São João na Literatura: Religiosidade e expressões culturais juninas em prosa e poesia

Campina Grande, 23 de junho de 2023

Vários textos literários citam a importância cultural dos festejos juninos e da valorização das tradições nordestinas.

Repórter: Matheus Farias

Fotógrafo: Matheus Farias

Editora: Gabryele Martins


A literatura é uma forte expressão da cultura popular. Foto: Matheus Farias/Repórter Junino

‘’Quando ontem adormeci

Na noite de São João

Havia alegria e rumor

Estrondos de bombas luzes de Bengala

Vozes, cantigas e risos

Ao pé das fogueiras acesas’’

(Profundamente, Manuel Bandeira)

Os versos acima ilustram bem as memórias de muitas pessoas quando chega a época de São João. Dançar quadrilha, comer milho cozido e se reunir em torno da fogueira, são lembranças presentes no imaginário do povo e na literatura também.

Festa junina é um tema muito presente tanto na poesia como na prosa. Carlos Drummond de Andrade, por exemplo, tem em um de seus poemas mais famosos, ‘’Quadrilha’’, referências a essa manifestação cultural típica do Nordeste. Já o escritor alagoano Graciliano Ramos cita um tradicional festejo de São João na obra “São Bernardo’’, publicada em 1934: “ Nas noites de São João, uma fogueira enorme iluminava a casa de seu Ribeiro. Havia fogueiras diante das outras casas, mas a fogueira do major tinha muitas carradas de lenha. As moças e os rapazes andavam em redor dela, de braço dado. Assava-se milho verde nas brasas’’.


“São Bernardo” de Graciliano Ramos. Foto: Reprodução

A literatura infantojuvenil também trata desse tema, como a obra de Ruth Rocha “Almanaque’’, que cita brincadeiras, charadas e provérbios típicos da época junina. A professora de educação infantil Kércia Elaine diz a importância de trazer as características da festa de São João através das obras literárias para as crianças: “proporciona momentos de prazer, estimula o raciocínio, a criatividade e a imaginação.’’.

Escritores que residem em Campina Grande também citam as festas juninas em suas obras, provando que a Rainha da Borborema é também destaque na literatura. Jurani Clementino, por exemplo, publica crônicas nas redes sociais e muitas delas tratam de cultura popular e de aspectos ligados ao São João. Em um de seus textos, intitulado “Padrinhos de fogueira’’, ele cita uma tradição antiga do interior: “Com um pedaço de madeira que restou da fogueira de São João ou de São Pedro vi muita gente se tornar padrinho ou afilhado de alguém. Era um ritual simples e rápido. Pegava-se o tição, colocava-se no chão ali mesmo perto das cinzas da fogueira ou das chamas dela ainda acesa. O afilhado estendia a mão direita para o padrinho que também lhe oferecia a mesma mão direita. E cercando aquele pedaço de madeira estendido ao chão, repetiam uma espécie de oração ou ritual sagrado do batismo.’’.

Jurani afirma que seu objetivo ao escrever textos literários é de valorizar as expressões culturais populares: “Eu já falei sobre as rezadeiras, parteiras, vaqueiros e agricultores. Falei sobre quase todas as manifestações da cultura popular que conheço e o São João está presente em vários textos meus.’’.

As festas juninas estão nas danças , músicas e nos textos literários pois trazem um misto de sensações  como expressa o poema “Noite de São João” de Fernando Pessoa: 

“Noite de São João para além do muro do meu quintal.

do lado de cá, eu sem noite de São João.

Porque há São João onde festejam.

Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,

um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos,

e um grito casual de quem não sabe que eu existo.’’.

(Noite de São João, Fernando Pessoa)

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