Gotas da Esperança: Chuva renova alegria do povo

Campina Grande, 29 de junho de 2018  ·  Escrito por Pâmela Vital, Bruna Martins e Larissa Santos  ·  Editado por Sara Lucena  ·  Fotos de Joyce Lima
A esperança brota na Zona Rural de Campina Grande Foto: Joyce Lima

A esperança brota na Zona Rural de Campina Grande Foto: Joyce Lima

 

Na véspera de São Pedro (28), a zona rural de Campina Grande amanheceu com a névoa e o orvalho característicos de um dia frio. Como a tradição prevê, quando a chuva escolhe cair nesse dia é sinal de um plantio frutífero e uma resposta às preces dos milhares de sertanejos que buscam, no Santo de devoção, uma escapatória para a seca perene enfrentada nos últimos anos. A crença popular é tão grande que São Pedro ganhou a fama de “guardião dos portões do céu” e se tornou principal alvo dos pedidos da população que busca nele forças para sobreviver da terra.

Esperança renovada para os moradores de Estreito. “É só alegria! Agora sabemos que o Santo está do nosso lado e podemos plantar o que quisermos que água, desta vez, não vai faltar!” comemorou Francisco Elias. Chico, como é mais conhecido, aprendeu desde criança a seguir o costume para não dar motivos ao Santo ficar insatisfeito com os agricultores. “Aprendi a rezar por um bom plantio com minha avó. Ela me explicou como pedir a São Pedro um dia de chuva bom pra melhorar os ânimos de todos que precisam da terra para ganhar seu sustento”, disse.

Parque do Povo em noite de chuva Foto: Joyce Lima

Parque do Povo em noite de chuva Foto: Joyce Lima

A noite no Parque do Povo não foi diferente. Os céus não deram trégua ao forrozeiro que escolheu o dia de quinta feira para ir no quartel general do forró. “Nasci aqui pertinho, em Pilar, mas moro em São Paulo há 44 anos. Sempre venho no período junino à Paraíba reviver os bons tempos de minha infância, comemorar com muita fogueira, milho assado e forró. Só pretendo voltar dia 05 de julho para minha casa”, comenta Áurea Fonseca. “Ainda tem muita festa pra aproveitar”, afirma.

Sobre tradições da véspera de São Pedro, Áurea relembra um pouco do seu passado e enfatiza a importância da época chuvosa para sua família. “Essa chuva de hoje é bênção. O nordestino só pode levanta as mãos para o céu e agradecer. No meu tempo, a gente reunia a família ao redor de uma fogueira e celebrava a boa nova até o amanhecer.  Ah, nada como nossa terra!”, exaltou Áurea.

Para o comerciante, Beilton Elias, dono de uma barraca de tapioca na parte interior do Parque do Povo, a chuva é benéfica para os negócios. “Olha como tá aqui, lotado! Quem vem querendo aproveitar o que temos aqui corre pra debaixo de um local de apoio quando chove, e claro que acabam comprando alguma coisa. Afinal, alguém resiste a melhor tapioca do Parque do Povo?!”, relatou animado, enquanto aponta para dezenas turistas que aproveitaram a pausa para lanchar no local.

Aluska Pâmela é bombeira civil e relatou que as gotas d’água trazem alegrias para a maioria da população, mas para seu trabalho, torna a noite de labor um pouco mais cansativa. “É a primeira vez que pego um dia de chuva nesses 16 dias que estive aqui no Parque do Povo. Acaba se tornando difícil desempenhar nossas funções corretamente porque levar chuva, molhar o uniforme e ainda correr por poças d’água para atender uma ocorrência é árduo”, argumenta.

Em dias de chuva, o risco de quedas no parque do povo aumentam segundo Aluska Pâmela, bombeira civil Foto: Joyce

Em dias de chuva, o risco de quedas no parque do povo aumentam segundo Aluska Pâmela, bombeira civil.  Foto: Joyce Lima

A possibilidade de escorregar ou trombar em alguém enquanto se deslocam, segundo ela, é grande, mas, pelo que conversou com os colegas antes de começar seu plantão, a população deixa de comparecer ao espaço quando surgem os primeiros pingos. “Até agora, não teve nenhuma ocorrência. Normalmente, o movimento só começa após meia noite; aí sim, teríamos mais dificuldade de conversa”, aponta Aluska.

Seja no interior, seja na área urbana, a tradição de São Pedro continua viva no inconsciente popular mesmo após tantos anos. Para as pessoas que não vivenciam a realidade sertaneja, pode parecer algo fora do comum, mas para aqueles que são alimentados pela crença religiosa, a comemoração é merecida, porque sabem que, no dia posterior, o verdadeiro trabalho começa e a terra estará pronta para receber, mais uma vez, as sementes da esperança.

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