrilha infantil. O lucro varia entre 25,00 e 60,00 reais dependendo da roupa. O tempo estimado entre o corte a costura e os detalhes para os vestidos infantis é de aproximadamente três horas.

 

O passo-a-passo dos figurinos

 

Mas não é só da confecção e do glamour que são feitos os vestidos de quadrilha e as roupas juninas, para chegarem até a finalização percorrem um longo caminho: A busca pelo material de boa qualidade e com o preço acessível. Nessa época a venda de tecidos como chita, cetim e xadrez aumentam consideravelmente por serem os mais procurados pelos consumidores. O metro da chita custa cerca de 5,00 reais, já o cetim pode ser comprado a partir de 6,00 reais e o xadrez varia entre 7,00 e 10,00 reais.

Os vestidos de quadrilha remetem aos mais variados temas e esse ano são inspirados também na copa do mundo que acontece no Brasil, fazem com que as cores da bandeira predominem nos tecido. Miriam Freitas, estilista da loja Luiz Tecidos, localizada no centro de Campina Grande, nos contou um pouco do seu trabalho no período junino: “Os temas juninos são os que mais saem na loja, voltados para a copa, nas cores verde, amarelo e branco, o tecido que sempre prevalece é a chita mais com alguns detalhes no cetim que sai tanto liso como estampado que já é um tecido mais estilizado. Este ano desenhei pra algumas quadrilhas de cidades vizinhas”.

Muitos podem procurar pelas cores brasileiras já que este é o ano da Copa do Mundo, principal evento esportivo mundial, porém há exceções como, por exemplo, a quadrilha “Tradição da Serra” que há nove anos abrilhanta os festejos juninos com sua elegância, simplicidade e carisma. Este ano a quadrilha terá como tema “Maria: A flor do bem querer” e segundo a dançarina Karen Arruda, 22, “o nosso estilista Paulo Victor, fez o figurino mais lindo que nossa quadrilha já teve, misturando o tradicional com o estilizado, fazendo uma homenagem a todas as mulheres, as Marias guerreiras da nossa cidade”, finalizou.

 

Especialista fala sobre a moda no São João:

 

 

Um pouco de História das Quadrilhas Juninas

As primeiras quadrilhas juninas tiveram origem na Europa e desembarcaram no Brasil junto com a Corte Real Portuguesa no início do século XIX e rapidamente se popularizaram entre os habitantes da zona rural. As roupas usadas no começo do século eram acompanhadas de muita simplicidade e toda a animação era refletida nas cores dos tecidos como o xadrez e a chita. Com os anos as quadrilhas tiveram uma grande evolução no seu figurino, cada vez mais foram aderindo às novidades e adaptando-se a esse novo século. A estilização das quadrilhas tem sua marca registrada através do luxo, brilho e uso de tecidos mais sofisticados. A primeira quadrilha estilizada surgiu no final dos anos 80 para início dos anos 90.

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Início das quadrilhas juninas, ainda no começo do século passado. Foto: Google image

 

Esse novo estilo surgiu através da dança gaúcha denominada “Bombachas”, com o passar dos anos se distanciou do gênero e foi aderindo a elementos carnavalescos que incluem passos e músicas mais rápidas. Porém toda a tradicionalidade não foi deixada de lado, muitos movimentos permanecem vivos na memória e na base das coreografias como há exemplo do “anavantur” (avant tout, todos à frente), anarriê (derriére, para trás), que são de origem francesa.

Mesmo não tendo surgido no Brasil, as quadrilhas juninas se tornaram estilosas e abrilhantadas, e são de grande valor e importância para o resgate da memória histórica. Embora sejam conhecidas em todo país através dos concursos promovidos nos diversos estados, é no Nordeste que ganha maior repercussão e visibilidades por ser uma marca registrada dos festejos juninos. E como já dizia Cecéu em sua composição Forró do Poeirão” Quem não quiser dançar, saia do meio do salão, que dança hoje é pra quem tem disposição.”

 

 

 

Confira a Galeria de Fotos do Figurino e Cores do São João:

 

EQUIPE REPORTAGEM ESPECIAL
Coordenação da Reportagem: profa. Adriana Alves Rodrigues
Texto: Carla Cordeiro, Dayane Andrade e Jenifer Pachú
Fotos: Carla Cordeiro e Eduardo Philippe
Vídeo: Jenifer Pachú

 

 

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