Santanna: o filho de Juazeiro que representa a nação nordestina

Campina Grande, 30 de junho de 2023

Com orgulho, talento e muito carisma, o artista é um dos baluartes da cultura regional.

Repórter: Samya Amado

Fotógrafa: Gabryele Martins

Editora: Gabryele Martins


De olhos marejados, Santanna reafirmou como é ser nordestino. Foto: Gabryele Martins/Repórter Junino

Vindo de Juazeiro do Norte, no Ceará, Cícero Pereira de Souza, mais conhecido como Santanna o Cantador, é um dos maiores representantes da cultura nordestina. Nascido em ano bissexto, o artista se destaca pelas múltiplas habilidades e enorme simplicidade e simpatia. Do canto à poesia, sua arte é feita genuinamente das influências das raízes nordestinas: sua própria família, os aboios, os violeiros, a fé das rezadeiras e o canto das lavadeiras fazem parte da sua história.

Ainda jovem se tornou amigo do Rei do Baião, Luiz Gonzaga, que lhe deu ainda mais coragem para vestir-se de Nordeste e ser aquilo que ele é: a figura da força e voz de um povo, um representante da nação nordestina que bate no peito e se orgulha de todo o caminho trilhado até aqui.

Nos anos 2000, Santanna ficou ainda mais conhecido e sucessos como “Tamborete de Forró” e “Ana Maria” não saíram da boca do povo. Suas músicas ainda fazem parte do cotidiano do povo que ama o autêntico forró pé-de-serra e seguem sendo cantadas por diversos artistas que admiram profundamente a sua arte. 

No último dia 29, a Paraíba recebeu de braços abertos esse representante que enche de orgulho aqueles que diariamente constroem e preservam a cultura popular regional. Santanna trouxe ao Parque do Povo, na edição dos 40 anos d’O Maior São João do Mundo, toda a sua autenticidade e talento, mas com uma sensibilidade que só quem é nordestino sabe e tem! 

Fábio Costa (27), falou sobre sua relação com o artista: “Ele representa muito a nossa cultura e é um ícone aqui do Parque do Povo, me lembra muito a minha infância, as músicas são muito nostálgicas para mim e a festa sem ele não funcionaria.”. Ele contou ainda que a abertura dos festejos para outras vertentes musicais pode até ser interessante, mas corre o risco de descaracterizá-los: “Meio que perde a essência. Eu sei que o São João é uma festa democrática, mas deveria ser mais voltada para o forró e algo da nossa região Nordeste”.

Ao subir ao palco, Santanna fez questão de exaltar suas raízes e mostrou que valoriza quem está com ele na luta em não deixar a cultura popular morrer. Uma foto de Flávio José foi colocada no telão e o artista iniciou o show mandando um recado para o amigo: “Alô, Flávio José, aonde você estiver, receba o recado da nação paraibana que nesse momento é por mim representada…”, então, emocionado, ele cantou a música “Paraíba Jóia Rara” do cantor Ton Oliveira, música esta que em 2017 foi reconhecida como Patrimônio Imaterial da Paraíba, pelo peso do seu significado e por ter virado um hino entre os paraibanos, como fala o verso “Eu sou muito feliz! Eu sou paraibano.”. 

A bandeira da Paraíba foi projetada no telão e o público cantou junto a Santanna, que não segurou as lágrimas e levou toda a arena a se emocionar com ele. Um momento único e que vai ficar marcado para sempre na história do Maior São João do Mundo e nos corações dos paraibanos. Como bem disse o turista carioca Marco Souto (46): “Santanna representa não só o Nordeste, mas o forró autêntico e é um herdeiro da arte de Luiz Gonzaga.”.


Emocionado, Santanna fez todo mundo chorar ao som de “Paraíba Joia Rara”. Foto: Gabryele Martins/Repórter Junino

O artista falou ao Repórter Junino sua visão sobre a abertura no São João para outros ritmos: “Eu só acho assim: na sua casa o convidado não pode cagar com a porta do banheiro aberta, entendeu? O convidado é convidado e tem que ficar como tal. Nossa festa se tornou grande desse jeito porque ela é diferente e o que estão tentando, é fazer ela igual às outras! Se fizer isso, ela vai deixar de ter razão de existir.”. 

Ele explicou que nós só nos tornamos a maior festa brasileira porque nós somos diferentes e pontuou que o problema não são os artistas: “Nada contra artista nenhum. O artista tem seu trabalho em exposição, é um profissional ilibado, que sustenta muitas famílias, ele tem o seu trabalho exposto. Contrata quem quer!”. 

Santanna contou que o telefone só toca “de lá pra cá”, mostrando que o artista tem o seu trabalho exposto, mas o contrato quem escolhe são os gestores: “Deve haver um cuidado dos gestores em preservar a festa junina do jeito que ela é, porque se mudar pra festival… Cabou-se!”. 


Na coletiva, Santanna exaltou a cultura popular nordestina. Foto: Gabryele Martins/Repórter Junino

O cantor relembrou que a cidade do Maior São João do Mundo vive nesse período um momento de orgulho coletivo e deixou um pedido: “Campina quando faz a festa junina, parece que todo mundo se veste dessa festa. Respira isso. O que eu peço ao campinense é que trate bem o turista, pra que ele volte de novo.”. 

Santanna, que esteve no São João de Caruaru e é uma figura marcante para o povo pernambucano, deixou sua opinião sobre essa disputa entre as cidades para ver quem faz o melhor e maior São João: “Essa sadia concorrência entre Campina e Caruaru eu acho majestoso, porque cada um quer fazer melhor e isso deixa a gente muito feliz.”.

O show de Santanna atraiu um público de diversos lugares do Brasil e sua arte, embora cheia de influências, é muito singular.  Anita Sousa (58) veio de Salvador para curtir o show do artista no Parque do Povo: “Eu sou fã de Santanna porque ele não deixa a nossa raiz [nordestina] morrer.” Ela disse ainda que a preservação da nossa cultura só virá quando começarmos a valorizar os nossos: “Precisamos dar ênfase aos nossos artistas da terra, nenhum artista daqui sai pra fazer show lá em Barretos, por exemplo. Não é nada contra eles [música sertaneja], mas a gente tem que valorizar o que é nosso! Se a gente deixar isso morrer, o que vai ser da próxima geração?”.


Fãs vieram de diversos lugares para ver o show deste ícone. Foto: Gabryele Martins/Repórter Junino

O artista cantou os maiores sucessos da sua carreira e finalizou o show com músicas bem tradicionais do nosso São João nordestino, como “São João na Roça” de Luiz Gonzaga, seu amigo e inspiração. Santanna lembrou de Ariano Suassuna e falou ao público: “Eu me despeço de vocês com muito amor no coração. A cultura popular jamais vai morrer porque vocês não vão deixar!”. Emocionado, ele fez um pedido a cada fã: “Nunca deixe o brilho da nordestinidade dos olhos de vocês se apagarem.”. 

Luiz Gonzaga, que faz parte da história de Santanna, esteve mais uma vez presente na apresentação, dessa vez com a música “Olha Pro Céu”, um clássico cantado nas noites de São João no Parque do Povo por Elba Ramalho.

Santanna sabe que fez e faz história, a noite foi marcada por muitos sorrisos e lágrimas orgulhosas. A música “Paraíba Joia Rara” e um solo de sanfonas finalizaram a noite memorável no palco principal do Maior São João do Mundo, que chega aos últimos dias de apresentação.

Como bem disse o artista em sua apresentação: “Isso é o sentimento de nação! Eu posso ir embora da minha terra, mas minha terra não vai embora de mim nunca. Eu digo a vocês: eu me sinto muito honrado de ser nordestino!”. 

E nós, nordestinos, ficamos honrados com tamanha arte e amor à nossa cultura. Viva Santanna! Viva a cultura popular nordestina!

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