Projeto Repórter Junino revela profissionais que atuam na mídia local e nacional

Campina Grande, 9 de julho de 2020

Mateus Araújo
Repórter

O colorido da cidade, o cheiro do milho verde cozido, a batida da zabumba e do triângulo ecoando no meio do mundo, além do frio de junho, são algumas das características mais marcantes dos festejos juninos no Nordeste. E é nesse clima único e contagiante que o projeto Repórter Junino vem realizando, há 15 anos, o trabalho de difundir a cultura popular, resgatando valores culturais, e, por vezes, sendo pioneiro no que se refere ao uso de tecnologias na produção de reportagens.

O Repórter Junino, que celebra este ano as bodas de cristal, surgiu na antiga sede do Departamento de Comunicação (DECOM) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), no bairro São José, em Campina Grande, como explica o idealizador, professor do curso de Jornalismo da UEPB, Fernando Firmino. “O projeto surgiu numa turma que eu ministrava a disciplina de Novas Tecnologias da Informação e Comunicação, em 2005. A ementa da disciplina era mais teórica e propus à turma introduzirmos também a prática do jornalismo digital. Estava próximo do São João e veio a calhar um projeto sobre a festa. Na época, tudo foi incipiente, mas a empolgação da turma fez emergir o projeto e a percepção de que era possível cobrir o evento a partir do jornalismo digital, o que não era comum”, revelou.

Nesses 15 anos, cerca de 1300 alunos já passaram pelo projeto, que se tornou um laboratório para futuros jornalistas. Alguns dos profissionais que hoje atuam no mercado local e até nacional, estão consolidados e têm algo em comum: a gratidão por terem feito parte da história do Repórter Junino. Nessa reportagem, conheceremos alguns destes profissionais que fizeram parte do projeto. 

Um divisor de águas

Para a repórter da Tv Paraíba (afiliada da Globo em Campina Grande), Laisa Grisi, o Repórter Junino foi um marco significativo na sua trajetória profissional. “Foi crucial para mim. Eu já entrei na universidade com aquele sonho de ser repórter, mas foi no projeto que eu me identifiquei totalmente com a função. Todo mundo queria participar da seleção. Ter passado nessa prova foi uma felicidade tremenda”, relembrou com entusiasmo. Nostálgica, a jornalista contou como foi a experiência no Repórter Junino: “Lembro que fiquei muito empolgada porque ia ser repórter. Eu me empenhava muito nas pautas. Íamos em busca das notícias no Parque do Povo e fazíamos o texto lá na cabine mesmo. É muito importante a vivência como repórter enquanto você ainda é estudante. Foi meu primeiro contato com a reportagem e eu fiquei fascinada. Foi quando eu percebi que é isso que eu gosto de fazer”, concluiu.

A jornalista Raiza Tavares é outro exemplo de sucesso profissional após ter participado do projeto. A repórter e apresentadora da Tv Borborema (afiliada do SBT em Campina Grande) se mostra grata pela oportunidade que teve durante a graduação. “Acho que todo mundo que passa pelo Repórter Junino tem uma grande oportunidade por ganhar experiência na prática jornalística. Na faculdade, a gente aprende muito com a teoria, mas a prática é indispensável, é essencial. Pude entrevistar personagens históricos como a cantora Marinês, uma artista que eu tive a grata honra de entrevistar. Para mim, foi uma experiência única. O projeto é uma grande escola. Tenho certeza que ele contribui bastante para a formação dos profissionais”, afirmou.

Arte e cultura sempre foram palavras presentes no dicionário de Zuila David, uma cearense que escolheu a Paraíba para estudar jornalismo. E o Repórter Junino também fez parte da história de Zuila, atual repórter da Tv Cabo Branco (afiliada da  Globo em João Pessoa) e um dos principais destaques do jornalismo paraibano. 

Entre risos, a jornalista lembra da época que era estudante de comunicação, quando integrou o projeto de extensão do DECOM. “Como estudante de jornalismo, estar no Parque do Povo para fazer a cobertura de uma das maiores festas juninas do país foi uma oportunidade única que eu precisava aproveitar ao máximo. E foi assim que sempre enxerguei o ‘Repórter Junino’, um grande projeto de formação para os alunos de Comunicação da UEPB. Na reportagem, tive a chance de entrevistar grandes nomes da música popular como os cantores Genival Lacerda e Alcymar Monteiro, além de outros artistas, pesquisadores e autoridades. Foi uma verdadeira escola para a vida”, destacou.

A jornalista Zuila David entrevistando o cantor Alcymar Monteiro na época em que ela atuava como repórter do projeto. Foto: arquivo Repórter Junino

Zuila ainda acrescentou como essa passagem pelo projeto se revelou posteriormente na sua formação. “Não tenho dúvidas de que todas as experiências que vivenciei no projeto contribuíram com a minha formação, e só tenho gratidão por ter tido essa chance ao longo do curso e a todos os professores que foram grandes mestres e nos deram a confiança que precisávamos”, finalizou.

Os bastidores da notícia

Quem vê a matéria publicada no site e a consequente repercussão na mídia, não imagina os esforços que são necessários até que se chegue a uma versão final do texto. E para os estudantes, sempre empolgados com as descobertas jornalísticas, os bastidores da reportagem e todos os contratempos que surgem pelo caminho são uma prova da real vivência nas redações jornalísticas como a do Repórter Junino com produção audiovisual e hipertextual.

Vanessa Oliveira exerce múltiplas funções na TV Cabo Branco, desde a produção até à edição. A jornalista foi mais uma que passou pelo projeto e recorda de uma experiência engraçada que viveu em uma das pautas do Repórter Junino. Segundo ela, o fato serviu de aprendizado para sua carreira. “Na primeira noite de trabalho, Ana Sousa [que hoje é professora e editora na TV Paraíba] e eu, ambas escaladas como repórteres, fomos orientadas a ir ao Açude Novo, onde aconteceria o Festival de Quadrilhas. Mas, como eu não sou de Campina Grande, não desconfiei de nada e minha colega dizia que o evento seria no Parque do Povo. Já que estávamos bem adiantadas na hora, fui jantar um cachorro-quente na famosa lanchonete ‘Lindo Olhar”, enquanto Ana Sousa ia ao Açude Novo checar se as quadrilhas estavam lá. Comi um cachorro-quente e pedi a conta. Cadê o dinheiro? Tive que ligar para as colegas do apartamento e elas vieram a pé trazer o dinheiro. Como também não eram de Campina Grande, procuravam o estabelecimento como ‘Olhar encantado’, até que finalmente alguém as ajudou a encontrar o local correto”, contou, aos risos.

“Ana Sousa voltou à lanchonete e a correria foi grande para chegarmos até o Parque do Povo na hora do Festival de Quadrilhas. Cobrimos tudo. Depois, rimos muito e refletimos sobre o quanto a vida de repórter não era fácil: os atropelos no caminho e a indicação errada do local na pauta jornalística. E se tivéssemos perdido o festival? Esse foi um dos dias no projeto. Houve outros dentro dos 30 dias que me fizeram lidar com estudantes de jornalismo, os quais, hoje, estão no batente comigo. Como editora de texto de uma emissora de televisão,  tendo que lidar com produção e reportagem, carrego com gratidão essa lembrança do Repórter Junino. Éramos uma redação ambulante em meio à festa do Maior São João do Mundo. Que saudade!”, completou Vanessa, que viu no projeto uma oportunidade de lapidar seus talentos em comunicação.

Sem dúvidas, Rafaela Gomes é um nome promissor no jornalismo paraibano. Natural e residente em Patos, no Sertão do estado, a jornalista tem um longo currículo em frente às câmeras, tendo atuado como repórter nas TVs Borborema, Correio e Paraíba. Além de acumular experiência em radiojornalismo e assessoria, ela vem se destacando nos últimos anos como especialista em Comunicação e Marketing de Dados.

Conforme Rafaela, o Repórter Junino surgiu em seu caminho como uma chance única para aliar teoria e prática no processo de formação. “Apesar de ter batido na porta de muitas empresas, não tive oportunidade de estágio durante a graduação. É gratificante ter participado do projeto desde o início e ver o que ele se tornou. Nas edições de 2009 e 2010, trabalhei como editora e repórter”, afirmou.

Alavantu, educomunicação UFCG!

Milhares de paraibanos se informam diariamente através das notícias transmitidas pelo repórter da Tv Paraíba Felipe Valentim. A trajetória profissional dele começou aos 19 anos, quando estava matriculado no segundo semestre do curso de Educomunicação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e foi classificado na seleção do Repórter Junino. Felipe acabou sendo um dos responsáveis pelo ingresso de estudantes da UFCG no projeto de extensão, que até então era composto apenas por alunos da UEPB. 

“A parceria com a UFCG ocorreu a partir, inicialmente, da participação do aluno Felipe Valentim. Ele fez contato interessado em participar. Enviou material para seleção e foi aprovado. A partir do ano seguinte, estabelecemos essa parceria com a participação do professor Rosildo Brito e depois com o professor Diogo Lopes. De lá para cá, centenas de alunos já se integraram à equipe trazendo o olhar da educomunicação”, explicou o professor Fernando Firmino.

Felipe Valentim iniciou seu trabalho de reportagem audiovisual no Repórter Junino. A parceria com o curso de Educomunicação da UFCG se iniciou a partir da participação dele. Foto: arquivo Repórter Junino

De acordo com Felipe, ter contribuído para o estreitamento dos laços entre as duas instituições de ensino é motivo de orgulho e alegria. “Fico muito feliz em saber que, depois da minha participação, as duas universidades acabaram formando uma parceria e, desta forma, mais estudantes da UFCG puderam participar de um projeto que contribui de forma imensa para todos que passam por ele. Isso porque temos a oportunidade de vivenciar aquilo que foi estudado em sala de aula, além de entrevistar artistas e outras pessoas, e também falar sobre cultura de uma forma mais próxima. Tenho muito orgulho de dizer que fui um participante, que fui um voluntário do projeto Repórter Junino”, declarou o repórter.

A trajetória e o talento de Felipe Valentim servem de inspiração para jovens estudantes de comunicação que sonham em crescer na carreira. O repórter segue mostrando que, com muita força de vontade, empenho no trabalho e um pouco de ousadia, os sonhos podem ser realizados.

Do Repórter Junino para o Brasil, na CNN

Do Cariri paraibano às telinhas de milhões de brasileiros. Ao longo dos anos, o premiado jornalista Daniel Motta vem alcançando patamares muito significativos em sua carreira jornalística. Daniel trilhou os primeiros passos no Sistema Correio de Comunicação, na Paraíba. Em seguida, ganhou notoriedade ao ser contratado pela Tv Record, sediada em São Paulo. Recentemente, o paraibano entrou para o time da CNN Brasil, a versão brasileira do principal canal de notícias do mundo como produtor. Na TV Record foi um dos mais premiados internacionalmente com reportagens investigativas.

Daniel Motta é um dos jornalistas mais premiados no campo da reportagem investigativa. Atualmente trabalha na CNN Brasil, depois de atuar na Rede Record. Foto: divulgação

No auge do sucesso, Daniel olha para trás e reconhece que o Repórter Junino foi um importante pontapé inicial de uma longa trajetória jornalística. “Eu já estava prestes a concluir o curso e o projeto foi uma oportunidade muito rica por ser um dos meus primeiros contatos com uma estrutura de redação. Além do mais, o ambiente e a época são favoráveis ao engajamento de uma produção multimídia, pois temos tudo ao nosso dispor: boas e variadas pautas, boas histórias, bons personagens. E a interação com outros veículos na Vila da Imprensa também era muito interessante, porque eram profissionais do mercado, em que podíamos acompanhar e ver suas produções, seja de rádio, de tv ou de impresso”, compartilhou Daniel. 

A consolidação da carreira de Daniel é uma das provas do sucesso desses 15 anos de história do Repórter Junino. “O projeto sempre acrescentou muito na formação dos estudantes de comunicação e eu fui um desses estudantes que um dia teve essa oportunidade e que me ajudou, sem dúvidas, principalmente a encarar o começo da carreira. Este ano, completam-se 10 anos de minha participação no Repórter Junino”, finalizou.

Santo Antônio disse, São Pedro confirmou

Eis que o sonho timidamente iniciado na modesta cabine de imprensa montada no Parque do Povo se concretiza para tantos profissionais. Uma contribuição em forma de relatos, de voz para as comunidades e artistas, do olhar sensível voltado às manifestações culturais que não possuem espaço na grande mídia. No caso dos estudantes dos cursos de Jornalismo e Educomunicação, respectivamente, da UEPB e UFCG, trata-se de um verdadeiro laboratório de jornalismo, uma vez que possibilita a troca de experiências, a rotina de redação jornalística, além da liberdade editorial nas abordagens das pautas culturais.

Desse modo, ano após ano, o Repórter Junino se notabiliza como um grande difusor da cultura popular através do resgate das tradições e dos valores regionais. Além disso, o projeto reafirma sua posição de veículo de comunicação que promove a maior e mais completa cobertura jornalística dos festejos juninos no contexto da mídia local em plataformas digitais.

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