Teatro Municipal Severino Cabral recebe Encontros Petrobras de Música Armorial

Campina Grande, 3 de agosto de 2023

Repórter: Samya Amado

Fotógrafa: Débora Andrade

Editora: Gabryele Martins


Aula espetaculosa deu início ao Encontros Petrobras de Música Armorial. Débora Andrade/Repórter Junino

Em maio deste ano, a onça Caetana pousou no cartão postal de Campina Grande: o Açude Velho. A cidade foi escolhida para dar início ao ciclo de eventos que fazem parte da “Mostra Movimento Armorial 50”, que celebra o legado de Ariano Suassuna e o Movimento Armorial, fundado pelo mestre nos anos 70, que tem como missão criar uma arte erudita com raízes genuinamente nordestinas.

Nesse primeiro momento, o Museu de Arte Popular da Paraíba (MAPP) recebeu a exposição que conta com mais de 200 obras e transita entre artes plásticas, cordel, xilogravura, dança e música. Na última quarta-feira (2), o Teatro Municipal Severino Cabral foi palco da “Aula Espetaculosa – do Mendigo ao Pintor” regida por Manuel Dantas Suassuna, em homenagem ao pai dele, o paraibano fundador do Movimento Armorial, Ariano Suassuna.

A aula trouxe de Pernambuco a participação de Lais de Assis, que é Violeira, violonista, arranjadora, pesquisadora e arte-educadora e Isaar  França, que é cantora, compositora, percussionista e participou de diversas aulas-espetáculo junto à Ariano Suassuna. Ricardo Gouveia de Melo dividiu a mesa com Dantas e é o responsável pela editoração da obra de Ariano.  

Isaar e Lais deram início ao encontro interpretando uma canção Armorial, logo em seguida foi projetado em um telão a foto da casa que fez parte da infância de Dantas. O pintor contou a história da sua casa e mostrou ao público outras Ilumiaras que fazem parte da vida e obra de Ariano.  


Lais e Isaar mostraram ao público a magia do Armorial. Foto: Débora Andrade/Repórter Junino

Dantas explicou que “Ilumiara” foi um termo criado por Ariano para nomear aquilo que era sagrado, ele é associado tanto às artes nos lajedos, quanto aos outros conjuntos artísticos presentes no Movimento Armorial. 

Carlos Silva, 30, coreógrafo e bailarino paraibano, fala da importância desse evento para quem nunca teve contato com Suassuna e conhecia sua obra só de ouvir falar: “Ver essa aula promovida por Dantas me causou uma ebulição de sentimentos bons, me trouxe à memória a obra de Ariano e é maravilhoso ter isso aberto ao público, para que as novas gerações possam conhecer um pouco de como era a obra de Ariano e como é o Movimento Armorial.”

Dantas mostrou no telão muitos tipos de Ilumiaras, mas uma chamou atenção de Carlos: “Eu, particularmente, não conhecia a Ilumiara feita por pai e filho, achei interessantíssimo ver como ela foi feita. Essa inovação da arte é muito autêntica e essa paixão pela Paraíba é bonita de se ver.”

Tirando uma gargalhada do público, Manuel disse que de tantas coisas que ele poderia herdar do pai, ele herdou logo a voz. Ele explicou o nome do espetáculo, contando a história de quando, na infância, dizia que queria ser mendigo, fazendo a mãe ficar preocupada, enquanto o pai levava no bom humor. 

Ivaneide Nunes, 26, fala que ficou impactada logo que chegou ao Teatro Municipal: “Fiquei muito surpresa e emocionada pela semelhança da voz dele com a voz de Ariano Suassuna. Esse trabalho que ele tá fazendo é de tamanha importância por trazer à memória a aproximação da arte como também faz a gente conhecer mais esse talento que agora vem à tona na pessoa do filho dele (Dantas). Eu amei muito esse formato da aula espetaculosa.”.


Dantas e Ricardo falaram sobre o movimento e seus desdobramentos na Cultura Popular. Débora Andrade/Repórter Junino

Manuel emocionou o público ao compartilhar suas memórias de encontros com Ariano. Ele contou que o pai o convocou para uma reunião onde seria decidido o que deveriam fazer após sua partida: “Então passamos a falar sobre o que seria feito após a ida dele e como seria a editoração dos livros, trazer tudo pra uma editora só. Eu e Ricardo estamos fazendo isso dessa forma”, disse.

Ele conta ainda sobre a exposição “Fragmentária: O Silêncio, o Caos, o Labirinto, o Altar” que tinha uma parte dedicada à Ariano, um altar místico, rítmico, literário, nordestino, onde Ariano fazia parte da tríade que representa essa arte junto de Euclydes da Cunha e João Guimarães Rosa. 

Manuel contou que antes de levar o pai à exposição ele precisou se ausentar e combinou que voltaria para levá-lo: “Eu tô indo em uma viagem e quando eu voltar a gente vai juntos ver a exposição… Mas aí aconteceu o encantamento dele e ele não viu a exposição.”.

Entre uma fala e outra de Dantas, o público também pôde conhecer um pouco mais da música armorial e ver mais uma faceta do seu pai, quando a canção “São os do Norte que vem” foi interpretada por Isaar e Lais. A música é de Capiba e Ariano Suassuna. 

Aladim Monteiro, 49, natural de Caicó – RN, contou que achou o espetáculo maravilhoso: “Eu fiquei muito feliz, eu conheci [Dantas] há pouco tempo na abertura da Mostra que teve no Museu, mas já tive contato com a obra de Ariano na infância e adolescência. Foi aqui na Paraíba que eu tive um contato maior e tive o prazer de fotografar a peça “As Conchambranças de Quaderna”, que é uma peça de Ariano. Ela foi montada por uma companhia do Rio de Janeiro, mas com atores paraibanos.” Aladim falou da força da obra do mestre do Movimento Armorial: “Ariano Suassuna, pra mim, é um gigantesco! Dantas também tem um trabalho maravilhoso e eu tô muito feliz de Campina Grande estar com esse espetáculo, essa aula, que é uma extensão da exposição.”

Manuel contou como ele iniciou sua trajetória na arte: “Eu comecei a me interessar por arte e comecei a ser pintor. Eu tive uma preocupação de ter um afastamento do meu pai. Após o encantamento dele, eu achava que a obra dele pertencia a ele e não a mim, diferentemente dos outros artistas.”

Ele explicou que isso não quer dizer que ele é melhor que ninguém, mas que foi necessário para o seu desenvolvimento como artista: “Teve gente que se aproximou dele pra criar a sua identidade artística, uma aproximação artística com meu pai, mas eu achava que eu devia me afastar para poder criar a minha própria identidade.”

Dantas disse ainda que mesmo criando a sua própria identidade na arte, chegou um momento em que ele precisou voltar às raízes: “Com o encantamento dele eu tive que me debruçar na obra dele para poder a gente manter a chama acesa.”

O artista contou a relação da aula-espetáculo com a aula espetaculosa e emocionou quem estava na plateia: “Ele criou nas aulas-espetáculo “O Circo da Onça Malhada” que era como ele chamava a trupe dele, que Isaar fez parte. Eu, de certa maneira, estou levando adiante este circo com essa “Aula Espetaculosa – do Mendigo ao Pintor” e eu continuo aquele menino que os pais um dia enxergaram um certo talento.”

A canção “Excelência”, Dantas dedicou à Zélia e Ariano e o público foi, mais uma vez, envolvido pela magia da música armorial. Nessa despedida da aula espetaculosa a plateia sentiu não só a força, mas o amor que existe na sua arte.


Lais, Isaar, Dantas e Ricardo abrilhantaram a primeira noite de evento no Teatro Municipal. Débora Andrade/Repórter Junino

Essa é uma oportunidade única para quem quer mergulhar no movimento armorial, pois são encontros permeados de muita música, história, manifestações artísticas, afetos e memória. A entrada é gratuita e a programação segue até o dia 6 de agosto.

Nesta quinta-feira (3), o público poderá assistir ao espetáculo cênico “A mãe essência” que traz o repertório inspirado na música e na estética armorial criada por Antonio Madureira. A cantora Leticia Torança estará acompanhada do Grupo Aralume. 

Letícia dividirá o palco com Francisco Andrade (no violão e na viola brasileira), Renan Rezende, (flauta transversal), Ícaro Fernandes (violoncelo) e participação do percussionista Tarcísio Almeida!

SERVIÇO

ENCONTROS PETROBRAS DE MÚSICA ARMORIAL

Quando: de 02 a 06 de agosto

Onde: Teatro Municipal Severino Cabral

Horário: 19h

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